Durante a Celebração Eucarística de encerramento do ‘Encontro dos Bispos da Amazônia’, que aconteceu em Bogotá, na Colômbia, de 17 a 21/8, o Cardeal Pedro Barreto Jimeno, presidente da CEAMA, convocou os bispos a uma renovada ação evangelizadora e à promoção da sinodalidade na região, ecoando os gritos da terra e dos pobres.
O encontro, que reuniu mais de 75 jurisdições eclesiásticas, reafirmou o compromisso da Igreja com os povos originários, camponeses e a missão evangelizadora na Amazônia.
Na Basílica Catedral de Bogotá, o Cardeal Pedro Barreto Jimeno conduziu a homilia de encerramento do primeiro Encontro dos Bispos da Amazônia, promovido pela Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA. Em um discurso inspirador, o Cardeal Barreto ressaltou a importância de escutar, discernir e compartilhar no caminhar conjunto como pastores na Amazônia.
O Cardeal destacou a necessidade de responder aos desafios socio pastorais do Bioma Amazônico com renovado vigor, anunciando o Evangelho e promovendo a sinodalidade. Ele enfatizou o compromisso da Igreja em caminhar ao lado dos povos originários, camponeses, afrodescendentes e ribeirinhos, reafirmando a missão evangelizadora em meio às complexidades da região.
“Escutamos o grito da terra e o grito dos pobres, compartilhamos o que o Espírito Santo nos comunicou. Sentimo-nos encorajados a anunciar o Evangelho com renovado vigor e responder, de maneira adequada, aos grandes desafios socio pastorais que se nos apresentam no Bioma Amazônico”, afirmou o Cardeal Barreto.
Abaixo a homilia, na integra, com tradução livre do espanhol.
HOMILIA
CARDEAL PEDRO BARRETO JIMENO, S.J. | PRESIDENTE DA CEAMA
QUARTA-FEIRA, 20 DE AGOSTO DE 2025
“Queridos irmãos e irmãs:
Com o coração agradecido e cheios de esperança, reunimo-nos aqui, na Basílica Catedral de Bogotá e Primaz da Colômbia. Concluímos hoje o primeiro Encontro dos Bispos da “Querida Amazônia”, convocados pela presidência da Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA.
Resumo em três verbos o que fizemos nestes dias: escutar, discernir e compartilhar em nosso caminhar juntos, como pastores das Igrejas Particulares que peregrinam na Amazônia. Escutamos “o grito da terra e o grito dos pobres”, compartilhamos o que o Espírito Santo nos comunicou. Sentimo-nos encorajados a anunciar o Evangelho com renovado vigor e responder, de maneira adequada, aos grandes desafios sócio pastorais que se nos apresentam no Bioma Amazônico.
São dois os motivos principais que nos convocam para a celebração desta Eucaristia:
1° Agradecer a Deus e a todos os que tornaram possível esta bela experiência de colegialidade e fraternidade episcopal. As mais de 75 Jurisdições Eclesiásticas da Amazônia, representadas aqui por seus pastores, agradecem a sua Eminência Cardeal Luis José Rueda, a seus Bispos Auxiliares e Vigários Episcopais por sua fraterna acolhida.
Vocês, queridos irmãos no Episcopado, têm em seus corações muitos nomes, com histórias de fé e de sofrimento; de angústias e esperanças. Vocês são testemunhas do abandono que vivem numerosos irmãos, mas também de sua força espiritual.
Neste histórico Encontro, ampliamos a consciência da identidade própria da Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA, tal como se indica no artigo 1 do Estatuto: “como um organismo da Igreja Católica erigido pela Santa Sé com personalidade jurídica canônica e pública”.
2° Para oferecer ao Senhor nosso compromisso de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, de promover a sinodalidade e seguir caminhando juntos com os povos originários, camponeses, afrodescendentes, ribeirinhos, daqueles irmãos e irmãs indígenas que vivem nas cidades.
Neste contexto, o anúncio do Evangelho é nossa missão como Igreja. Assim o afirma São Paulo VI: “A Igreja nasce da ação evangelizadora de Jesus e dos Doze. É um fruto normal, desejado, o mais imediato e o mais visível “Ide, pois, ensinai a todas as gentes” (Mateus 28,19-20)… Em uma palavra, isto quer dizer que a Igreja sempre tem necessidade de ser evangelizada, se quiser conservar seu frescor, seu impulso e sua força para anunciar o Evangelho (EN 15).
