Dom Julio Endi Akamine, SAC – Arcebispo Metropolitano de Belém
A relação de consumo tem evoluído significativamente. Muitos consumidores estão atentos à certificação da qualidade do produto, do respeito ao meio ambiente e à segurança dos trabalhadores envolvidos nos processos de produção e comercialização. De sua parte, as empresas se empenham em obter tais certificações que lhes conferem a confiança dos compradores, vantagem competitiva e abertura de mercados.
Mudando o que deve ser mudado, podemos nos perguntar se há uma forma de certificação cristã do amor. Haveria um tipo de selo de qualidade que demonstre a autenticidade cristã do amor?
Encontramos no Evangelho um episódio significativo (Lc14,1.7-14).
Quando Jesus entrou na casa do fariseu, as pessoas estavam observando com atenção o seu comportamento. Na realidade, Jesus também observa as pessoas e escruta os seus corações: o homem vê a aparência, Deus vê o coração.
Jesus nos ensina que ocupar o último lugaré ser humilde diante de Deus: nele confiar a vida, nele ter o tesouro, nele confiar o próprio presente e futuro. Ocupar o último lugar significa também viver a fraternidade: não ser indiferente aos sofrimentos dos irmãos, intuir as suas necessidades e cuidar dos mais necessitados. Ocupar o último lugar consiste em gastar a vida ao serviço dos outros.
Jesus observou como os convidados disputavam os primeiros lugares no banquete. Ele se aproveita disso para propor a nós um outro comportamento. Preste atenção: trata-se de um comportamento de vida e não um comportamento de boas maneiras ou de cálculo.
Foi assim que Jesus viveu. Ele é o “convidado” mais importante do mundo. Ele “desceu do céu”, esvaziou-se de sua igualdade com Deus e nasceu da Virgem Maria num estábulo de animais porque não havia lugar para ele na hospedaria. Depois de pregar o Reino, foi morto na cruz e abandonado pelos seus. Terminou seus dias aqui na terra como um amaldiçoado por Deus. Jesus, porém, foi exaltado na ressurreição. Assim Deus faz do último o primeiro. De fato, Jesus ocupou o último lugar aqui na terra: Ele serviu, não foi servido; entregou a sua vida aos mais pobres, sacrificou-a pela nossa salvação. Porque ocupou o último lugar, Jesus foi exaltado e se tornou o primeiro de todos os irmãos.
Jesus se dirige também ao dono da casa. Agora ele não fala mais a partir do ponto de vista de quem é convidado, mas de quem convida. De novo propõe um novo comportamento fundado no comportamento de Deus.
Há um comportamento interesseiro: convidar quem pode me retribuir.
Há um comportamento generosocomo o de Deus: convidar os pobres que não podem retribuir e o inimigo que não quer.
A conclusão é surpreendente: aquele que não busca recompensa é o que receberá a maior. De novo, não se trata de cálculo, mas de se comportar como Deus, de viver como o Pai, de amar gratuitamente.
Se desejamos que o nosso amor seja semelhante ao de Deus e realmente cristão, devemos verificar se amamos os pobres e os inimigos. Nisso está o teste de qualidade do amor. Este é o selo de qualidade: é o amor aos pobres – que não podem retribuir – e aos inimigos – que não querem retribuir – que certifica a autenticidade cristã do amor.