Mensagem Pastoral em Combate ao Novo Coronavírus

 

Foto: Luiz Estumano.
 
Em constante preocupação com o povo de Deus, a Arquidiocese de Belém torna público novas medidas em combate a expansão do Coronavírus (COVID-19). As são assinadas pelo Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, e Dom Antônio de Assis Ribeiro, Bispo Auxiliar, para todas as forças vivas da Igreja, após reunião e reflexão dos bispos e o Conselho Episcopal e o Conselho Presbiteral.
 
As medidas orientam a todos de forma efetiva ao acompanhamento das indicações das autoridades sanitárias e governativas ao combate, salvaguarda e cooperação às ações para o êxito neste momento de crise. Em comunhão com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e com o Papa Francisco, que enviou uma mensagem a todo o país, a Arquidiocese convoca todos à profundas orações aos vitimados, os necessitados e aos profissionais que lutam incansavelmente mediante a tantos riscos. As indicações também orientam a todos em como viver quaresmal e o período pascal, momento oportuno para intensas ações de fé.
 
Outro ponto principal da Nota é a suspensão de todas as celebrações públicas da Santa Missa, assim como outras celebrações, novenas e festividades, até novas determinações. Os fiéis podem acompanhar as celebrações via meios de comunicação da Arquidiocese e das paróquias, celebradas de forma reservadas sem a participação de fiéis. As orientações estendem-se destacadamente aos idosos e pessoas de riscos, que permaneçam em suas casas e não se dirijam às igrejas de forma alguma.
 
Para as demais ações paroquiais, em tempo de quaresma, seguiu-se orientações específicas proferidas pela Santa Sé.
 
Veja na íntegra:
 
MENSAGEM PASTORAL “TEMPO OPORTUNO”
 
Aproximemo-nos seguros e confiantes, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça do auxílio no momento oportuno”.
 
“Humilhai-vos, pois, sob a poderosa mão de Deus, para que, na hora oportuna, ele vos exalte. Lançai sobre ele toda a vossa preocupação, pois ele é quem cuida de vós. Sede sóbrios e vigilantes. O vosso adversário, o diabo, anda em derredor como um leão que ruge, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé, certos de que iguais sofrimentos atingem também os vossos irmãos pelo mundo afora. Depois de terdes sofrido um pouco, o Deus de toda a graça, que vos chamou para a sua glória eterna, no Cristo Jesus, vos restabelecerá e vos tornará firmes, fortes e seguros. A ele pertence o poder, pelos séculos dos séculos. Amém”.
 
Vivemos tempos muito exigentes, nos quais é provada a nossa fé e a nossa perseverança. É hora de lançar na poderosa mão de Deus todas as nossas preocupações, sabendo que ele cuida de nós e nos carrega no colo de seu amor providente.
 
Nos primórdios da Igreja o distintivo dos cristãos sempre foi o amor recíproco. De fato, dizia-se deles: “Vejam como se amam e estão prontos a dar a vida uns pelos outros”. A humanidade está vivendo um momento em que podemos pôr em prática, mais do que nunca, essa norma de vida. A dor nos irmana e nos torna mais humanos. E hoje, nós temos um sofrimento comum a todos: a pandemia do coronavírus. Em todos os pontos do planeta estamos sob a mesma ameaça. A insegurança e o instinto de preservação podem nos tornar egoístas e individualistas. Porém, o que estamos vendo é a disseminação global da solidariedade, da ajuda e do apoio recíprocos, da disponibilidade em auxiliar os que mais precisam, do amor fraterno que se revela em todos os lugares. É assim que venceremos essa ameaça, unidos, apoiando concretamente quem se encontra em dificuldade.
 
Diante da pandemia, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em comunhão com o Papa Francisco, enviou uma mensagem a todo o país, convocando a Igreja à oração, cujos pontos principais transcrevemos. Em momentos delicados e difíceis como este, é hora de elevar os corações ao Deus da Vida, no acolhimento de sua Palavra, fortalecendo a fé, a esperança e a caridade. Conscientes de que as restrições ao convívio não durarão para sempre, aprendamos a valorizar a fraternidade, tornando-nos ainda mais desejosos de, passada a pandemia, podermos estar juntos, celebrando a vida, a saúde, a concórdia e a paz. Conscientes ainda, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como Dom e Compromisso, tema da Campanha da Fraternidade deste ano, rezamos também pelos profissionais que incansavelmente trabalham por uma solução. Sejamos disciplinados, obedeçamos às orientações e decisões para nosso bem e não nos falte o discernimento sábio para cancelamentos e orientações que preservem a vida como compromisso com nosso dom mais precioso. Todos somos convidados, em espírito quaresmal, a jejuns, sacrifícios, orações incessantes, vigílias, adoração reparadora ao Santíssimo Sacramento nos lugares em que o povo, por algum motivo, ficar sem a Santa Missa. Nossas ações humanas são muito importantes, mas devemos usar as “armas” mais fortes, que terão muito mais eficácia. Façamos um verdadeiro combate pelo bem de nossa alma e da Igreja.
 
