Em um ambiente de profunda espiritualidade e escuta mútua, os dois últimos dias do ‘Encontro de Bispos da Amazônia’, realizado em Bogotá, Colômbia, de 17 a 20/8, os bispos e líderes eclesiais de diversos países amazônicos se reuniram para fortalecer a unidade, a amizade e o compromisso com a região e seus povos.
A terça-feira foi centrada na “Conversa no Espírito”, uma dinâmica que permitiu aos participantes discernir a missão da Conferência Eclesial da Amazônia – Ceama, sob a luz do Espírito Santo. Os trabalhos foram divididos em 12 grupos, organizados por países e idiomas, com a participação de representantes de diversas instituições, como o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, as conferências episcopais dos países amazônicos, a Cáritas e a Rede Eclesial Pan-Amazônica – Repam.
A metodologia da jornada se desenvolveu em três momentos do “eu” para o “tu”, em diálogo com os demais, e, finalmente, para o “nós”, construindo juntos os frutos do discernimento do Ver, Ouvir, Discernir e Agir. Esse processo foi valorizado como um exercício de sinodalidade, onde se buscou escutar os movimentos do Espírito em cada voz.
A memória do Cardeal Claudio Hummes e as palavras do Papa Francisco através de vários documentos como ‘Laudate Deum’, ‘Laudato Si’ e ‘Querida amazônia’, que chamou ao transbordamento do Espírito frente à complexidade dos conflitos amazônicos, iluminaram a reflexão dos participantes.
Na tarde de ontem os relatores dos grupos apresentaram os resultados da conversa, destacando a importância da Conferência Eclesial da Amazônia – Ceama como um organismo de comunhão a serviço dos povos da Amazônia, fazendo com que os bispos tomassem conhecimento do trabalho realizado.
“A Igreja da Amazônia está se organizando para colocar em prática as sugestões do Sínodo. Estamos participando de um grande encontro de todos os bispos da Amazônia, não só do Brasil, mas de todos os outros oito países também. E assim, discutindo como podemos fazer ações mais em conjunto para que a nossa Igreja da Amazônia caminhe, conforme está sendo dito no caminho se sinodal, todos juntos, buscando implantar e ajudar no crescimento do Reino de Deus, proclamando a Palavra, ajudando os mais frágeis e para que tenhamos um futuro melhor”, disse Dom WilmarSantin, bispo da Prelazia de Itaituba.
A memória dos mártires da Amazônia, também esteve presente, inspirando os participantes a renovar seu compromisso com a defesa da vida e da Casa Comum, e fazendo memória as suas histórias de vida e luta pelo povo amazônico, e suas falas que continuam ecoando até hoje.
Chico Mendes – Brasil “Os seringueiros, os índios, os ribeirinhos, levam mais de 100 anos ocupando a selva. Nunca a ameaçaram. Quem a ameaça, são os projetos agrícolas, os grandes madeireiros, e as hidrelétricas com suas criminosas inundações.”; Irmã Dorothy Stang – Brasil “A morte da floresta é o fim da nossa vida.”; NicolasaNosa – Bolívia “Não os denunciarei. Prefiro morrer sob o chicote.”; Padre Alcides Jiménez – Colômbia “Não basta viver em uma comunidade para ser parte dela, é necessário sentir seus problemas e participar ativamente em sua solução.”; Dom Alejandro Labaka – Equador “Cristo faz ressaltar minha fraqueza para que a força de suas ações brilhe mais em meus irmãos Waorani.”; Irmã Inés Arango – Equador “Se eu morrer, vou feliz, oxalá ninguém saiba nada de mim, não busco fama nem nome, Deus o sabe, sempre com todos.”; Beata María Agustina Rivas (Aguchita) – Peru “A morte não se improvisa, o amor é nossa vocação.” e Irmão Vicente Cañas, SJ (Kiwxi) – Brasil “Não te surpreendas se um dia me encontrares morto”.
