Reunindo cerca de 10 mil pessoas no Parque de Exposições de Barbacena (MG), os presentes acompanharam com a alegria e emoção no dia 10 a cerimônia de beatificação de Isabel Cristina Mrad Campos, a nova beata da Igreja.
Em celebração presidida pelo Arcebispo Emérito de Aparecida (SP), Cardeal Raymundo Damasceno Assis, a cerimônia foi concelebrada pelo Arcebispo de Mariana, Dom Airton José dos Santos, pelo Arcebispo emérito de Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha, e pelo bispo de Divinópolis (MG) e presidente do regional Leste 2 da CNBB, Dom José Carlos de Souza Campos.
A celebração contou ainda com a presença de padres, diáconos, seminaristas, religiosos, fiéis, leigos e leigas de todo o Brasil. Ainda, o Postulador da Causa de Beatificação de Isabel Cristina, Dr. Paolo Vilotta.
Tendo o rito iniciado após o ato penitencial, os fiéis ouviram de Paolo Vilotta os dados biográficos da beata Isabel Cristina, seguida da leitura da Carta Apostólica, feita em latim pelo cardeal Raymundo e em português pelo monsenhor Danival Milagres, com a qual o Sumo Pontífice inscreveu entre os beatos, a Venerável Serva de Deus Isabel Cristina Mrad Campos como beata.
O documento institui que a beata Isabel Cristina possa ser celebrada liturgicamente em 1º de setembro, data em que ela sofreu o martírio e nasceu para o céu.
Ao canto do Aleluia, leigos e religiosos presenciaram com júbilo o descerramento da imagem da nova beata e prestigiaram a entrada, em procissão solene, da relíquia da Mártir e beata da Igreja feita pelo irmão de Isabel Cristina, Paulo Roberto Mrad Campos, acompanhado por sua esposa e filhas. Esse momento também foi marcado pela presença de 20 jovens que traziam consigo rosas-vermelhas e brancas, representando a idade com a qual a Serva de Deus sofreu o martírio.
Seguindo os ritos litúrgicos da celebração da Santa Missa, o cardeal Raymundo Damasceno, em sua homilia, afirmou que nem todos são chamados ao martírio de sangue, mas todos são chamados a viver cotidianamente o martírio do amor.
“Peçamos a Jesus a graça, por intercessão de Isabel Cristina, de aceitar as angústias e os desafios da vida cotidiana. Não tenhamos medo jamais!”, disse.
Conforme o coordenador geral da cerimônia de beatificação, monsenhor Danival Milagres Coelho, para a arquidiocese de Mariana, bem como a Igreja no Brasil e no mundo, é uma graça ter a beatificação de uma Leiga, jovem, que soube viver a sua fé na defesa corajosa dos seus valores. Ainda, na opinião do sacerdote, a mártir e beata é referência para os jovens.
“Isabel Cristina afirmou: ‘é preciso resistir ao mal, custe o que custar’. E custou a vida dela. Por isso, nós agradecemos a Deus o testemunho de fé desta jovem”, enfatiza.
Papa reconhece martírio de Isabel Campos
O Papa Francisco recebeu em audiência em 27 de outubro o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Dom Marcello Semeraro, oportunidade em que autorizou a mesma Congregação a promulgar os decretos que reconhecem alguns milagres, martírios e virtudes heroicas. Entre estes, o martírio da Serva de Deus Isabel Cristina Mrad Campos, morta por ódio à fé em Juiz de Fora em 1º de setembro de 1982.
No dia 1º de setembro do mesmo ano, um homem que foi montar um guarda-roupa no pequeno apartamento para onde se mudara com seu irmão, tentou violentá-la. Ao oferecer resistência, recebeu uma cadeirada na cabeça, foi amarrada, amordaçada e teve suas roupas rasgadas. Como continuou a resistir, foi morta sem piedade com 15 facadas. Um crime cruel que abalou a família e todos que tomaram conhecimento do caso.
