Por Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo Auxiliar de Belém
Caros leitores, nesta semana propomos uma leitura voltada para o belo e vibrante sentido da MissãoAd Gentese para me ajudar nesta oportunidade conto com a colaboração do missionário Xaveriano, padre René Casillas Barba, SX.
Para início de conversa, lembramos que a MissãoAd Gentespermanece uma urgência pastoral e teológica diante da complexidade dos contextos contemporâneos. A globalização e a pluralidade cultural exigem da Igreja uma evangelização capaz de escutar, inculturar e anunciar com humildade e precisão. Sem essas abordagens, corre-se o risco de reduzir a missão a um programa dogmático, ou a um ativismo superficial. Como afirma Almeida (2020), “a missão hoje exige uma Igreja em saída, capaz de escutar os clamores do mundo e responder com ações concretas de justiça e cuidado”.
Embora a globalização amplie horizontes, ela também acentua desigualdades: exclusão econômica, traumas históricos e injustiças ambientais. A missão evangelizadora é chamada a enfrentar essas realidades com coragem profética. Evangelizar não é apenas transmitir doutrinas, mas comprometer-se com a justiça social e o cuidado integral. A missão torna-se diaconia encarnada, traduzida em ações que tornam o anúncio do Evangelho crível, transformador e enraizado na vida concreta dos povos.
A formação missionária é elemento decisivo. Como destaca Brighenti (2020), “a missão precisa ser compreendida como expressão da Igreja que se renova a partir do Concílio Vaticano II, superando modelos coloniais e abrindo-se ao diálogo com a cultura”. Isso exige comunidades e instituições abertas à teologia contextual, programas de formação laical e redes de intercâmbio entre igrejas particulares. A missão contemporânea se constrói na sinodalidade, na escuta mútua e na partilha de experiências.
Nas realidades urbanas, a missão exige presença sensível e comprometida com os desafios cotidianos. Trata-se de promover corresponsabilidade, escuta ativa e abertura ao diálogo com as culturas locais. A missão urbana não se limita a espaços físicos, mas se realiza na convivência, na solidariedade e na construção de vínculos.
Essa dimensão espiritual e pastoral deve estar enraizada na reconciliação e sustentada pela reflexão teológica. Como afirma Custodio López (2022), “a missão não pode mais ser pensada como expansão, mas como presença reconciliadora e diálogo intercultural” – uma presença que não impõe, mas propõe, e que se constrói na escuta e no serviço. López Villaseñor (2024) aprofunda essa visão ao afirmar que “a Missão Ad Gentes hoje é um êxodo que exige sair dos próprios esquemas culturais e religiosos, em direção aos lugares onde a vida está ameaçada”. Para ele, a missão é universal, mas sempre contextual, vivida como presença hospitaleira na casa do outro, com abertura ao diferente e disposição para aprender.
Inspirada pela parábola do fariseu e do publicano (Lc 18, 9-14), a missão se fundamenta na humildade e na abertura ao outro. “Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”, essa inversão evangélica revela que o verdadeiro anúncio não nasce da superioridade religiosa, mas da disposição sincera de servir. A missão não se impõe; ela se oferece como presença misericordiosa, capaz de reconhecer a própria fragilidade e acolher a alteridade com compaixão. O testemunho do Evangelho ganha força quando é vivido com coerência, simplicidade e ternura.
Diante dos desafios e possibilidades do nosso tempo, a missão exige novas formas de presença e compromisso. A participação comunitária torna-se essencial: expressões eclesiais comprometidas com a transformação social, redes de cuidado e projetos educativos inclusivos revelam uma missão que nasce da fé e se traduz em compromisso com a dignidade humana.
A Missão Ad Gentes é, portanto, um compromisso humilde e contínuo de escuta, formação e ação capaz de transformar vidas. Requer coragem institucional e sensibilidade pastoral para estar presente sem violentar tradições, aprendendo e cooperando com o mundo. Assim, a Igreja assume sua missão como chamada prática e profética, encarnada na história e aberta ao futuro.