“Eucaristia e Oração: Alimento da Caridade” foi o tema do retiro para as religiosas de vários institutos da Arquidiocese de Belém, realizado de 17 a 22 de julho na Cidadela, em Marituba. Dom Antônio de Assis Ribeiro, Bispo Auxiliar de Belém foi o pregador, tomando como base o texto bíblico a 1ª Carta de João, ressaltando o Ágape (amor fraternal).
O retiro começou pelas orientações de Dom Antônio, explicando como se daria a dinâmica nos dias do retiro, segundo uma rotina com momentos para repousar, rezar, meditar, conviver, renovar compromisso, tudo isso em condições de silêncio, autodisciplina, concentração, descoberta da Palavra e escuta da voz de Deus.
A experiência da Oração foi tema da I Meditação, inspirada peloLivro de Esther, 4,17ss, propiciando às religiosas momentos demeditação pessoal no primeiro dia do retiro, pela manhã.
Seguindo a espiritualidade, Dom Antônio proferiu a II Meditação, cujo tema “O amor caritativo e a vida espiritual” destacando que “…a fonte do amor, como sabemos, é Deus Pai. Jesus viveu este amor por todos e pela Igreja, deixando claro: “Amem-se uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). É um amor que chega ao extremo de dar a vida pelos amigos (Jo 15,13). Este é o caminho que nos conduz à Vida e até nossos irmãos”.
A III Meditação tratou das atitudes que a Igreja deve assumir para a evangelização de hoje, parte em que Dom Antônio ressaltou os Estímulos da exortação apostólica Evangelii Gaudium.
Afirmou o Bispo Dom Antônio que “A alegria pelo amor de Jesus por nós, expresso no Evangelho que tem a força de nos renovar; a vontade fervorosa de se dispor a uma conversão pastoral que transforme o nosso amor em espírito e prática missionária. Faz-se urgente tornar missionárias todas as ações e estruturas da Igreja. É preciso sair da acomodação e nos dirigir com coragem, às periferias e às pessoas pobres que aguardam a presença da Igreja; todos os fiéis da Igreja têm a responsabilidade de levar o Evangelho até a casa de cada um e convidar para a participação da vida da comunidade. Temos que ser um grande sinal de esperança (85) e do Reino de Deus”.
O amor de Jesus é comparado no Evangelho ao amor do Bom Pastor pelas suas ovelhas. O Bom Pastor, nos diz Jesus, “é aquele que chega a dar a vida por suas ovelhas” (Jo10,11.14.17. Essas foram as palavras de Dom Antônio na IV Meditação: Jesus, o bom pastor, nosso modelo.
Explicando este tema, Dom Antônio frisou que “ser Bom Pastor exige doação, sacrifício, convivência, mútuo conhecimento (Jo 10,14), amor, afeto, ternura, respeito, reciprocidade. Ser Bom Pastor é, primariamente, ter compaixão pelo povo que padece, não raramente, um rebanho de ovelhas sem pastor (cf. Mc 6,34). Além de tudo, o Bom Pastor é corajoso, profeta, tem espírito crítico defronte aos opositores, mercenários e “guias cegos” (Mt 23,13-16).
O amor compassivo e misericordioso não se faz esperar. Por isso, a evangelização tem urgência, ressaltou Dom Antônio, dirigindo-se às religiosas. “São Paulo, apóstolo, roga a Timóteo que evangelize com urgência (cfr. 2 Tm 4,14). O Concílio Vaticano II afirma que a “Igreja, sal da terra e luz do mundo é, com mais urgência, chamada a salvar e a renovar toda criatura… (AG, 1)”.
Dom Antônio observou que “diante do vazio existencial de hoje, dos preocupantes problemas de acomodação e crises que atingem o cristianismo, de uma sociedade que questiona os valores mais fundamentais da fé e da vida humana, somos chamados a renovar o ardor missionário e a paixão pela Evangelização”.
Ele continua relacionando o exercício de fé como fortalecedor da missão e dos agentes evangelizadores: “a par destas necessidades de conservar a fé dos que pertencem à Igreja e da permanente missionariedade “ad extra” (para fora) que deve nos distinguir, temos que olhar a situação da saúde e condições dos evangelizadores e da população. Há um desafio da preservação da saúde mental, principalmente dos agentes da evangelização”.
