Dom Paulo Andreolli, SX- Bispo auxiliar de Belém
Caros leitores, vivenciando o 14º Domingo do Tempo Comum, convido vocês a refletirem, nesta edição, sobre quando Deus escolhe e envia para a missão. E para me acompanhar nesta conversa semanal, conto com a contribuição da professora Sylvia Calandrini, licenciada em Letras e paroquiana da Paróquia Santa Luzia (Jurunas).
O centro da liturgia deste domingo é o Evangelho de Lucas (10,1 9), em que Jesus envia os setenta e dois discípulos, dois a dois, como cordeiros no meio de lobos, para anunciar que “o Reino de Deus está próximo” e curar os enfermos. A orientação é clara: viver em comunhão, partilhar a paz, depender da acolhida e ser pacífico, mesmo diante da hostilidade.
Para nós, desejosos de sermos seguidores do verdadeiro Mestre, são palavras que nos orientam à reflexão sobre a nossa própria missão: se nos comprometemos com o anúncio da Boa Notícia, devemos ter coragem e agir com confiança n’Aquele que nos enviou, levando a paz e a alegria, principalmente, aos mais necessitados.
Nossa Igreja Católica é missionária desde sua origem e ainda hoje ecoa o mandato de Jesus, como percebemos nas primeiras palavras proferidas pelo recém-eleito, Papa Leão XIV: “Precisamos tentar, juntos, ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes e diálogo, sempre aberta a receber […] com os braços abertos a todos aqueles que precisam da nossa caridade e da nossa presença”. E, assim, todos temos um papel a desempenhar na construção do Reino de Deus.
Essa missão ressoa, por exemplo, na ação da Pastoral da Criança, fundada pela Dr.ª Zilda Arns Neumann, em 1983. Inspirada no exemplo dos apóstolos de Jesus, Zilda quis levar a paz do Evangelho às casas mais frágeis do Brasil, curando com ciência e espiritualidade. Formou líderes voluntários, que se deslocam – “dois a dois” em cada comunidade – para visitar gestantes e crianças pequenas, levando orientações sobre saúde, nutrição, vacinação e, sobretudo, a paz de saber que Deus cuida.
Assim como Jesus mandou – “não leveis bolsa nem sandálias… dizei: ‘Paz a esta casa’… curai os enfermos” (Lc 10,4 9) – Zilda concretizou esse estilo de evangelização popular: enxergou na solidariedade um instrumento do Reino. As visitas regulares, as pesagens, o incentivo ao aleitamento materno, o aconselhamento alimentar são sinais que traduzem a pedagogia cristã.
A oração é valorizada também, porque Zilda sempre dizia que, para trabalhar bem, era preciso rezar pedindo operários, “pois a messe é grande e os operários são poucos” (Lc 10, 2). Os líderes são treinados a manter viva a espiritualidade comunitária com grupos de oração, formações e celebrações de vida – abrindo o coração para Deus, em sintonia com o apelo de Jesus.
De fato, caros leitores, como os líderes da Pastoral da Criança, cada pessoa tem um chamado a viver a fé plenamente, sem esperar que “outros o façam”. Também se faz a convocatória ao desapego: “não levar bolsa, nem sandálias”, isto é, confiar na providência e na acolhida de cada comunidade.
Não cabe, portanto, o medo, pois Aquele que envia está conosco, e a paz e o cuidado se fazem presentes: “dizei: ‘Paz a esta casa’…curai os enfermos”. A Pastoral da Criança, ao longo de tantos anos de missão, expressa isso na prática da visita familiar e na promoção da vida.
É dessa forma que essa Pastoral, presente também na Arquidiocese de Belém, nos faz ver hoje os sinais do Reino: a cura, o alimento, a convivência digna – tudo isso são sinais concretos da Boa Nova entre as pessoas mais vulneráveis. Retornando ao discurso inicial do Papa Leão, “queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que avança, que busca sempre a paz, busca sempre a caridade, busca sempre estar próxima, principalmente, daqueles que sofrem”.
Para concluir, convidamos para celebrar a alegria do Evangelho na confiança de que é Jesus quem nos chama para uma vida com propósito e reacendemos o compromisso de Zilda Arns e de tantos missionários anônimos que levam o Cristo sofrido e amado às periferias. Rezemos para que Deus envie mais operários e operárias, a fim de que a messe continue abundante e fecunda, e que possamos responder, adequadamente, Àquele que nos enviou.