Para Dom Ionilton Lisboa, bispo da Prelazia do Marajó, a Celebração Eucarística em memória aos mártires da Amazônia foi um momento muito significativo e emocionante “a celebração presidida pelo Cardeal Michael Czerny, do Dicastério de Promoção Humana do Vaticano, foi um momento muito forte. Tivemos a memória dos mártires da Amazônia, uma celebração belíssima onde os nomes desses mártires entraram no início e permaneceram conosco. As preces, os cantos, tudo nos lembrou o martírio e a homilia enfatizou a questão dos mártires como testemunhas da fé. A memória deles nos ajuda a crescer na consciência de que também nós, a partir do batismo, somos testemunhas de Jesus Cristo. Concluímos a celebração com a memória de um bispo e uma religiosa, mártires da Amazônia, declarados servos de Deus pelo Papa Leão XIV. Foi uma experiência rica, e quero lembrar que a Irmã Dorothy agora faz parte dessa lista de mártires da Amazônia, que foram lembrados aqui”, disse o bispo do Marajó.
Dom Raimundo Possidônio, bispo de Bragança, refletiu sobre o significado do encontro à luz do Sínodo da Amazônia “durante o Sínodo, os bispos da Amazônia solicitaram a criação de uma instituição voltada para a região, como uma Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, da Amazônia. Logo após, o Papa Francisco aprovou a Conferência Eclesial da Amazônia, que não é episcopal. Nosso trabalho hoje foi redescobrir o sentido dessa entidade e como podemos, como conferência eclesial, contribuir e acompanhar as igrejas locais para responder aos desafios pastorais da Amazônia. A Assembleia dos Bispos foi dividida em grupos para discutir essas questões, resultando em um trabalho participativo. Na plenária, os relatores apresentaram propostas concretas sobre o papel e a missão da conferência. Terminamos o dia com uma melhor compreensão dessa entidade e nos comprometemos a divulgá-la em nossas bases, paróquias e comunidades, para uma maior integração das igrejas particulares. Essa conferência unirá forças para encaminhar melhores trabalhos na missão da Igreja na Amazônia. O dia terminou com uma bela cerimônia, e o método utilizado buscou pensar e discutir todas essas questões”, contou o bispo de Bragança.
Sobre o último dia do encontro, nesta quarta-feira, Dom Irineu Roman, presidente do Regional Norte 2 da CNBB e Arcebispo na Arquidiocese de Santarém, compartilhou suas impressões. “Estamos aqui reunidos, com bispos de diversos países amazônicos, incluindo muitos representantes brasileiros, além de presbíteros, leigos, religiosas e religiosos. Trabalhamos a questão da Conferência Episcopal da Amazônia e a sinodalidade, em um tempo de escuta, diálogo, busca, unidade e comunhão. Foi uma experiência maravilhosa, um encontro com tantas diferenças e ideias que nos deixa um legado. Trabalhamos também a questão socioambiental”, contou o presidente do Regional Norte 2 no Pará e Amapá.
Dom Antônio de Assis Ribeiro, bispo da Diocese de Macapá e secretário do Regional Norte 2, refletiu sobre o papel da Igreja na Amazônia discutido ao longo desses quatro dias em Bogotá “não se tratou apenas de uma questão ecológica, mas sim de promoção humana. A Igreja atua na Amazônia em meio a um contexto maravilhoso de vida, povos, culturas e nações, mas também enfrenta problemas como a devastação florestal, a questão mineral, a pobreza e desafios pastorais, como a carência de sacerdotes, a questão vocacional, o protagonismo dos leigos e a importância da presença da mulher na catequese. Todos esses assuntos e desafios foram abordados aqui [no Encontro do Bispos da Amazônia], tanto na plenária quanto nos grupos. Saímos daqui felizes, sabendo que a Igreja Católica na Amazônia é significativa e quer cada vez mais abraçar o compromisso de Jesus ‘Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância’. Que possamos crescer na sinodalidade, na comunhão e na ação conjunta em todas as nossas igrejas, lutando pela promoção do Reino de Deus nesta nossa querida Amazônia”, disse o secretário do Regional Norte 2 no Pará e Amapá.
