Igreja no Brasil celebra o 3º Ano Vocacional

Terceiro Ano Vocacional da Igreja no Brasil será celebrado até 26 de novembro de 2023

 

O terceiro Ano Vocacional da Igreja no Brasil será celebrado de 20 de novembro de 2022 a 26 de novembro de 2023. A iniciativa comemora os 40 anos do primeiro ano temático dedicado à reflexão, oração e promoção das vocações no país. A proposta foi apresentada pela Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB.
Inspirado no Documento Final do Sínodo dos Bispos sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional” o tema do Ano Vocacional 2023 é “Vocação: Graça e Missão” e o lema “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24, 32-33).

O tema “Vocação: Graça e Missão” se fundamenta na afirmação de que “a vocação aparece realmente como um dom de graça e de aliança, como o mais belo e precioso segredo de nossa liberdade”, conforme o Documento Final de n.º 78. Já o texto bíblico iluminador “Jesus chamou e enviou os que ele mesmo quis (cf. Mc 3, 13-19)” ajuda a aprofundar que a origem, o centro e a meta de toda a vocação e missão é a pessoa de Jesus Cristo. O lema “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24, 32-33) fala do coração e dos pés. Recorda os discípulos de Emaús. O coração que arde ao escutar a Palavra do Ressuscitado e os pés que se colocam a caminho para anunciar o encontro com o Cristo.

HISTÓRICO
A 1º edição do Ano Vocacional do Brasil ocorreu em 1983, com o tema “Vem e segue-me”, e permitiu ampliar o conhecimento de que toda a comunidade cristã é responsável pela animação, cultivo e formação das vocações.
Já a 2º edição, em 2003, tratou da temática “Batismo, fonte de todas as vocações”, e ajudou a promover um novo despertar vocacional e a conscientizar para a vocação e missão batismal na comunidade eclesial e na sociedade.
Nesta 3º edição, conforme consta no texto-base, a meta é promover “a cultura vocacional nas comunidades eclesiais, nas famílias e na sociedade, para serem ambientes favoráveis ao despertar de todas as vocações, como graça e missão, a serviço do Reino de Deus”.

Entrevista – Dom Salm

Em entrevista concedida ao padre Luiz Miguel Modino, assessor de comunicação do regional Norte 1 da CNBB, o bispo de Novo Hamburgo (RS) e presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, dom João Francisco Salm, faz uma reflexão sobre o tema vocação e sua particular importância na vida de todos os batizados.  
O 3º Ano Vocacional, de acordo com dom Salm, não é uma campanha para captar pessoas para os seminários e congregações religiosas, mas um tempo intenso de evangelização com o espírito da Iniciação a Vida Cristã (IVC), segundo a inspiração catecumenal que introduz a pessoa na relação com Deus, com a pessoa de Jesus e na comunidade que também é missionária. Confira abaixo parte da entrevista.

O que o senhor espera que o Ano Vocacional aporte à Igreja do Brasil? 
Eu espero que de fato essa compreensão bonita, grande, ampla de vocação e das vocações específicas, isso se torne cada vez mais claro para todos, na família, na comunidade, nas pastorais, nos movimentos, na catequese, em todos os espaços onde se formam e se forjam cristãos. Que isso se torne uma coisa cada vez mais clara, consciente de que a minha vida é uma resposta a uma iniciativa de Deus. Quanto mais se fizer essa explicação, e não só a explicação, pois o fato de entender não resolve ainda, seja feito em um olhar mistagógico, que realmente leve ao encontro com Deus.  
Que a pessoa faça seu ato de fé, e que nesse ato de fé ela consiga dar sua resposta generosa e uma forma concreta de amar, já que a vocação de todos nós é amar, um amor que se concretiza em cada vida particular, em cada pessoa. Quanto mais a pessoa vai amadurecendo e vai fazendo da sua vida uma oferta aos outros, mais ela consegue ser uma presença luminosa no meio dos outros, o fermento que Jesus nos pede. Nós vamos dar grandes passos em relação a isso, os tempos de hoje exigem isso para ter uma identidade cristã e católica, e acho que vamos dar muitos passos. 
Tenho notado que há muitos grupos animados nas dioceses, nas paróquias, nas congregações. Houve uma acolhida muito grande dessa proposta do Ano Vocacional e o pessoal está correspondendo bastante. É um momento de graça realmente, os frutos só Deus sabe, mas eles vão aparecer.  

