Cardeal Tolentino: anunciem Cristo aos “próximos digitais”

 

Hoje a Igreja “precisa de vocês, queridos influenciadores digitais, para ser o fermento da esperança nestes novos espaços de construção social que são as redes sociais e as redes digitais”. Porque a questão “já não é se vamos ou não interagir com a cultura digital”, este é já um fato irreversível, mas a reflexão que nos é colocada “é saber como fazê-lo”.
Com estas palavras o cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, envolveu centenas de jovens influenciadores digitais na missão “de traduzir culturalmente a mensagem de Jesus” no mundo digital de hoje. Fê-lo na Universidade Católica Portuguesa de Lisboa, na homilia da Missa celebrada após o encontro do Papa Francisco com jovens universitários, promovido pelo Dicastério para a Comunicação.

Conhecer o “próximo digital”
Momentos da Jornada Mundial da Juventude número 37, a decorrer na capital portuguesa até 6 de agosto, um grande evento, para o cardeal Tolentino, para poder aprender a reconhecer o nosso “próximo digital”, porque coloca em contato centenas de milhares de jovens face a face, “para mostrar ao mundo que a guerra, a ditadura da indiferença e da desigualdade entre os seres humanos não são uma eventualidade inevitável”. Os jovens podem assim realizar o sonho do Papa Francisco quando fala da necessidade de construir uma “cultura do encontro” e “nos desafia a ser protagonistas juntos do sonho missionário de chegar a todos”.

Anunciar a fé fora das portas
Caros influenciadores digitais, continuou o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, “agora é com vocês. Cabe a vocês enamorar-se de Cristo, fazer dele o centro de sua história pessoal”.
“O cristianismo tem necessidade de testemunhas que digam  precisamente isso – explicou – que o expressem com credibilidade antes de tudo com a própria vida”. Segundo o cardeal português, o cristianismo contemporâneo precisa da “credibilidade existencial por parte dos cristãos. Mas também precisa de uma credibilidade cultural”. Porque o pior que nos pode acontecer “é falarmos a nós mesmos, reduzir a experiência da fé a uma conversa clandestina ou ao círculo dos já convencidos, agarrando-nos a uma linguagem que os homens e as mulheres de hoje não compreendem. Jesus é uma boa notícia. A missão de hoje pede a vocês habitar o novo Areópago. Pede fantasia e coragem para anunciar a fé fora das portas, em contextos heterogêneos, onde a presença tradicional dos religiosos não chega, ou chega de forma transformada e rarefeita”.

“Façam ouvir que vocês são a Igreja”
 E por fim, o cardeal Tolentino de Mendonça recordou aos jovens influenciadores que “a Igreja é um trabalho de equipe”: por vezes vemos “que as redes sociais funcionam como uma bolha, onde a polarização e a rejeição facilmente se normalizam”. Assim triunfa “a lógica do espelho e uma certa tribalização do discurso, muito diferente da missão sinodal que Jesus nos confia. Ele nos exorta a caminhar em direção aos outros”. Façam ouvir, foi o seu apelo final ,“vossa capacidade de sonhar, vosso desejo no coração da Igreja. Façam ouvir que vocês são a Igreja. Encham-se de sua juventude, da sua alegria. Ajam como corresponsáveis por ela e sua missão”.

“Influenciadores da ternura e da misericórdia de Deus”
No final da homilia, os jovens aproximaram-se de um grande crucifixo, pintado com as cores da JMJ, para afixarem nele,  cada um, um post-it que lhes foi previamente entregue. Assim, cada jovem ofereceu ao Senhor seu nome de usuário nas redes sociais, escrito cuidadosamente no post-it ao chegar.
Posteriormente, monsenhor Lucio Ruiz, secretário do Dicastério para a Comunicação, pedindo a bênção do cardeal celebrante sobre os jovens influenciadores, os definiu como “influenciadores da ternura e da misericórdia de Deus” como Maria.
Há um ano - explicou Ruiz – o projeto “A Igreja te escuta”, que  acompanha o Sínodo da Igreja, definido como “Sínodo Digital”, descobriu este rio de graça, amor e missão, colocando-os juntos, fazendo sentir neles o carinho da Igreja, que vê e valoriza a missão e os estimula a ser uma “Igreja em saída” e a ir “até os confins existenciais”.

Ruffini: somos todos missionários digitais
Antes da celebração, no primeiro encontro (sexta-feira à noite, 4 de agosto, o segundo, depois da Via Sacra da JMJ), as palavras de boas-vindas do prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, e do secretário Ruiz, que deram a todos os participantes uma pequena cruz de madeira e um ícone abençoado pelo Papa Francisco.
Ruffini agradeceu a todos os jovens influenciadores “por terem acompanhado com suas reflexões pastorais a nossa reflexão pastoral sobre a presença cristã nas redes sociais”. Se o digital é o nosso tempo, explicou, “somos todos missionários digitais. Devemos estar todos plenamente presentes.” Os jovens como nativos digitais, e “quem, como eu, vem de outra época”, como migrantes digitais.

Uma rede que liberta e não captura
 Juntos para “fazer rede entre nós”. O Dicastério procurou propor isso com o documento “Rumo à presença plena”. Agora é a hora de passar das palavras à ação. “Construir  nas redes sociais uma comunicação verdadeiramente diferenciada. Capaz de criar comunhão”.
Segundo o prefeito do Dicastério para a Comunicação, deve ser criada “uma rede de testemunhas conscientes da diferença entre o Espírito que nos une e os algoritmos que são incapazes de perceber o amor em que tudo existe”. Testemunhas capazes de “se doar aos outros, sem fingir ser alguém. Só assim nossa rede será diferente. Uma rede de liberdade que te liberta, não te prende. Uma rede animada – como nos disse ontem o Papa – por uma “boa inquietação”.

Tagle: “Só Jesus nos torna verdadeiros influenciadores”
 Entre os concelebrantes também o cardeal Luis Antonio Tagle, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, que fez votos que os influenciadores digitais encontrem “uma maneira de entender e praticar a influência com base no Evangelho ou, melhor ainda, aprender com Jesus como influenciar os outros”. E os convidou a guiar seus bispos, sacerdotes, religiosos e coetâneos “neste território como terreno fértil para o ministério e a missão”: lembrando que “todo influenciador que quer ser evangelizador deve ser influenciado por Jesus e seu Evangelho. Só Jesus fará de nós verdadeiros influenciadores. O mundo já tem muitos falsos influenciadores para falsos propósitos.”

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