Por Dom Julio Endi Akamine, SAC – Arcebispo Metropolitano de Belém

 

Na Bíblia temos muitas passagens que nos exortam à prática da esmola. Você pratica a esmola? É a favor ou contra ela?

Alguns são contra dar esmolas ou alimento aos moradores de rua. Sustentam que isso suja a cidade, que isso “não dá futuro” e causa transtornos para outras pessoas. Defendem que seria melhor doar recursos para organizações que obedeçam às regras da assistência social. Ajudar tais organizações é uma coisa boa, mas simplesmente abolir a prática da esmola seria nos privar da oportunidade de um contato pessoal com os pobres. A esmola é um convite para fazer uma parada, para olhar nos olhos do pobre e oferecer-lhe algo de nós mesmos.

A prática da esmola insere um pouco de compaixão em nossa cidade que se embrutece. Em reação a essa desumanização urbana, ter uma atitude de misericórdia é preparar uma cidade melhor e mais humana para as próximas gerações. É um gesto pequeno, mas pode também ser um passo de amor, um aproximar-se afetiva e pessoalmente daqueles que não são amados, não são queridos, não são desejados por ninguém.

A prática da esmola nos coloca em contato com a miséria de nossa cidade. Encontramos pobres nas ruas: doentes, solitários, desequilibrados, drogados, sem casa, sem afeto. É possível fazer algo por eles, mesmo que a miséria pareça imensa e invencível. A prática da esmola exige que a gente pare ao menos alguns minutos e que deixemos nos tocar no coração. Desse rápido encontro pode brotar a escuta, o envolvimento pessoal, a relação pessoal e personalizante com o pobre.

A esmola deve significar uma atitude de compaixão, não de desprezo, nem de pena humilhante. Os pobres têm necessidade de uma boa palavra e não somente de alguns trocados. Dê, com o dinheiro, uma boa palavra. “O pobre, quando erra, deve ser advertido, e não desprezado. E se nele não encontramos defeito algum, dever ser venerado” (São Leão Magno).

O amor cristão não escolhe quem amar nem quem serão os amigos. Pelo contrário, o cristão ama os pobres que encontra no seu caminho. Podemos dizer que os pobres não têm somente direito de receber nossa ajuda, mas sobretudo de nossa amizade e de nosso amor.

Uma regra que devemos seguir para saber quanto devemos dar de esmola é a regra de Zaqueu. Você se lembra de Zaqueu, que era chefe de cobradores de impostos e muito rico? Ele não deu tudo aos pobres; ele deu o que decidiu com amor. A regra de Zaqueu é a regra da liberdade e do compromisso por amor. É a regra de quem é livre no amor, de quem é grato pela visita do Senhor.

Para os cristãos que querem ser misericordiosos como o Pai, os pobres não são um problema social para ser resolvido. Não! Para os misericordiosos, os pobres são uma questão de família: eles não são um fenômeno social, são irmãos! O primeiro passo para ser misericordioso é sentir o pobre não como uma tarefa de serviço social, mas como “sacramento de Cristo”: tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estava nu e me vestistes.

Uma vez que os cristãos vivem em sociedade, é preciso afirmar que nós temos o direito não só de professar a fé publicamente, mas também de viver e de agir em conformidade com a mesma fé professada sem sofrer cerceamento em nome de um regramento exagerado e intervencionista.

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