Lápis gasto: vida a serviço dos irmãos

Por Pe. Helio Fronczack

  A imagem, ao mesmo tempo singela e marcante, nos dá testemunho de um propósito cumprido. Esta cena não é apenas uma ilustração, mas um convite à introspecção sobre o caminho que escolhemos para nossa vida.

Os lápis com as pontas gastas personificam a utilidade em sua forma mais pura. Eles não buscaram preservar sua integridade imaculada; ao contrário, abraçaram seu destino, deixando marcas, transformando ideias em realidade, capacitando a comunicação e a criatividade. Sua beleza reside na história que cada sulco e cada redução de grafite conta. Na nossa jornada, frequentemente, nos vemos tentados a poupar nossa energia, a resguardar nossos talentos para um momento “perfeito” que pode nunca chegar. Contudo, a verdadeira realização, a profunda ressonância da vida, floresce quando nos permitimos ser agentes de mudança, quando dedicamos nosso ser e nossa vida à construção de algo que transcende o eu. Um lápis que nunca escreve, por mais intacto que seja, falha em sua razão de ser; da mesma forma, uma vida que se esquiva do engajamento e do serviço corre o risco de permanecer vazia, aprisionada em sua própria preservação.

 

A segunda parte do título “vida a serviço dos irmãos”, do ponto de vista da ética e da moral, ilumina o propósito de nosso desgaste. Não se trata de um sacrifício vazio, mas de uma doação com significado. Os lápis, ao traçarem linhas e palavras, desvelam mundos, compartilham conhecimento, oferecem consolo e inspiram. Eles agem como catalisadores para o florescimento alheio. No dia a dia, “gastar-se” pelos outros pode se manifestar na escuta atenta, no apoio desinteressado, na partilha de sabedoria, ou na simples presença que conforta e fortalece. É nas nuances desses gestos, sejam eles na docência, na família, na comunidade ou no exercício profissional, que percebemos o impacto transformador de nossa existência. Cada ponta gasta é um testemunho de uma contribuição, um esforço que, em sua essência, pavimenta o caminho para um mundo mais humano, mais justo e mais fraterno.

A mensagem ressoa com clareza cristalina: a vida não é um tesouro a ser guardado intocado e brilhante, mas uma dádiva preciosa a ser investida com generosidade e paixão. Que não hesitemos em nos “desgastar” nas tarefas que nos chamam, nos desafios que nos moldam e nas inúmeras oportunidades de servir. É nesse nobre “gastar” que desvendamos nosso verdadeiro valor, imprimimos nossa marca indelével na tapeçaria da existência e, de fato, enriquecemos não apenas a nossa jornada, mas a de todos ao nosso redor. Que sejamos, como os lápis gastos, incessantes artífices de unidade e de paz cuidando juntos de nossa “casa comum”.

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