Como entender a vocação em vista da sinodalidade? 
Não dá para ser cristão sem viver a comunhão, a unidade. A sinodalidade é comunhão, é união, a qualquer preço, e isso por um compromisso com Deus, uma disciplina. É uma espiritualidade, um modo de pensar, de ser, de agir, que não elimina o debate, uma dialética. Mas isso sempre num caminho que não promove divisão. Hoje temos muitas pessoas que discordam e até se apresentam com bastante eloquência e acabam convencendo, mas acabam dividindo, e aí tem um tentáculo de algo que não é bom.  
As vocações precisam ser entendidas antes de tudo como uma relação pessoal com Deus, que se revelou em Jesus Cristo, com a força do Espírito Santo, e que nos pede que vivamos juntos como Igreja, como povo, como assembleia daqueles que Deus convocou. Convocados por Deus, todos participamos de uma mesma Igreja e aqui nós nos ajudamos, nós podemos até divergir no modo de pensar, mas enquanto vivência do Evangelho, exercício do amor, da fraternidade, isso deve estar acima de qualquer preço.
É uma coisa grande, mas exige da gente humildade, fé, coragem, lucidez, uma espiritualidade saudável, verdadeira, uma abertura para o mundo, para a vida. Vocação numa Igreja sinodal é antes de tudo comunhão, não é para eu ter o meu lugar só, e eu ter os meus direitos, é uma doação em uma comunidade de vida. Pode ser uma pequena comunidade a partir da família, comunidade religiosa, mas também comunidade de fé, de Igreja, com os irmãos e irmãs na fé.

O grande objetivo geral deste Ano Vocacional é promover uma cultura vocacional nas comunidades eclesiais. Como concretizar isso? 
Cultura é uma palavra que nem sempre é tão popular, apesar de significar tudo o que é do povo, o que é da nossa vida, o modo de pensar, de ser, de agir, de se relacionar, como se vive na comunidade a fé, nas nossas catequeses, os movimentos, as pastorais, que haja ali um clima favorável a esse encontro com Deus, a essa compreensão de olhar o mundo ao redor, de responder aos desafios que existem, olhar o pobre, o necessitado, olhar esses ambientes de pessoas de onde sobe um clamor que Deus ouve e aqui Ele responde enviando pessoas que se sensibilizam e se põe a caminho. 
Isso é muito bonito quando se começa a compreender que não é que Deus pega alguém pelo cangote, pelo colarinho, e puxa para cá e para lá. Deus nos predispõe com sua graça, uma predisposição que Ele cria dentro da gente. Se a gente começa a perceber que Deus nos fez capazes de amar, capazes de dar a vida, e Ele nos deu inteligência de verdade, age através desses dons que nos concedeu, para a gente poder usar a própria liberdade e a gente ir tomando iniciativas, dando respostas a partir da vontade da gente. 

A vocação não é um fatalismo, não é uma coisa predeterminada, que está escrito nas estrelas, que é um escrito de teatro, porque o diálogo vocacional respeita sempre a liberdade humana. Essa compreensão de vocação assim vai ajudando a gente a sentir-se mais digno, mais corresponsável com Deus e colaboradores com Ele.  

Ele opera nossa vida, mas nós também operamos a nossa parte. Ele sabe que tudo depende dele, mas Ele nos deu inteligência de verdade para se colocar à disposição. Jesus diz: “se tu queres, e a gente também tem que querer”. Essa temática vocacional é muito bonita, biblicamente, antropologicamente e de fé profunda. A mim me ajuda muito em minha vida pessoal compreender assim essas coisas, cada vez mais, pois a gente sabe tão pouco. Mas isso me ajuda demais quando começo a pensar esse lado da fé vivida assim, nessa relação com Deus, que me ajuda a ver o mundo ao meu redor e me dá forças de inspiração para me colocar a caminho. 

Oração do Ano Vocacional
Senhor Jesus,  enviado do Pai e Ungido do Espírito Santo, que fazeis os corações arderem e os pés se colocarem a caminho, ajudai-nos a discernir a graça do vosso chamado e a urgência da missão. 
Continuai a encantar famílias, crianças, adolescentes, jovens e adultos, para que sejam capazes de sonhar e se entregar, com generosidade e vigor, a serviço do Reino, em vossa Igreja e no mundo.
Despertai as novas gerações para a vocação aos Ministérios Leigos, ao Matrimônio, à Vida Consagrada e aos Ministérios Ordenados.
Maria, Mãe, Mestra e Discípula Missionária, ensinai-nos a ouvir o Evangelho da Vocação e a responder com alegria.
Amém!

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