Já é consagrada essa espera entre os fiéis: o momento da apresentação do Manto Oficial que irá vestir a imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré para o Círio 2025. A peça começou a ter seu processo de confecção em fevereiro, quando a estilista Letícia Nassar recebeu o convite do casal coordenador do Círio 2025, Antônio e Rosa Sousa. A autora assina o desenho e a confecção, com o apoio de uma equipe formada por Daniela Guerra, Fernando Machado e Luiz Paulo Ferreira, responsáveis pelos bordados, Rita Tomé, na costura, e Sheyla Craveiro, no apoio geral.
A cerimônia de apresentação do novo manto aconteceu nesta quinta-feira, 9 de outubro, às 18h, durante Missa Solene na Basílica Santuário de Nazaré, presidida por Dom Julio Endi Akamine, Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Belém. Mais do que um ornamento, o manto é um símbolo essencial do Círio. Sua criação segue critérios rigorosos: deve refletir o tema da festa, transmitir uma mensagem evangelizadora e reforçar a devoção a Nossa Senhora de Nazaré por meio de cores, adereços e símbolos, cuidadosamente, pensados.
Antônio Sousa, coordenador do Círio 2025, explica que “a escolha do manto do Círio 2025 foi feita com muito cuidado e oração. Procuramos um desenho que traduzisse o tema deste ano e, ao mesmo tempo, refletisse a fé e a identidade do povo paraense. Cada detalhe carrega um significado especial, pensado para transmitir esperança, devoção e a proteção de Nossa Senhora sobre todos nós”.
A estilista Letícia já possui uma forte relação com o Círio. Em 2023, ela foi convidada pela Diretoria da Festa de Nazaré (DFN) para confeccionar o manto de uma imagem de Nossa Senhora que participou do Círio de Nazaré em Miami, nos Estados Unidos. Em 2024, também foi responsável pelo manto oficial da festividade.
Segundo a estilista, a concepção artística do manto 2025 foi um pedido especial do casal coordenador. Inspirado no tema deste ano, “Maria, Mãe e Rainha de toda a criação”, o manto simboliza como Maria se revela como Mãe e Rainha, trazendo riqueza de detalhes em vidrilhos de cristal, joias de prata e ouro, zircônias, miçangas de vidro e hematitas.
“O manto 2025 traz uma profunda reflexão sobre a criação e o papel fundamental de Maria na redenção da humanidade. Sinto alegria, emoção e muita expectativa para ver o povo se encontrando com o manto, vestindo a imagem Peregrina. A ansiedade é enorme para viver mais um Círio”, relata Letícia Nassar.
História do manto
A tradição do manto remonta à origem do Círio, quando o caboclo Plácido encontrou a imagem de Nossa Senhora às margens do igarapé Murucutu. Nos primeiros anos, o manto tinha formato retangular. Mais tarde, a confecção passou a ser realizada pela Irmã Alexandra, da Congregação Filhas de Sant’Ana, que produzia os mantos com materiais doados por promesseiros, até seu falecimento, em 1973. Desde então, a tradição se mantém viva, renovando a cada ano a devoção e a fé do povo paraense, com diversos artistas convidados.
Manto do Círio 2025
NOSSA SENHORA DE NAZARÉ
Maria, Mãe e Rainha de toda a Criação
Um dos ícones do Círio de Nazaré é o Manto da imagem Peregrina, apresentado às vésperas da Procissão do Translado, tornando-se um verdadeiro livro aberto, a ser contemplado e feito para suscitar vida e santidade no coração de todos os que têm consciência de que Maria “passa na frente”.
O Manto agora apresentado foi refletido e rezado em profundidade, para que Maria, estrela da Evangelização, com a lua sob os pés, ela mesma coroada de doze estrelas, seja sinal da grandeza de Deus, que cria, sustenta e envolve toda a criação. Aquela que se fez serva, escrava da Palavra de Deus, passa na frente, pelas nossas ruas e tantos locais a serem visitados, proclamando com sua beleza, aquela que é toda bela, isenta de toda mancha do pecado, nos conduza ao cuidado com as pessoas e com a criação que Deus nos entregou para cuidar com carinho!
Que a Virgem Mãe de Nazaré escute nosso brado, no Círio de 2025, levando ao Senhor nossas necessidades e a nossa Esperança da realização, em nosso tempo, das promessas de Deus e a Esperança da Vida Eterna, da qual nos fizemos peregrinos durante este tempo de graça!
Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Emérito de Belém do Pará
DESCRITIVO
No princípio, Deus criou todas as coisas por sua Palavra. Em seis dias completou sua obra e, no sétimo, descansou, declarando que tudo era bom.