A saúde mental envolve todas as dimensões espirituais e corporais do ser humano, alertou Dom Antônio, quando explanou o tema da VI Meditação: preservar a saúde mental. Acrescentou o Bispo que “dela depende todo o equilíbrio psicossomático e espiritual da pessoa”.
Dom Antônio observou que “ultimamente tem havido muitas crises existenciais e formas diferentes de adoecimento. São todas as circunstâncias e múltiplos fatores influentes de fragilidades que nos cercam e invadem provocando distúrbios na saúde mental. Para ter e manter a saúde mental é preciso dar sentido para todas as nossas experiências. Diante das perplexidades que não têm respostas imediatas, é preciso manter várias atitudes preventivas e terapêuticas: sejam espirituais, de fé, como do bom senso humano, da ajuda profissional e das virtudes que a Igreja, sabiamente, tem sempre proposto”.
A última parte da espiritualidade foi a VII Meditação: a necessidade do projeto pessoal de vida (PPV), uma atualização importante para a vida das religiosas, segundo Dom Antônio.
“Quanto à Vida Religiosa Consagrada, especialmente dedicada à Missão de urgência na Igreja, tem-se chegado, ultimamente, a um consenso da necessidade de um Projeto Pessoal de Vida (PPV) dos congregados. Esta preocupação é recente. A ênfase era dada, no passado, à dimensão institucional e comunitária da Vida Religiosa. Com a modernidade e a era contemporânea (pós-modernidade) surge a cultura da subjetividade, liberdade, autonomia, dignidade, direitos humanos, deveres, necessidade do cuidado, relações de afeto e respeito com os indivíduos”.
Dom Antônio afirma que “hoje a força das instituições não está mais nelas mesmas, mas passa pelo cuidado dos indivíduos, suas virtudes e colaboração. O projeto pessoal de vida (PPV) é necessário porque somos essencialmente “indivíduos” cuja pessoalidade e dinamismo depende de cada um. A resposta ao chamado de Deus é, antes de tudo, pessoal e sua qualidade depende de cada um de nós. Na vida religiosa não negamos os dons naturais: razão, inteligência, vontade, criatividade, liberdade, afetividade, sexualidade, energias, mas as canalizamos em prol de um projeto de vida dando-lhes assim um sentido e significado construtivo da pessoa e dos objetivos de compromisso pessoal e comunitário”.
A finalização do retiro deixou evidente que, diante de uma contexto tão amplo de questões sociais, a Vida Religiosa deve olhar, cuidadosamente, para o ambiente em volta convicta que a firmeza de sua vocação também é a sua verdadeira realização. “Nossa resposta vocacional é pessoal, dinâmica, progressiva. Deus nos chama à felicidade, à realização pessoal vocacional. O Projeto Pessoal de Vida é um subsídio a serviço desta meta. A vida religiosa passa por crises que o mundo as passa e, ao mesmo tempo, nos repassa. Tem-se hoje uma sociedade “líquida’, “fluida”, “descartável”, “informe”, que respinga na vida religiosa e consagrada com significativos prejuízos. O Projeto Pessoal de Vida não é garantia de sucesso, felicidade, fidelidade… mas é um bom sinal de compromisso; são balizas orientativas seguras que nos mantêm num caminho previamente traçado, sujeito sempre a progressivas correções”.
A título de conclusão, o retiro ressaltou para as participantes que é necessário ter consciência das novas realidades existenciais, eclesiais e pessoais no mundo pós-moderno das pessoas, dos problemas e necessidades com os quais hoje devemos conviver e lhes dar significado. As religiosas observam a importância de retomar as fontes perenes que iluminam os novos caminhos da humanidade, a partir da sabedoria do Evangelho, da Igreja e dos novos valores conquistados pela humanidade. Por fim, as religiosas percebem que identificar o amor misericordioso e o cuidado de Deus pela humanidade é o motivo propulsor no empenho, zelo e paixão pela missão evangelizadora da Igreja.