Agora bem, o anúncio do Evangelho necessita uma organização, estruturas compostas de pessoas que tenham um perfil de honestidade, de espiritualidade sinodal e de um compromisso cristão de realizar a missão evangelizadora através de sacerdotes, religiosas e leigos.
Para isso, a primeira leitura do livro de Juízes nos ajuda a discernir e a tomar decisões para escolher, segundo a vontade de Deus, pessoas capazes, honestas, decididas a seguir a Jesus para servir desinteressadamente aos demais.
A este propósito, o livro de Juízes nos diz que Abimelec, após a morte de seu pai, autoproclamou-se rei em Siquém com o apoio do povo. Para isso, mandou matar seus irmãos, e um deles, Jotão, escapou, pensando neles, e nos compartilha esta parábola: as árvores (os moradores) procuram um rei e pedem à oliveira, à figueira, à videira que deem fruto. Diante da recusa delas, pedem à sarça (que representa Abimelec) que reine sobre eles. Uma decisão equivocada porque escolhem os espinhos que não dão fruto e se queimam. Um forte chamado a escolher as pessoas e decidir segundo o Espírito de Deus. É um chamado a viver a espiritualidade sinodal que reflete e discerne para atuar como “peregrinos de esperança” para que, centrados em Cristo, atuemos com a convicção de que outro mundo e outra Amazônia são possíveis para o bem da humanidade.
Por sua vez, a parábola do Evangelho de Mateus mostra a generosidade e a justiça de Deus, contrastando com as expectativas humanas de justiça. Deus, por sua grande bondade, convida-nos a trabalhar em sua vinha. Chama-nos a compartilhar com Ele sua missão na Igreja, onde quer que nos envie. Não importa quando tenhamos começado a trabalhar. A todos dará a recompensa de estar para sempre com Ele, porque nos disse: “Eu estarei com vocês todos os dias até o fim do mundo” (Mateus 28,20). Com esta segurança, com nosso testemunho da espiritualidade sinodal para escutar, discernir juntos a vontade de Deus, o que Lhe agrada.
Se agirmos assim, Deus nos abençoará com novas vocações de serviço no seguimento de Cristo. Esta é a hora de viver este Kairós sinodal com a parresia que brota incontível do Sangue de Cristo e dos numerosos mártires da humanidade e da Amazônia. Não nos deixemos roubar a esperança! “Vençamos o mal à força de fazer o bem!” (Romanos 12,21).
É hora de convocar outros irmãos e irmãs na fé e pessoas de boa vontade para responder ao desafio de “viver juntos, misturar-se, encontrar-se, apoiar-se, participar desta onda um tanto caótica [de redes e outros instrumentos de comunicação humana] que pode transformar-se em uma verdadeira experiência de fraternidade, uma caravana de solidariedade, uma peregrinação sagrada. Assim, as maiores possibilidades de comunicação traduzir-se-ão em novas oportunidades de encontro e solidariedade entre todos. Que belo, saudável, libertador e esperançoso seria se pudéssemos seguir este caminho! Sair de nós mesmos para unir-se com os demais é bom” (Exort. ap. EvangeliiGaudium, 87).
O anúncio do Evangelho precisa organizar-se em estruturas (em comunidade, em Igreja, como a CEAMA articulada à REPAM, REIBA e PUAM) para que os organismos eclesiais acompanhem e sirvam ao Povo de Deus. Por isso, a Igreja com rosto amazônico anuncia Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, desde a Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA acompanha e serve às Igrejas Particulares em sua missão evangelizadora. O anúncio, a organização e o compromisso eclesial devem ser acompanhados de um verdadeiro encontro: não podemos viver sozinhos, como ilhas no meio de um Bioma, como é a Amazônia; não podemos fechar-nos em nós mesmos; porque seremos como a sarça que se destrói; devemos amar e ser amados; precisamos de ternura, a ternura de Jesus, nosso Bom Pastor, que nos chama a participar de sua missão, não por nossos méritos nem pelo tempo que estamos em seu rebanho, mas por sua bondade e misericórdia.
Pedimos a Maria, Rainha da Amazônia, que fortaleça nosso caminhar eclesial no Bioma Amazônico e abençoe a Igreja que peregrina na Colômbia com a paz e a justiça”.
Fonte: Regional Norte 2 / Por Vívian Marler