Por Monsenhor Ronaldo Menezes – Vice-Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação
Realizamos este ano em nossa paróquia um colóquio sobre alguns aspectos da devoção à Mãe de Jesus, a partir da Sagrada Escritura; abordei temas específicos, para ajudar na espiritualidade mariana. O motivo foi apresentar como a Mãe do Senhor ocupa um lugar de destaque proeminente na vida da Igreja e na vida de todos e cada um dos membros dessa Igreja. Ela é a primeira dos redimidos.
Não é por acaso que a Virgem Maria ocupa lugar de destaque na Igreja e no coração de todos os seus membros. Por isso, ela precisa ser conhecida. Este período do Círio, penso, é uma ótima ocasião. Assim, proponho este assunto que será comum em todas as esferas da sociedade paraense. Por esta época aparecem algumas questões, repetidas certamente, as quais, acredito, ainda temos que responder adequadamente, com base na Bíblia Sagrada. Aqui, me proponho a levantar alguns pontos da doutrina bíblica sobre a Mãe de Jesus, e indicar, ainda que não profundamente, caminhos de estudo e reflexão para esses dias, sem entrar em polêmicas, pois, com a Igreja, sabemos que a Mãe do Salvador merece de todos os cristãos veneração adequada e sóbria, o culto devido e devoção sólida, sem os exageros que, às vezes, o nosso coração filial se propõe.
Começando pelos Evangelhos, evidentemente, tomo em primeiro lugar o Evangelho de São Mateus, onde encontramos informações preciosas acerca da Bem-aventurada Virgem, de modo especial no chamado Evangelho da Infância, isto é, os dois primeiros capítulos.
Logo no início do seu Evangelho, São Mateus nos apresenta a genealogia de Jesus, um resumo do histórico familiar do Salvador, cujo sentido não é igual ao que encontramos na historiografia moderna. Paraos antigos, a genealogia mostrava a importância que uma pessoa tinha na sociedade e o seu lugar na própria história. No caso de Jesus, a genealogia revela que tudo se encaminha para ele e somente nele encontra o seu sentido, tudo, inclusive, a própria história. Deste modo, personagens como Abraão, Davi e Jesus têm este significado: eles representam toda a história do povo santo de Deus, ou seja, o seu começo e a sua plenitude, que se realiza em Jesus Cristo. De outro modo, podemos dizer que as promessas feitas a Abraão e a Davi cumprem-se total e absolutamente em Jesus, o enviado do Pai.
Em seu texto, Mateus menciona quatro mulheres, e uma quinta mulher. As quatro primeiras são: Tamar, Raab, Rute e Betsabé, que foi mulher de Urias. Nenhuma destas mulheres pertencia ao povo de Israel, mas, através delas, Deus foi realizando o seu plano de salvação. Deus não exclui ninguém do seu campo de ação.
A quinta mulher aparece num versículo que tudo muda no desenrolar da história da salvação. Até certo ponto, o verbo “gerar” se repete: “Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacó, Jacó gerou….” até que, de repente, o evangelista diz, interrompendo o uso desse verbo: “Matã gerou Jacó, Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo”. O verbo “gerar” é usado por Mateus 39 vezes (você pode contar) e depois é interrompido para dizer que José não gerou Jesus; e afirma que Jesus nasceu apenas da Virgem Maria. A quinta mulher é, portanto, Maria, a Mãe de Jesus, a mulher que previu o profeta Isaías, a virgem que conceberia o Emanuel, o rei Messias dos tempos futuros.
Aqui temos a primeira afirmação evidente por si mesma: José não interveio na concepção de Jesus, que foi, portanto, algo excepcional, que a simples lógica humana não explica. Logo em seguida, nos versículos de 18 a 25 do capítulo 1º, ficamos sabendo o modo da concepção foi virginal, obra do Espírito Santo.
Depois, com esta parte da genealogia de Jesus, isto é, até o versículo 17, São Mateus responde à pergunta: “Quem é Jesus?”, de modo que podemos identificar Jesus como filho de Abraão, o depositário da promessa da bênção futura, e filho de Davi, e isto é importante porque a este rei foi feita a promessa de uma descendência eterna. Jesus, por ser “filho de Davi”, tem sangue real e direito de herança dessa promessa. Você pode ler o capítulo 7 do segundo livro de Samuel, o texto da promessa messiânica. Respondida a pergunta “Quem é Jesus?”, podemos afirmar com segurança que Jesus é o Messias, o Filho por excelência, em que se cumprem as promessas antigas, que nossos antepassados receberam desde o começo, com Abraão e Davi. E por ser “filho de Abraão” e “filho de Davi”, a quem Deus fez a promessa do Messias, o rei dos tempos futuros, Jesus cumpre as promessas feitas a ambos. Agora, lembramos que é nessa relação de promessa e cumprimento que a figura de Maria se apresenta radiante como a Mãe do Messias, a virgem de quem falou o profeta Isaías, da qual nasceria o “Emanuel”, quando o tempo se cumprisse. Que Maria é a mãe do Messias, portanto, é inquestionável, como o demonstram os próprios Evangelhos.
O círio, como expressão da fé, é um modo que temos de proclamar publicamente essas verdades bíblicas, a maternidade divina da Virgem Maria, a Mãe do Messias, o Senhor Jesus, e a concepção virginal. Preparar-se para este momento e vivê-lo bem é uma tarefa religiosa de todos nós que cremos em Jesus e amamos a Virgem que o trouxe ao mundo.