CARTA APOSTÓLICA ”Misericordia  et misera” – FINAL

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia terminou dia 20 de novembro. O Papa Francisco publicou a Carta Apostólica “Misericórdia et mísera”. O significativo documento contém 22 pontos, centrados na misericórdia divina. O Jornal Voz de Nazaré segue com a divulgação iniciada na edição 747 (25/11 a 1/12/2016), caderno 2, página10.

CARTA APOSTÓLICA ''Misericordia  et misera''

SANTO PADRE  FRANCISCO 
NO TERMO DO 
JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA

A quantos lerem esta Carta Apostólica, misericórdia e paz!

 
 
20 Somos chamados a fazer crescer uma cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos. As obras de misericórdia são «artesanais»: nenhuma delas é cópia da outra; as nossas mãos podem moldá-las de mil modos e, embora seja único o Deus que as inspira e única a «matéria» de que são feitas, ou seja, a própria misericórdia, cada uma adquire uma forma distinta.
 
Com efeito, as obras de misericórdia tocam toda a vida duma pessoa. Por isso, temos possibilidade de criar uma verdadeira revolução cultural precisamente a partir da simplicidade de gestos que podem alcançar o corpo e o espírito, isto é, a vida das pessoas. É um compromisso que a comunidade cristã pode assumir, na certeza de que a Palavra do Senhor não cessa de chamá-la para sair da indiferença e do individualismo em que somos tentados a fechar-nos levando uma existência cômoda e sem problemas. «Os pobres, sempre os tendes convosco» (Jo 12, 8), disse Jesus aos seus discípulos. Não há desculpa que possa justificar a incúria, quando sabemos que Ele Se identificou com cada um deles.
 
A cultura da misericórdia forma-se na oração assídua, na abertura dócil à ação do Espírito, na familiaridade com a vida dos Santos e na solidariedade concreta para com os pobres. É um convite premente para não se equivocar onde é determinante comprometer-se. A tentação de se limitar a fazer a «teoria da misericórdia» é superada na medida em que esta se faz vida diária de participação e partilha. Aliás, nunca devemos esquecer as palavras com que o apóstolo Paulo – ao contar o encontro depois da sua conversão com Pedro, Tiago e João – põe em realce um aspecto essencial da sua missão e de toda a vida cristã: «Só nos disseram que nos devíamos lembrar dos pobres – o que procurei fazer com o maior empenho» (Gal 2, 10). Não podemos esquecer-nos dos pobres: trata-se dum convite hoje mais atual do que nunca, que se impõe pela sua evidência evangélica.
 
21 Que a experiência do Jubileu imprima em nós estas palavras do apóstolo Pedro: outrora «não tínheis alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia» (1 Ped 2, 10). Não guardemos ciosamente só para nós tudo o que recebemos; saibamos partilhá-lo com os irmãos atribulados, para que sejam sustentados pela força da misericórdia do Pai. As nossas comunidades abram-se para alcançar a todas as pessoas que vivem no seu território, para que chegue a todas a carícia de Deus através do testemunho dos crentes.
 
Este é o tempo da misericórdia. Cada dia da nossa caminhada é marcado pela presença de Deus, que guia os nossos passos com a força da graça que o Espírito infunde no coração para plasmá-lo e torná-lo capaz de amar. É o tempo da misericórdia para todos e cada um, para que ninguém possa pensar que é alheio à proximidade de Deus e à força da sua ternura. É o tempo da misericórdia para que, quantos se sentem fracos e indefesos, afastados e sozinhos, possam individuar a presença de irmãos e irmãs que os sustentam nas suas necessidades. É o tempo da misericórdia para que os pobres sintam pousados sobre si o olhar respeitoso, mas atento, daqueles que, vencida a indiferença, descobrem o essencial da vida. É o tempo da misericórdia para que cada pecador não se canse de pedir perdão e sentir a mão do Pai, que sempre acolhe e abraça.
 
À luz do «Jubileu das Pessoas Excluídas Socialmente», celebrado quando já se iam fechando as Portas da Misericórdia em todas as catedrais e santuários do mundo, intuí que, como mais um sinal concreto deste Ano Santo extraordinário, se deve celebrar em toda a Igreja, na ocorrência do XXXIII Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres. Será a mais digna preparação para bem viver a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se identificou com os mais pequenos e os pobres e nos há de julgar sobre as obras de misericórdia (cf. Mt 25, 31-46). Será um Dia que vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa (cf. Lc 16, 19-21). Além disso, esse Dia constituirá uma forma genuína de nova evangelização (cf. Mt 11, 5), procurando renovar o rosto da Igreja na sua perene ação de conversão pastoral para ser testemunha da misericórdia.
 
22 Sobre nós permanecem pousados os olhos misericordiosos da Santa Mãe de Deus. Ela é a primeira que abre a procissão e nos acompanha no testemunho do amor. A Mãe da Misericórdia reúne a todos sob a proteção do seu manto, como quis frequentemente representá-la a arte. Confiemos na sua ajuda materna e sigamos a indicação perene que nos dá de olhar para Jesus, rosto radiante da misericórdia de Deus.
 
Dado em Roma, junto de São Pedro, em 20 de novembro,  Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo  do Ano do Senhor de 2016, quarto do meu pontificado.
 
FRANCISCO

 
 
 
 

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