Um encontro potente e cheio de sentido reuniu, na noite de terça-feira, 5 de agosto, 23 mulheres negras lideranças da Igreja Católica no Brasil. O objetivo era viver um momento profundo de partilha, espiritualidade e cuidado mútuo. Com a proposta de “Aquilombar na Fé”, o encontro buscou criar um espaço seguro de convivência, mística e incidência, comprometido com a dignidade, a visibilidade e a resistência das mulheres negras nas estruturas eclesiais.
A atividade foi mobilizada por Ir. Regina da Costa Pedro, diretora nacional das Pontifícias Obras Missionárias (POM), e Janaina Santos, do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM). O momento de espiritualidade foi conduzido por Ir. Regina, que trouxe à luz a figura bíblica da mulher cananeia, estrangeira, insistente, resiliente, que desafia as barreiras impostas por sua origem e por seu gênero ao clamar por cura para sua filha. A leitura feita por Regina abriu caminho para que todas as presentes se reconhecessem, também, como mulheres negras que resistem à margem, que interpelam estruturas e que se tornam sujeito da fé e da ação pastoral.
A partir dessa inspiração bíblica, o encontro foi se tornando cada vez mais um espaço de cuidado, libertação e escuta sensível. Mulheres que atuam em diversas instâncias da Igreja — na base, em cargos de liderança, na vida religiosa, na catequese, na assessoria teológica e na comunicação pastoral — partilharam experiências de dor e de força, de silenciamento e de reexistência nos espaços eclesiais.
Honrando o caminho das que vieram antes e com a consciência de que outras abriram passagem para que pudessem estar onde estão, as participantes evocaram palavras e expressões que, como em uma ladainha ancestral, deram forma a um novo jeito de ser Igreja. A expressão “Aquilombar na Fé” resumiu o espírito do grupo, que deseja ser um espaço de aconchego, escuta acolhedora, fé e cuidado coletivo.
O momento, mais do que um encontro, foi um espaço de cuidado e resistência. Um quilombo de fé construído por mulheres negras que se reconhecem como parte do povo de Deus e que não aceitam mais ser invisibilizadas ou silenciadas.
A noite terminou com uma oração coletiva, não apenas dirigida ao alto, mas costurada entre os corpos, as vozes, os afetos. Uma oração feita de presença, de escuta e de decisão: seguir aquilombando, seguir fazendo da fé um lugar de liberdade e justiça, sem deixar nenhuma mulher negra para trás.
Fonte: Pontifícias Obras Missionárias