Dom Paulo, bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belém, falou sobre a sinodalidade ao final do encontro ‘participamos de um momento muito importante, com mais de 100 bispos representando toda a Amazônia e seus países. Foi um momento de sinodalidade onde reafirmamos o valor de dar continuidade ao Sínodo para a Amazônia. Os ritos da Amazônia ganharam destaque, e ficou claro como, enquanto Igreja, podemos realizar muito mais estando juntos. Este é o nosso compromisso, e contamos com a participação de toda a Igreja para que isso se concretize”.
O encontro encerrou com uma plenária onde foi aprovada uma declaração do encontro, um documento prévio que será aprovado pelos bispos. Ao final da manhã foi realizada uma missa na Catedral Primaz da Colômbia, conhecida como a Catedral Queimada da Colômbia, presidida pelo Cardeal Luiz José Rueda, Arcebispo de Bogotá.
Abaixo a lista dos bispos, por país, que participaram do Encontro dos Bispos da Amazônia:
Perú
- Monseñor. Miguel ÁngelCadenas, O.S.A. – Vic. Iquitos
- Monseñor. Alfredo Vizcarra, SJ – Vic.Jaén
- Monseñor. Augusto Quijano, S.D.B. – Vic. Pucallpa
- Monseñor. David Martínez de Aguirre, O.P. – Vic. Puerto Maldonado
Bolivia
- Monseñor. Juan Carlos Huaygua, O.P – Dioc. Coroico
- Monseñor. Robert Flock – Dioc. San Ignacio de Velasco
- Monseñor. Juan Gómez – Arq. Santa Cruz
- Monseñor. Eugenio Coter – Vic.Pando/Reyes
Ecuador
- Monseñor. José Adalberto Jiménez, OFM Cap. – Vic. Aguarico
- Monseñor. JesúsEstebanSádaba, O.F.M.Cap.- Vic. Aguarico
- Monseñor. NéstorMontesdeoca, S.D.B. – Vic. Méndez
- Monseñor. CelmoLazzari C.S.I – Vicariato Apostólico de Napo
- Monseñor. Rafael Cob García – Vic. Puyo
- Monseñor. Moacir Goulart de Figueredo – Vic. San Miguel de Sucumbíos
Colombia
- Monseñor. Omar de JesúsMejía – Arq. Florencia
- Monseñor. Misael Vacca – Arq.Villavicencio
- Monseñor. Jorge Enrique Malpica – Dioc. Granada
- Padre Luis Fernando Carvajal – Diócesis de Mocoa-Sibundoy
- Padre Edgar Lievano – Dioc. San José delGuaviare
- Monseñor. William Prieto – Dioc. San Vicente delCaguán
- Padre JeisonSalguero – Dioc. Yopal
- Monseñor. Joselito Carreño, M.X.Y. – Vic. Inírida
- Monseñor. José de JesúsQuintero –Vic. Leticia
- Monseñor. Medardo de JesúsHenao, M.X.Y.Vic. Mitú
- Monseñor. Álvaro Mon Pérez, CssR – Vic. Puerto Carreño
- Monseñor. RaúlCarrillo, CssR – Vic. Puerto Gaitán
- Monseñor. JoaquínPinzón, I.M.C. – Vic. Puerto Leguízamo-Solano
Venezuela
- Padre Ronny García – Dioc. Guasdualito
- Monseñor. Pablo Modesto González – Dioc. Guasdualito
- Monseñor. Gonzalo Ontiveros – Vic. Caroní
- Monseñor. Ernesto José Romero, OFM Cap. – Vic. Tucupita
- Monseñor. José Manuel Romero – Dioc. El Tigre
- Monseñor. Alfredo Torres – Dioc. San Fernando de Apure
Guyana
