Como e por que a sociedade até os dias de hoje perdura no massacre da classificação de pretos e brancos? Onde está a matriz que desqualifica as pessoas? Assim o acadêmico do 4º período de Filosofia, Wendel Rocha, exprimiu o seu desconforto na última roda de conversas promovida pela Faculdade Católica de Belém (FACBEL) no mês da Consciência Negra, que trazia o tema “Democracia e desdemocratização no contexto afro-brasileiro”, facilitado pelo Dr. Paulo Victor Squires. Advogado, ativista, membro da Comissão de Defesa da Igualdade Racial, Etnia e dos Quilombolas da OAB/PA (2013/2017); ex-Vice Presidente e Relator da Comissão Estadual da Verdade sobre Escravidão Negra no Brasil do Conselho Federal da OAB (2015/2016); pesquisador das Relações Raciais, paraense que efetivou estudos na África do Sul em 2018.
Durante a Roda de Conversa, aberta ao público, Maria Célia Lopes contribuiu, apontando que as raízes da desigualdade encontram-se no processo de escravidão em massa no Brasil, pois, mesmo após o período da escravidão, os negros foram jogados à própria sorte. Estamos falando de pessoas que, até então, não tinham nada: terras, dinheiro, bens e nem direitos e a população não os olhava com bons olhos tendo em vista que até pouco tempo, essas pessoas estavam presas, eram pessoas para servir seus senhores, barreiras estas quase intransponíveis para ganhar o seu espaço na sociedade. Mesmo sendo uma pessoa livre, a hierarquização do negro como sendo um ser humano inferior estava cravado, culturalmente, na mente das pessoas. Essa mentalidade permeou todas as camadas da população e instituições, onde essa hierarquização era repetida. A hierarquização estava instaurada na polícia, que tinham a total atenção nas rodas de samba e capoeiras, muito frequentada pelos negros ex-escravos. Estava também nas igrejas e na escola, por sua vez, instituição social difusora de cultura, e responsável pela transmissão do conhecimento: teve papel fundamental para que a imagem do negro fosse marginalizada perante toda a sociedade.
Neste cenário de marginalização, os negros e os descendentes de escravos começaram a se organizar em movimento de mobilização racial negra no Brasil: grêmios, clubes e associações. Com isso, surgiu a chamada imprensa negra, jornais produzidos por negros que tratavam questões da comunidade afro-brasileira. Esses jornais eram importantes para denúncias que a comunidade negra sofria, servia como uma fonte de informação para a própria comunidade sobre o que estava acontecendo na sociedade, mas com o olhar especial voltado para as pessoas não brancas.
É interessante pensar sobre a religião na cultura negra do Brasil hoje em dia, pois, na época da escravidão, os negros não podiam exercer suas crenças livremente, o que aconteceu foi um sincretismo com o catolicismo para que eles pudessem exercer suas práticas religiosas africanas. Assim, nasceram do sincretismo: Batuque, Xambá, Macumba e Umbanda, enquanto se preservaram algumas variações africanas da Quimbanda, Cabula e o Candomblé. Hoje em dia conhecemos a cultura e as religiões de matriz africana que passou por diversas provações para que sua própria cultura e religião continuassem vivas dentro de cada ser humano que estava sofrendo as mazelas na escravidão e que, ainda hoje em dia sofre com a carga histórica e social que essa escravidão causou a toda a humanidade. Por isso, as políticas de igualdade provocam uma maior distribuição do poder e a qualificação da democracia brasileira.