Papa publica carta apostólica

Carta é direcionada para a formação dos sacerdotes

Papa Leão XIV. Imagem referencial. | Vatican Media
Papa Leão XIV. Imagem referencial. | Vatican Media

O papa Leão XIV escreveu a carta apostólica Uma Fidelidade que Gera o Futuro, por ocasião do 60º aniversário de dois decretos do concílio Vaticano II sobre a renovação da Igreja e do ministério sacerdotal. A carta, a oitava do pontificado de Leão XIV, foi divulgada ontem pela Santa Sé.

O decretos Optatamtotius, sobre a renovação da Igreja por meio da formação sacerdotal, e Presbyterorumordinis, sobre a definição do ministério e da vida dos sacerdotes, foram promulgados em 1965, ano da última sessão do Concílio Vaticano II. No documento — com cerca de oito páginas divididas em 29 pontos — Leão XIV fala sobre a relevância de ambos os decretos, instando a que se tornem “uma memória viva”, sendo estudados sobretudo nos seminários.

À luz desses documentos, o papa exorta a reconsiderar “a identidade e a função do ministério ordenado à luz do que o Senhor pede à Igreja hoje, estendendo a grande obra de atualização do concílio Vaticano II” pela perspectiva da fidelidade e da conversão.

Maturidade e uma vida espiritual sólida para prevenir abusos

O papa começa falando sobre a vocação sacerdotal, à qual os sacerdotes respondem com uma “escolha corajosa de vida”. Para permanecer fiel a essa vocação, Leão XIV fala sobre a necessidade de lembrar, especialmente nos momentos de provação e tentação, “o som da voz do Senhor que nos ama, nos escolhe e nos chama”.

É preciso lembrar-se também que esse chamado é “um dom livre e gratuito” de Deus e uma proposta amorosa de um projeto de salvação, que “deve ser fielmente guardado” numa dinâmica de conversão e formação permanente.

Depois, Leão XIV voltou sua atenção para a “crise de confiança” na Igreja causada pelos abusos cometidos por membros do clero, “que nos enchem de vergonha e nos chamam à humildade”. Essa realidade, disse o papa, “nos tornou ainda mais conscientes da urgência de uma formação integral que assegure o crescimento e a maturidade humana dos candidatos ao sacerdócio, junto com uma vida espiritual rica e sólida”.

Assim, ele exorta os seminaristas a fazer um trabalho interior sobre suas motivações, dizendo que só “sacerdotes e consagrados humanamente maduros e espiritualmente sólidos podem assumir o compromisso do celibato e proclamar com credibilidade o Evangelho do Ressuscitado”.

Assim, o papa exorta os fiéis a “proteger e nutrir nossa vocação num caminho constante de conversão e fidelidade renovada, que nunca é meramente uma jornada individual, mas nos compromete a cuidar uns dos outros”.

A fraternidade como parte da identidade dos sacerdotes

Leão XIV fala sobre a fraternidade sacerdotal, que ele diz ser um “dom inerente à graça da Ordenação” e um “elemento constitutivo da identidade dos ministros”, que deve ser retribuído superando a “tentação do individualismo”.

O papa exorta à criação e promoção de “modos possíveis de vida comunitária”, alertando para a solidão sofrida por muitos sacerdotes. Ele diz também que “muito ainda precisa ser feito” sobre isso, começando pela “paridade financeira entre aqueles que servem em paróquias pobres e aqueles que atuam em comunidades abastadas”.

Leão XIV diz que a comunhão “nunca pode ser definida como uma homogeneização dos indivíduos, carismas ou talentos que o Senhor derramou na vida de cada um”.

Sinodalidade, uma oportunidade para os sacerdotes do futuro

Citando a sinodalidade, tema que lhe “interessa particularmente”, o papa citou especificamente o decreto Presbyterorumordinis, que enfatiza a ligação entre o sacerdócio e a missão de Jesus Cristo. Esse decreto, disse Leão XIV, aponta para três aspectos fundamentais: a relação com o bispo, a fraternidade com os outros sacerdotes e a relação com os fiéis leigos.

O papa diz que “muito ainda precisa ser feito” nesse campo, ao mesmo tempo que diz que o processo sinodal “é um forte convite do Espírito Santo para darmos passos decisivos nessa direção”.

Ele encoraja os sacerdotes a familiarizarem-se com as diretrizes do documento final do Sínodo da Sinodalidade e diz que “o desafio da sinodalidade — que não elimina as diferenças, mas sim as valoriza — continua sendo uma das principais oportunidades para os sacerdotes do futuro”.

 “É necessário que o ministério do sacerdote supere o modelo de liderança exclusiva, que determina a centralização da vida pastoral e o peso de todas as responsabilidades confiadas só a ele, tendendo para uma liderança cada vez mais colegiada, em cooperação entre sacerdotes, diáconos e todo o povo de Deus, nesse enriquecimento mútuo que é fruto da variedade de carismas suscitados pelo Espírito Santo”, diz Leão XIV.

Uma conversão missionária

O papa Leão XIV diz também que a identidade do sacerdote é inseparável de sua missão: “A vocação sacerdotal se desenvolve em meio às alegrias e aos trabalhos do humilde serviço aos nossos irmãos, que o mundo muitas vezes ignora, mas do qual tem uma profunda sede”.

Assim, ele exorta os sacerdotes a evitar dois tipos de tentações: por um lado, a “mentalidade da eficiência”, segundo a qual “o valor de cada um é medido pelo desempenho”, e, por outro lado, o “quietismo”, que leva os sacerdotes a se isolarem, “rejeitando o desafio da evangelização”.

O papa, assim, encoraja uma “conversão missionária” na qual se foge de “todo personalismo e toda autocelebração”, a fim de dar uma resposta eficaz “através do testemunho de uma vida sóbria e casta, ao grande anseio por relações autênticas e sinceras que é encontrado na sociedade contemporânea”.

Não há futuro sem cultivar todas as vocações

Na última seção de sua carta apostólica, o papa Leão XIV concentra sua atenção na escassez de vocações, realidade que “exige que todos nós revejamos a capacidade geradora das práticas pastorais da Igreja”.

Assim, ele exorta a todos a “ter a coragem de fazer propostas fortes e libertadoras aos jovens” e a sempre manter a perspectiva vocacional em todas as áreas pastorais.

“Lembremo-nos: não há futuro sem nutrir todas as vocações!”, diz o papa.

Leão XIV conclui sua carta apostólica agradecendo ao Senhor porque “Ele está sempre perto de seu povo” e confia todos os seminaristas, diáconos e sacerdotes “à intercessão da Virgem Imaculada, Mãe do Bom Conselho, e de são João Vianney, padroeiro dos párocos e modelo de todos os sacerdotes”.

Fonte: ACI Digital / Por Almudena Martínez-Bordiú

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