- Bishop Francis Dean Alleyne, O.S.B. – Dioc. Georgetown
Suriname
- Bishop KarelChoennie – Dioc. Paramaribo
Guyana Francesa
- Bishop Alain René Ransay – Dioc. Cayenne
Brasil
- Cardeal. Leonardo Ulrich Steiner, OFM – Arq. Manaus
- Dom Adolfo Zon Pereira, S.X. – Dioc. Alto Solimões
- Dom Adriano Ciocca Vassino – Dioc. Tocantinópolis
- Dom Antônio de Assis Ribeiro, SDB – Dioc. Macapá – Regional Norte 2
- Dom Antônio Fontinele de Melo – Dioc. Humaitá
- Dom Armando Martín Gutiérrez, FAM – Dioc. Bacabal
- Dom Benedito Araújo – Diocc. Guajará-Mirim
- Dom Bernardo Bahlmann, OFM – Dioc. Óbidos – Regional Norte 2
- Dom Carlo Verzeletti – Dioc. Castanhal – Regional Norte 2
- Dom Carlos Henrique Silva – Dioc. Tocantinópolis
- Dom Dominique Marie Jean Denis You – Dioc. Santíssima Conceição do Araguaia
- Dom Edson Tasquetto Damian – Dioc. São Gabriel da Cachoeira
- Dom Evaldo Carvalho dos Santos, CM – Dioc. Viana
- Dom Evaristo Pascoal – Dioc. Roraima
- Dom Flávio Giovenale, SDB – Dioc. Cruzeiro do Sul
- Dom Francisco Lima Soares – Dioc. Carolina
- Dom Gilberto Pastana de Oliveira – Arq. São Luiz do Maranhão
- Dom Giovane Pereira de Melo – Dioc. Araguaína
- Dom Giuseppe Spiga – Dioc. Grajaú
- Dom Irineu Roman, CSJ – Arq. Santarém – Regional Norte 2
- Dom Ivanildo Oliveira Almeida – Dioc. Cametá – Regional Norte 2
- Dom JesúsMaría López, OAR – Pre. Alto Xingu-Tucumã – Regional Norte 2
- Dom João Muniz Alves, OFM – Dioc. Xingu-Altamira – Regional Norte 2
- Dom Joaquim Hudson de Souza – Arq. Manaus
- Dom José Albuquerque de Araújo – Dioc. Parintins
- Dom José Lisboa de Oliveira, S.D.V. – Pre. Marajó – Regional Norte 2
- Dom José Maria Chaves – Dioc. Abaetetuba – Regional Norte 2
- Dom Júlio Endi Akamine, SAC – Arq. Belém – Regional Norte 2
- Dom Lucio Nicoletto – Pre. São Félix do Araguaia
- Dom Marcos Marian Piatek, CSsR – Dioc. Coari
- Dom Mário Antônio da Silva – Arq. Cuiabá
- Dom Neri José Tondello – Dioc. Juína
- Dom Paolo Andreolli, SX – Arq. Belém – Regional Norte 2
- Dom Pedro Brito Guimarães – Arq. Palmas
- Dom Philip Royer Dickmans – Dioc. Miracema do Tocantins
- Dom Raimundo Carrera da Mata – Dioc. Bragança do Pará – Regional Norte 2
- Dom Raimundo Vanthuy Neto – Dioc. São Gabriel da Cachoeira
- Dom Roque Paloschi – Arq. Porto Velho
- Dom Samuel Ferreira de Lima, OFM – Arq. Manaus
- Dom Sebastião Bandeira Coêlho – Dioc. Coroatá
- Dom Sebastião Lima Duarte – Dioc. Caxias do Maranhão
- Dom Valentim Fagundes de Meneses, MSC – Dioc. Balsas
- Dom Vilsom Basso, SCJ – Dioc. Imperatriz
- Dom Vital Corbellini – Dioc. Marabá – Regional Norte 2
- Dom Wellington de Queiroz Vieira – Dioc. Cristalândia
- Dom Wilmar Santin, O. Carm. – Pre. Itaituba – Regional Norte 2
- Dom Zenildo Luiz Pereira, CSSR – Dioc. Borba
Fonte: Regional Norte 2 / por Vívian Marler