Na Sexta-feira Santa, tradicionalmente duas procissões ocorrem quase que simultaneamente em Belém, para relembrar a Via-Sacra, caminho de dor e sofrimento de Jesus. Às 7h, da Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, bairro de Nazaré, iniciou -se a procissão com a imagem de Nosso Senhor dos Passos e, às 8h, da Igreja de São João Batista, na Cidade Velha, a procissão com a imagem de Nossa Senhora das Dores. Ambas têm percursos diferentes, mas o destino é o mesmo: as escadarias da Igreja de Nossa Senhora das Mercês para a realização do Sermão do Encontro, este ano proferido pelo padre Ivan da Silva Conceição, pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo.
A procissão que saiu da Igreja de São João Batista, conhecida como São Joãozinho, relembra o sofrimento de Maria, mãe de Jesus. Meditação e reflexão foram os pontos altos durante as paradas realizadas que simbolizavam as 14 estações da Via-Sacra. A primeira ocorreu logo que imagem de Nossa Senhora das Dores começou a percorre as ruas estreitas do bairro da Cidade Velha; a segunda, em frente ao Abrigo João de Deus.
Segundo Vanda Santos, advogada, que pelo quarto ano participa da procissão, é um momento de reflexão. “Este momento na minha vida é de muita reflexão, não só por mim mais por tantas coisas que têm acontecido no mundo hoje. O caminho que Maria percorre nós sabemos que foi um caminho de dor, mas também Maria foi uma pessoa que sofria em silêncio, então nós como cristãos, principalmente, as mães, se vêem em Maria e, nesse momento dessa caminhada, eu peço por todas as mães que sofrem com seus filhos, que Jesus as abençoe, que Maria também, que nós, seres humanos, sejamos mais dignos da misericórdia de Deus”.
De acordo com o cônego Roberto Cavalli Junior, Cura da Sé, a mensagem que fica é que, diante do sofrimento é importante ter esperança: “Essa reflexão nos ajuda a ver Maria como aquela que acompanha Jesus, ao dar o seu sim a Deus Pai, ao chamado de ser a mãe do Salvador. As escrituras nos lembram que ela sempre guardava tudo no coração e, quando vai ao templo, Simeão lhe diz: uma espada transpassará a tua alma. Hoje, então, nos lembramos disso: quando Maria vê o sofrimento de Jesus, seu coração está triste, está doloroso por ver o seu filho sofrer, mas ela continua o caminho. Mensagem que fica para todos os cristãos: mesmo com o nosso sofrimento, mesmo com as nossas dificuldades, devemos ter esperança de renovar a nossa vida e de alcançar um dia a salvação”.
Vivenciar a experiência de Maria, que caminhou firme. Foi o que muitos fizeram, como, por exemplo, Maria do Perpétuo Socorro da Silva, pedagoga, que faz o percurso há vários anos: “Acompanho a procissão de Nossa Senhora das Dores desde criança, tradição ensinada pela minha avó que me criou. Hoje faço o mesmo com os meus filhos. Essa procissão para mim tem um valor muito especial, porque quando eu era criança eu vi essa cena, eu vi a imagem de Nossa Senhora das Dores no meu quarto e fui contar para minha avó. Quando entrei na Igreja de São João Batista, falei para minha avó que tinha visto a imagem de Nosso Senhora das Dores e, desde então eu tenho esse amor por ela. Hoje, foi uma emoção muito forte, porque todos os anos eu participo da procissão, mas é a primeira vez que eu conduzo a imagem d’Ela”.
Sermão do Encontro
Após o percurso de mais de duas horas, a Imagem de Nosso Senhor dos Passos e de Nossa Senhora das Dores se encontram em frente à Igreja de Nossa Senhora das Mercês, no bairro do Comércio. O percurso da Procissão com a imagem de Nossa Senhora das Dores foi alterado da Avenida 16 de Novembro para a Rua Manoel Barata, devido à maré alta. A mudança não interferiu no andamento da procissão.
Posicionadas frente a frente, a imagem de Jesus com a cruz e a de Maria, padre Ivan da Silva Conceição proferiu o Sermão do Encontro, destacando que a Sexta-feira Santa, dia 19, não se repetiria mais e que, cada um, deveria viver intensamente, pois é único. Na oportunidade, recordou o dia em que Dom Alberto lhe fez o convite para que proferir o Sermão do Encontro, momento em que se sentiu muito pequeno e destacou a emoção de fazer parte de um quadro contemplado na Sexta-feira da Paixão.
Destacou o encontro e o que ele trouxe para o mundo: “Nesse encontro tantos mártires, tantas mães aflitas, tantos filhos pródigos encontram forças, se é verdade, amados irmãos e irmãs, que a imagem de um homem carregando uma cruz pesada, que a imagem de uma mãe chorando pela dor do filho, se é verdade que isso machuca, é verdade também que é desse encontro que tiramos forças para o nosso dia-a-dia. É desse encontro, porque é depois dele que nós começamos a contemplar uma nova realidade humana, uma nova realidade de salvação”.
Em seguida, foi entoado o canto de Verônica. Segundo a tradição Verônica teria corrido até Jesus enquanto ele carregava a cruz e limpado o rosto d’Ele cheio de sangue e suor. Quando retirou o véu, o rosto de Cristo ficou estampado no pano. Ao canto de Verônica foi exibida a estampa da face de Jesus. Ao término, as imagens foram conduzidas em procissão a Catedral: na frente, a de Nosso Senhor dos Passos e, logo atrás, a de Nossa Senhora das Dores.
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