É bom recordar ao nosso povo que todas as medidas tomadas pelas autoridades sanitárias e governativas têm como fundamento o bem comum, o que pede nossa adesão plena e obediência estrita. O isolamento social que é agora pedido redundará em bem para todos. Nenhum de nós deve se contrapor a tais medidas, sob pena de consequências drásticas para a saúde e a vida de todos. Trata-se de uma guerra contra um vírus, a ser vencida com a participação de todos!
 
Como “virar o jogo”? Sem nos sentirmos constrangidos por ficar em casa, tomemos posse de tal situação, não permitindo que nos seja roubado o direito de ir e vir, mas vivendo bem as limitações impostas, com toda razão, por quem de direito. Propomos que se aproveite o fato de as famílias terem mais tempo com os filhos, quando o ritmo frenético de trabalho e outras atividades fazem os pais terem pouco tempo com as crianças. E este pode ser um tempo privilegiado para valorizar as relações familiares, o diálogo, a oração, a leitura orante da Palavra de Deus, a lembrança da história familiar.
 
Para este período, o Papa recorda como receber o perdão sem o sacerdote, para pessoas em fim de vida, famílias fechadas em casa e impossibilitadas de procurar um padre. O Papa lembrou o Catecismo e a “contrição” que perdoa os pecados na expectativa da confissão. A salvação das almas é a lei suprema da Igreja, o critério fundamental para determinar o que é justo. É por isso que a Igreja sempre procura, de todos os modos, oferecer a possibilidade de se reconciliar com Deus a todos aqueles que o desejam, que estão em busca, esperando, ou que, de alguma forma, se dão conta de sua condição e sentem a necessidade de serem acolhidos, amados e perdoados.
 
Nestes tempos de emergência devido à pandemia, com pessoas gravemente doentes e isoladas nas unidades de terapia intensiva, bem como para as famílias que são solicitadas a permanecerem em casa para evitar a difusão do contágio, é útil lembrar a todos a riqueza da tradição. Ensina o Papa Francisco: “Se você não encontra um sacerdote para se confessar”, fale com Deus, ele é seu Pai. Diga-lhe a verdade: ‘Senhor, eu fiz isso e aquilo. Perdoa-me’. Peça-lhe perdão de todo o coração, com o Ato de Contrição e prometa: ‘Depois, eu vou me confessar, mas perdoa-me agora’. E logo você retornará à graça de Deus. Você pode se aproximar, como o Catecismo nos ensina, do perdão de Deus sem ter um sacerdote. Pensem nisso: este é o momento! E este é o momento certo, o momento oportuno. Um Ato de Contrição bem feito e a nossa alma se tornará branca como a neve”.
 
A Santa Sé concedeu indulgências especiais aos fiéis afetados pela doença Coronavírus (Covid-19), bem como aos profissionais de saúde, familiares e todos aqueles que, também em oração, cuidam deles. “Alegre na esperança, constante nas tribulações, perseverante na oração”. As palavras de São Paulo ressoam por toda a história da Igreja e orientam o julgamento dos fiéis diante de todo sofrimento, doença e calamidade. O momento atual em que toda a humanidade está ameaçada por uma doença invisível e insidiosa, que já há algum tempo entra fortemente na vida de todos, é marcada dia após dia por medos e angústias, novas incertezas e, acima de tudo, sofrimento físico generalizado e moral.
 
A Igreja, seguindo o exemplo de seu Divino Mestre, sempre teve no coração assistência aos enfermos. Como indicado por São João Paulo II, o valor do sofrimento humano é duplo: “É sobrenatural, porque está enraizado no mistério divino da redenção do mundo, e é profundamente humano, porque nisto o homem encontra a si mesmo, a própria humanidade, dignidade e missão” . A indulgência plenária é concedida aos fiéis afetados pelo coronavírus, submetidos à quarentena por ordem da autoridade sanitária em hospitais ou em suas próprias casas se, com uma alma desapegada de qualquer pecado, eles se unirem espiritualmente à celebração da Santa Missa pelos meios de comunicação, à recitação do Santo Rosário, à prática piedosa da Via Sacra ou outras formas de devoção, ou se pelo menos recitarem o Credo, o Pai Nosso e uma piedosa invocação à Bem-Aventurada Virgem Maria, oferecendo esta prova com espírito de fé em Deus e caridade para com nossos irmãos e irmãs, com a vontade de cumprir as condições habituais (confissão sacramental, comunhão eucarística e oração de acordo com as intenções do Santo Padre), o mais rápido possível.
 