No jardim do Éden, colocou sua obra-prima, Adão e Eva, para que vivessem em harmonia com Ele e cuidassem da criação. O Éden era repleto de beleza e paz, e o homem desfrutava de todas as maravilhas criadas, tendo permissão de comer de todas as árvores, exceto da árvore do conhecimento do bem e do mal, cujo fruto traria a morte.
Quando a serpente seduziu Eva, prometendo que seria como Deus se comesse do fruto proibido, Adão também cedeu e, assim, o pecado entrou no mundo. Mas o Senhor, em sua infinita misericórdia, já havia preparado um plano de redenção.
Se pela desobediência de Eva veio a condenação, pela obediência de Maria recebemos a salvação. Maria foi predestinada e preservada de toda mancha do pecado para acolher em seu seio o Redentor, Jesus Cristo.
Do alto dos céus, ao lado de seu Filho, ela vela por toda a criação com amor materno. Sua obediência à vontade de Deus é perfeita, e por isso ela reina como aquela que se fez terra fértil para que da semente divina germinasse o fruto de salvação. Ela nos ensina e nos conduz ao caminho do Céu.
Na beleza de tudo o que Deus criou, Maria se faz presente como Mãe e Rainha de toda criação, pois é dela o sim que foi capaz de curar e redimir todo pecado desde o princípio. E ela continua nos guardando contra as investidas do inimigo, para que, fortalecidos pela redenção do preciosíssimo sangue de Jesus, possamos seguir seu exemplo na fidelidade e alcançar a vida eterna.
O Manto
O manto de 2025 faz uma homenagem a um dos mosaicos da Basílica-Santuário. Ele traz em seu centro a Árvore da Vida, que no início foi símbolo do núcleo da criação perfeita de Deus e, no plano da redenção, tornou-se a Cruz de Cristo.
Nele, Adão e Eva, já redimidos pelo amor encarnado e consumado de Deus, se prostram em adoração diante de Jesus.
Ao longo de todo o manto, contemplamos as maravilhas da criação: a noite e o dia, as estrelas e as águas, cada elemento revelando infinitos significados em nossa caminhada cristã.
Das águas surgem ramos de rosas, recordando a promessa de que uma mulher esmagaria a cabeça da serpente, vencendo o mal. Essa mulher é Maria, que trouxe ao mundo o Salvador e, com suas virtudes, nos ensina o caminho de volta ao Céu.
Materiais utilizados na confecção
O manto de 2025 foi confeccionado em cetim italiano, com o fundo bordado em vidrilhos de cristal branco acetinado.
As folhas da árvore são representadas por cristais verdes, e as pequenas rosas que adornam a árvore, são feitas de coral.
O céu, bordado em cristais em diversos tons de azul, traz também zircônias, simbolizando as estrelas.
Abaixo da árvore, podemos ver uma base verde, bordada com hematitas naturais, e uma rocha dividida, quebrada, também bordada em diversos tons de vidrilhos para que fosse alcançado o efeito de profundidade e textura.
As águas, tem a base bordada em linha e recoberta por cristais. As espumas das águas, são bordadas em miçangas, e todo trabalho é feito em relevo, garantindo que o manto tivesse um efeito tridimensional.
No centro das águas, surge uma aurora bordada em vidrilhos de cristal e uma pedra preciosa de 20 quilates, uma moissanite amarela, representando o sol.
Nas Rosas, também bordadas com volume, podemos ver dois tons de rosa, criando o efeito de profundidade, luz e sombra.
Em torno das rosas, pequenas abelhas de metal adornam o manto, símbolo do trabalho em comunidade, trabalhando não para si, mas para um bem maior. Essas abelhas somos nós, Igreja de Cristo.
As folhas das roseiras são feitas em vidrilho e moldadas em arame, manualmente, para que tenham movimento.
A borda do manto é bordada com contas de opala, sugerindo uma moldura de mármore.
O broche
O broche deste ano vem em formato redondo, feito em prata, e traz o símbolo “Peregrinos da Esperança” para o Jubileu de 2025, que representa a humanidade caminhando unida em busca da esperança e da fé, mesmo em meio às dificuldades da vida, simbolizadas pelas ondas.
A cruz se transforma em uma âncora, que é um símbolo tradicional da esperança, especialmente, em situações de tempestade, e a imagem transmite a ideia de uma fé comunitária que oferece segurança, união e estabilidade.
Em torno da peça, a corda do CÍRIO, símbolo de união e comunidade, onde romeiros caminham unidos, mesmo com muita dificuldade, permanecem em Cristo e sua mãe, em busca de esperança.
Equipe Manto 2025
DESENHO: Letícia Nassar
ESTILISTA: Letícia Nassar
BORDADO: Daniella Guerra, Fernando Machado e Luiz Paulo Ferreira
COSTURA E ACABAMENTOS: Rita Tomé
APOIO: Sheila Craveiro
Fotos: Sandro Barbosa