A maneira como foi morta, mas sobretudo como viveu, motivou um grupo de pessoas a entrar com o pedido do processo para sua beatificação. A solicitação foi aceita por Roma e, no dia 26 de janeiro de 2001, em Barbacena, foi instalado o processo, quando Isabel Cristina recebeu do Vaticano o título de Serva de Deus. A causa foi conduzida por um Tribunal Eclesiástico instituído por Dom Luciano, que durante oito anos colheu depoimentos e provas.
Isabel Cristina Mrad Campos
Mártir da Pureza
A Serva de Deus Isabel Cristina Mrad Campos nasceu em 29 de julho de 1962 em Barbacena (MG), filha de José Mendes Campos e Helena Mrad. Batizada em 15 de agosto na Igreja de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, e crismada em 22 de abril de 1965, na Basílica de São José. Em 26 de outubro de 1969 fez a sua Primeira Comunhão no colégio das Filhas da Caridade de São Vicente de Paula.
Isabel, depois de ter terminado o segundo grau, foi morar em abril de 1982 em Juiz de Fora (MG) para frequentar o curso preparatório para inscrever-se na faculdade de Medicina. Ela, desde o início, achou na nova cidade um lugar para poder estudar, mas acima de tudo, para rezar na Igreja do Cenáculo, onde era exposto o Santíssimo Sacramento.
A partir de 15 de agosto de 1982 foi morar num pequeno apartamento com seu irmão. Ela começou a arrumar a sua pequena moradia e comprou algumas coisas mais úteis e necessárias. Em 30 de agosto, um rapaz ajudou Isabel a montar um armário. O trabalhou deu lugar a uma desagradável discussão que depois Isabel contou ao irmão e às amigas do curso.
Dia 1° de setembro o rapaz voltou ao apartamento para terminar o trabalho começado, mas na verdade as suas intenções eram outras.
Logo ele tentou se aproveitar da jovem Serva de Deus, mas sendo rejeitado por ela, passou a usar de violência: começou a agredi-la usando uma pequena cadeira, a amordaçou com pedaços de um lençol e a amarrou com cordas. Os seus vestidos foram completamente arrancados, o sádico agressor aumentou o volume do rádio e da televisão, mas Isabel conseguiu suportar tantas malvadezas dele para defender, com todas as suas forças, a sua pureza.
A perícia efetuada depois do crime reconstruiu nos mínimos detalhes todas as fases: o tapete foi achado coberto de sangue, ela recebeu quinze facadas, duas nas partes íntimas e treze nas costas. Os médicos legais, depois da autópsia, atestaram que o assassino não conseguiu violentá-la. Ela preferiu morrer invés de ceder e perder a sua castidade.
Ao ser martirizada, usava o Terço de dedo, que sempre rezava. Apesar de não ser membro declarado das Conferências Vicentinas, ela o era de coração, tendo participado de diversas atividades do movimento, incluindo viagens pelas cidades próximas. Filha do então presidente do Conselho Central de Barbacena, José Mendes Campos, tinha também em sua mãe, Helena Mrad Campos, e no irmão, Paulo Roberto, exemplos de Vicentinos.
Desde a sua adolescência ela fez parte da Associação de voluntariado das Conferências de São Vicente. Seu pai foi presidente do Conselho dos Vicentinos. Muitas pessoas testemunharam a sua constante participação à Santa Missa e aos Sacramentos.
Ela cuidava das pessoas especiais, na escola era muito sensível às necessidades das crianças mais pobres. Nos seus cadernos não faltavam frases como: “Sorria, Jesus te ama!”. É muito interessante uma frase presente nos últimos cartões postais que ela enviou aos seus pais: “Espero que continuaremos a nos amar mais a cada dia que passa. Assim construiremos o nosso pequeno mundo cheio de amor, paz e amizade”.
Imediatamente a sua morte violenta foi considerada por todos um verdadeiro martírio e os fiéis a compararam à jovem mártir Santa Maria Goretti.
O seu túmulo, que está na igreja paroquial de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, é meta de fiéis que vem das partes mais distantes do Brasil e os jovens colocam nela cartas com pedindo sua intercessão por uma graça.