Profissionais de saúde, familiares e aqueles que, seguindo o exemplo do bom samaritano, expostos ao risco de contágio, assistem aos pacientes com coronavírus de acordo com as palavras do divino Redentor: “Ninguém tem um amor maior do que aquele que dá a vida pelos amigos” , obterão o mesmo dom da indulgência plenária nas mesmas condições. Além disso, a Penitenciaria Apostólica concede de bom grado a Indulgência Plenária nas mesmas condições na ocasião da atual epidemia mundial, para os fiéis que oferecem uma visita ao Santíssimo Sacramento, ou adoração eucarística, ou a leitura das Sagradas Escrituras por pelo menos meia hora, ou a recitação do Santo Rosário, ou o exercício piedoso da Via Sacra, ou a recitação do Terço da Divina Misericórdia, para implorar a Deus Todo-Poderoso a cessação da epidemia, alívio para aqueles que estão aflitos e salvação eterna de quantos o Senhor chamou a si mesmo.
 
A Igreja ora por aqueles que não podem receber o sacramento da Unção dos Enfermos e do Viático, confiando todos à Divina Misericórdia, em virtude da comunhão dos santos, e concede a fiel Indulgência Plenária no momento da morte, desde que estejam devidamente dispostos e habitualmente tenham recitado algumas orações durante sua vida. A Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus e da Igreja, Saúde dos enfermos e Auxílio dos cristãos, nossa Advogada, ajude a humanidade sofredora, afastando de nós o mal desta pandemia e obtendo todo o bem necessário para nossa salvação e santificação.
 
Para a Arquidiocese de Belém, após oportunas e adequadas consultas, tendo ouvido o Conselho Episcopal e o Conselho Presbiteral, observe-se o que se segue:
 
1. Ficam suspensas todas as celebrações públicas da Santa Missa, assim como outras celebrações, novenas e festividades, até novas e desejadas determinações diferentes.
 
2. As Paróquias que tiverem equipamentos adequados, transmitam celebrações reservadas através de mídias sociais. Para tanto, contamos com o discernimento e o bom senso de nosso presbitério.
 
3. As igrejas permaneçam abertas, limpas e arejadas.
 
4. Teremos três missas diárias transmitidas pela TV Nazaré, Rádio Nazaré e Portal Nazaré, celebradas em local reservado, às 7, 12 e 18 horas. Nos domingos, Missas pela TV Nazaré, às 10 e 18 horas.
 
5. Até que se encerre o período chamado “quarentena”, todas as pessoas estão dispensadas do preceito dominical, podendo acompanhar a Santa Missa pelos meios de comunicação.
 
6. Ficam suspensas até nova orientação todas as reuniões, inclusive do presbitério, assim como outras atividades, inclusive a catequese e encontros de pastorais, grupos e movimentos.
 
7. Recomendamos vivamente que os idosos permaneçam em suas casas e não se dirijam às igrejas de forma alguma. Estes e outras pessoas que fazem parte do grupo de maior risco para desenvolver formas graves da doença, podem acompanhar as celebrações litúrgicas em suas casas, através de nossos meios de comunicação, até que seja superada a pandemia. Sintam-se tranquilas no que diz respeito ao cumprimento do preceito dominical.
 
8. Incentivamos as práticas de piedade em família, como a recitação do terço, novenas, via sacra, leitura orante da Palavra de Deus. Além disso, lembremo-nos da Palavra do Senhor: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa”.
 
9. Para a celebração do Sacramento da Reconciliação, faz-se necessário ter os devidos cuidados com a proximidade do confessor e do penitente. Preferencialmente, as confissões sejam em lugares abertos, deixando aos Vigários Episcopais o discernimento acerca do cancelamento dos Mutirões realizados neste período quaresmal.
 
A Santa Sé deu orientações específicas para a Semana Santa. As Paróquias sigam as indicações que se seguem:
 
A. A Páscoa é o coração do ano litúrgico. Não é uma festa como as outras. Celebrada no arco de três dias, o Tríduo Pascal, precedida pela Quaresma e coroada pelo Pentecostes, não pode ser transferida.
 
B. O Domingo de Ramos seja celebrado com sobriedade, sem procissão. Valha também para outras celebrações a necessária preparação para celebrar os ritos litúrgicos com simplicidade, concisão e piedade.
 
