Papa diz que janela para travar alterações climáticas está se fechando

O Papa alertou para os perigos da inação política perante as alterações climáticas e disse que a janela para implementar as medidas do Acordo de Paris se “está a fechar”.

“Ainda há tempo para manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5º, mas a janela está a fechar-se. Como custódios da criação de Deus, somos chamados a agir com rapidez, fé e profecia para proteger o dom que Ele nos confiou”, refere Leão XIV, numa mensagem enviada às Igrejas particulares do Sul Global reunidas no Museu Amazónico de Belém, no Estado brasileiro do Pará, que acolhe a COP30.

A mensagem em vídeo, divulgada esta segunda-feira, destaca que “o Acordo de Paris tem impulsionado um progresso real e continua a ser a ferramenta mais poderosa para proteger as pessoas e o planeta”.

“Temos de ser honestos: não é o Acordo que está a falhar, mas a nossa resposta. O que está a falhar é a vontade política de alguns”, denunciou o pontífice.

O Papa refere que a natureza “clama em enchentes, secas, tormentas e um calor implacável”.

“Uma de cada três pessoas vive em grande vulnerabilidade em consequência dessas mudanças. Para elas, a mudança climática não é uma ameaça distante. Ignorar essas pessoas é negar nossa humanidade compartilhada”, adverte.

Leão XIV uniu-se aos cardeais presentes em Belém, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, que decorre até 21 de novembro, para “dizer ao mundo com palavras e gestos que a Amazónia continua a ser um sinal vivo da criação com uma urgente necessidade de cuidado”.

Escolheram a esperança e a ação perante o desespero, construindo uma comunidade global que trabalha em conjunto. Temos alcançado avanços, mas não suficientes. A esperança e a determinação devem renovar-se, não só com palavras e aspirações, mas também com ações concretas.”

Dirigindo-se aos responsáveis políticos, o Papa destaca que “a verdadeira liderança implica serviço e apoio numa escala que possa fazer realmente a diferença”.

“Ações climáticas mais contundentes criarão sistemas económicos mais sólidos e justos. Medidas políticas e climáticas firmes constroem uma inversão em um mundo mais justo e estável”, sustenta.

Leão XIV pede que todos caminhem juntos, “cientistas, lideranças e pastores de todas as nações e credos”.

“Somos guardiões da criação, não rivais pelos seus bens. Enviemos juntos uma mensagem global clara: as nações permanecem unidas na firme solidariedade com o Acordo de Paris e a cooperação climática”, aponta.

A mensagem deixa votos de que o Museu Amazónico seja recordado como “o espaço onde a humanidade escolheu a cooperação frente à divisão e a negação”.

Ainda em Belém, vários cardeais e responsáveis católicos acompanharam a marcha dos povos indígenas, que se sentem excluídos das decisões da COP30.

“Mesmo estando no Brasil, muitos povos têm se sentido excluídos, não se sentindo partícipes dentro do seu próprio ecossistema, que é a Amazónia”, denunciou a vice-presidente da Conferência Eclesial da Amazónia, Patrícia Gualinga, membro do povo Kichwa de Sarayaku (Equador).

Segundo a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), o encontro promovido pelas Nações Unidas “tem um forte significado para a Igreja Católica, recordando o trabalho da Rede Eclesial Pan-Amazónica (REPAM).

As igrejas do Sul Global sentem que o debate na COP “afeta toda a humanidade, especialmente os pobres, os vulneráveis”, referiu o cardeal Felipe Neri Ferrão, arcebispo de Goa e presidente da Federação de Conferências Episcopais da Asia.

Já para o cardeal Pablo Virgílio Davi, bispo de Kalookan (Filipinas), participar na COP30 e na Marcha dos Povos “é uma oportunidade para estar unido a outros defensores do meio ambiente”.

“As pessoas aqui podem ter diferentes motivos para defender o meio ambiente, para se juntarem à comunidade, mas o importante é que encontremos os nossos pontos de convergência juntos, que é o nosso cuidado com o bem comum”, acrescentou, numa intervenção divulgada pela CNBB.

O Governo brasileiro anunciou na segunda-feira que vai demarcar dez novas terras indígenas, na sequência de propostos por parte de povos originários durante a COP30.

“Nós já temos aqui a garantia do Ministério da Justiça em assinar dez portarias declaratórias neste momento”, disse a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara.

Fonte: Agência Ecclesia

Veja aqui a mensagem do papa:

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