Por Monsenhor Ronaldo Menezes – Vice-presidente da Rede Nazaré de Comunicação
Pessoas amigas me dizem que acordam de madrugada para rezar a Quaresma de São Miguel, o Santo Rosário e outras devoções. É admirável essa corrente de oração! Por isso, continuo o assunto da semana passada sobre a devoção a São Miguel Arcanjo, que o profeta Daniel chama de “um dos primeiros Príncipes” (10,13). Em sua pequenina Carta, São Judas nos exorta a combater em defesa da fé contra os sucessores dos anjos maus, expulsos do Paraíso pelas mãos de São Miguel; os anjos rebeldes não puderam opor-se ao seu poder. Isto significa que há, sim, anjos maus, rebeldes, que foram expulsos do Paraíso, e agora rondam o mundo procurando desviar muitos corações, fazendo rebelarem-se contra o Altíssimo, através da corrupção dos costumes, da concupiscência, como nos adverte o Apóstolo São Pedro em sua segunda Carta (2Pd 2,4).
As orações da madrugada, das três horas da tarde, as consagrações, os exorcismos que muitas igrejas realizam só tem sentido se acreditamos que no mundo há seres perdidos que o infestam de caminhos e meios de rebeldia contra Deus. Volto ainda ao conselho de São Judas, no relato sobre a altercação de São Miguel com Satanás acerca do corpo de Moisés. Talvez alguém não se sinta confortável em tocar neste assunto tão delicado. Mas é impossível não pensar na atualidade deste conselho do Apóstolo, pois esta luta que começou no início com a rebelião de Satã continua e se desenvolve, isto é, acontece (no tempo presente) e precisa ser enfrentada, não com diálogo com o mal, pois com o Mal não se pode dialogar, senão pela fidelidade a Deus, à sua Palavra, aos preceitos da Divina Lei, à frequência constante aos Sacramentos da Nova Aliança, instrumentos de salvação deixados por Nosso Senhor, especialmente a Reconciliação (a Confissão) e a Eucaristia.
Não é infantilismo teológico reafirmar a doutrina de que os Anjos, bons ou maus, podem interferir entre nós. Os Anjos enviados por Deus, como Gabriel, Rafael e Miguel, interferem como mensageiros e servidores de Deus e do seu projeto de salvação. A história bíblica está repleta de relatos das intervenções dos Anjos de Deus. Os anjos maus querem o oposto, ou seja, têm o único objetivo de frustrar o plano de Deus em relação à nossa salvação, desde quando levou ao pecado os primeiros pais Adão e Eva.O diabo tentou o próprio Jesus, pediu Pedro ao Senhor, que intercedeu por ele, investiu nos perseguidores da Igreja. Parece que ninguém está fora das suas ambições. Então não é demais pedir a intervenção de São Miguel nas horas mais escuras da humanidade, nas grandes provações da Igreja e dos seus membros. Confio, plenamente, nas palavras de Daniel, que lemos no famoso capítulo 12 do seu livro de que junto de nós estará sempre presente Miguel, pois assim ele diz: “Nesse tempo levantar-se-á Miguel, o grande Príncipe, que se conserva junto dos filhos do teu povo”.
Alguém pode, apressadamente, querer localizar no tempo e no espaço, esta profecia de Daniel, fazendo-a retroceder, por exemplo, aos tempos do cativeiro da Babilônia. De fato, esse foi o seu “lugar”de origem. Penso, ao contrário, que essa insinuação temporal constitua mais uma prova de algo muito grave que está acontecendo: a negação da atividade maléfica dos anjos rebeldes, atribuindo todas as coisas ruins à natureza humana, às doenças causadas pelo egoísmo e da desmesura da ânsia e desejo do poder.
Contra tudo isso, nossa invocação deve ser constante ao Protetor do povo santo de Deus!