C. A Missa do Crisma, com a renovação dos compromissos dos presbíteros, será celebrada, em nossa Arquidiocese, na segunda-feira santa, dia 6 de abril, às 9 horas, na Catedral da Sé, somente com a presença dos Presbíteros. São dispensados os padres que fazem parte dos grupos de risco.
 
D. O Tríduo Pascal será celebrado na Catedral e nas Igrejas Paroquiais e Áreas Missionárias, mesmo quando não for possível a participação dos fiéis, avisando a respeito da hora do início das celebrações, de modo a que possam unir-se a elas em seus lares. Todas as celebrações da Semana Santa, presididas pelo Arcebispo, na Catedral, sempre seguindo as normas emanadas pelas autoridades competentes, serão transmitidas pela TV Nazaré, Rádio Nazaré e Portal Nazaré, de forma que os fiéis possam acompanhar todas elas, em transmissão direta. As Paróquias que puderem, transmitam suas celebrações pelas mídias sociais.
 
E. Na Quinta-feira Santa, omite-se o lava-pés. No final da Missa na Ceia do Senhor, omite-se a procissão e o Santíssimo Sacramento seja guardado no Sacrário. A Santa Sé concedeu, a título excepcional a todos os sacerdotes a faculdade de celebrar neste dia, em lugar adequado, a Missa sem o povo. Os sacerdotes que não tenham a possibilidade de celebrar a Missa, em vez dela rezarão as Vésperas.
 
F. Na Sexta-feira Santa, na Catedral, nas Paróquias e sedes de Áreas Missionárias, na medida da real possibilidade estabelecida, o Arcebispo e os Párocos celebrem a Paixão do Senhor. Na oração universal, inclua-se uma intenção especial pelos doentes, pelos defuntos e pelos que sofreram alguma perda. O beijo da Cruz, na sexta-feira santa, substituído pela segunda fórmula, ou seja, adoração solene, como previsto no Missal Romano.
 
G. Todas as procissões ficam canceladas na Semana Santa em todas as Paróquias da Arquidiocese. Não haverá o Sermão do Encontro na Praça das Mercês nem o Sermão do Descendimento da Cruz, realizado normalmente após a Celebração da Morte do Senhor.
 
H. O Sermão das Sete Palavras nas três horas da Agonia será realizado na Capela do Colégio Santo Antônio apenas com a presença do Coral e do Pregador, Cônego Vladian Silva Alves. Os fiéis podem acompanhá-lo devotamente em suas casas, pela transmissão de nossos meios de comunicação.
 
I. A Vigília Pascal seja celebrada de forma reservada apenas na Catedral, nas sedes das Paróquias e Áreas e no Carmelo Santa Teresinha. Para o início da Vigília, omite-se o acendimento do fogo, acende-se o círio e, omitindo a procissão, segue-se o precônio pascal. Na Liturgia da Palavra, reduza-se o número de leituras para o que é previsto como essencial. Para a Liturgia batismal, apenas se renovam as promessas batismais.
 
J. Os clérigos que não puderem unir-se à Vigília Pascal celebrada na igreja, rezem o Ofício de Leituras indicado para o Domingo de Páscoa.
 
K. As expressões de piedade popular e as procissões que enriquecem os dias da Semana Santa e do Tríduo Pascal, poderão ser transferidas para outros dias convenientes, por exemplo, 14 e 15 de setembro, na Festa da Exaltação da Santa Cruz e a Memória de Nossa Senhora das Dores.
 
Todas as celebrações agendadas com os Bispos devem ser revistas, ficando adiadas as Crismas estabelecidas para o Tempo Pascal, a não ser que fatos novos justifiquem outra decisão.
 
Todas as Assembleias das Regiões e dos grupos, movimentos e setores de atividade pastoral relativas ao I Sínodo Arquidiocesano de Belém, assim como a realização de seu encerramento, terão seu programa revisto.
Toda e qualquer dúvida que surgir, com relação a estas normas, a Assessoria de Comunicação está à disposição para auxiliar e orientar – (91) 98926-2453 ou comunicacao@arqbelem.org. É importante neste momento, mais do que nunca, a antecipação, o diálogo, a franqueza e transparências das informações.
 
Nossa atitude pastoral deve ser a de ajudar os fiéis a não entrarem em pânico, seguirem as normas das autoridades e manter o clima de oração, fraternidade e serenidade diante de tudo o que está acontecendo.
 
Oportunamente, se houver necessidade, outras orientações serão dadas.

Belém, 23 de março de 2020

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém, Arquidiocese de Belém
 
 

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