Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo Auxiliar de Belém
Caros leitores, neste domingo, convido vocês a refletirem sobre a iminente chegada do Amor. E para me acompanhar nesta conversa, conto com a contribuição de Sylvia Calandrini, licenciada em Letras e professora do Instituto Vicentino Catarina Labouré.
O Natal se aproxima. E, mais do que um tempo de luzes e presentes, ele nos recorda o mistério mais profundo da fé: Deus quis habitar entre nós. O Evangelho deste 4º Domingo do Advento (Mt 1,18-24) mostra o momento decisivo em que o Verbo eterno assume a fragilidade da carne humana e entra na história, não por força, mas por amor. “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco”. É este o núcleo do Natal: Deus conosco, Deus no meio da vida, Deus em cada tempo e em cada rosto humano.
A encarnação do Filho de Deus é o sim definitivo de Deus à humanidade. Diante do pecado, da desordem e da dor, Ele não se retira, não condena de longe: aproxima-se. Acolher o Verbo é deixar que essa presença transforme o coração e a história. Como recorda o Papa Bento XVI: “Crer no Natal significa reconhecer a presença de Deus nas pequenas coisas e abrir o coração para a novidade que Ele traz” (Homilia do Natal, 2006). A fé cristã, portanto, não é fuga do mundo, mas a descoberta de que o mundo é o lugar onde Deus se revela e nos espera.
José, o justo, é o primeiro a ensinar-nos essa acolhida silenciosa e confiante. Diante do mistério que ultrapassa a lógica humana, ele “faz como o anjo do Senhor lhe ordenara” (Mt 1,24). Não compreende tudo, mas confia. E sua obediência permite que o Verbo se torne carne também no cotidiano: no trabalho, na família, nas pequenas fidelidades de cada dia. São João Paulo II escreveu: “José é o homem do silêncio, mas o seu silêncio é cheio de escuta. Ele escutou Deus na noite das dúvidas e respondeu com a entrega de si” (Redemptoris Custos, n. 25). Essa atitude é o caminho de cada discípulo: crer é deixar Deus conduzir a própria história.
O Natal convida-nos, então, a ser homens e mulheres de escuta e de acolhida. É o momento para lembrar o nascimento de Jesus em Belém da Judeia, mas também de permitir que Ele nasça em nós e através de nós. Cada gesto de amor, cada reconciliação, cada cuidado com quem sofre é um presépio vivo onde o Emanuel continua a nascer.
E em Belém do Pará, com sua rica diversidade e também com suas feridas sociais, é um lugar onde essa verdade pode ser profundamente experimentada. Acolher o Verbo, aqui, é tornar o Evangelho carne nas realidades locais: na partilha com quem tem fome, na escuta das famílias marcadas pela dor, na defesa da vida ameaçada e da casa comum. “A Encarnação é o começo da redenção da criação inteira” (Laudato Si’, n. 99). Celebrar o Natal na Amazônia é lembrar que o Emanuel habita também Nos rios, nas florestas e nas comunidades que guardam a esperança.
A liturgia deste domingo é, portanto, um convite a preparar não apenas o presépio exterior, mas o presépio interior. O Advento é tempo de espera ativa: arrumar a casa da alma, reconciliar-se, recomeçar. Santa Teresa D’Ávila dizia: “Dentro de nós há um palácio onde habita o Rei. O que é preciso é entrar nele, e deixar-se encontrar por Ele” (Castelo Interior, 1,1,7). Quando a alma se torna morada de Deus, tudo ganha novo sentido.
E é, justamente, essa presença que o mundo mais necessita. Em tempos de pressa e superficialidade, queridos leitores, o Natal recorda que a verdadeira transformação nasce do interior. Deus entra na história em silêncio, na pobreza de um estábulo, para revelar que a salvação não vem do poder, mas da comunhão. Se O acolhermos, também nós seremos portadores de luz onde há trevas, de paz onde há conflito, de esperança onde há cansaço.
E para concluir esta reflexão, segue um trecho bonitoda canção ‘Simplesmente amar’, de Walmir Alencar: “O amor nasceu em meio ao frio de uma noite. Sem um lugar para ficar, desaconchego, sim. Palhas para deitar e, ao Seu redor, os animais que ali moravam. Mesmo sendo Rei, pobre se fez, só por amor. Simplesmente amar. É o que importa para quem quiser servir. Simplesmente amar. É a condição maior suprema do servir. Eis a verdadeira vocação: Simplesmente amar”. Deixemos o amor de Deus habitar entre nós!




