Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo Auxiliar de Belém
Caros leitores, começamos mais uma semana com uma sugestão de leitura que nos inspira a seguir na direção da esperança. Este ano, o Jubileu da Encarnação nos convida a observar imagens e refletir sobre a base da nossa fé em Deus. Para este momento, conto com a colaboração de Ir. Ivoneide Queiroz, Franciscana de Maristela.
Recordamos que na área da náutica, ÂNCORA é uma peça de ferro presa em uma corda ou corrente e que serve para imobilizar um objeto flutuante. Geralmente, uma âncora é pesada e bem resistente; ela é ligada a um cabo e depois é atirada ao mar ou rio, servindo para manter firme uma embarcação.
Neste texto, usamos o sentido figurado da palavra “âncora” que indica abrigo, proteção ou apoio. O título “Ancorados na Esperança” nos faz reler a mensagem do Papa Francisco para este Ano Jubilar.
Na Bula Spes non Confundit(A esperança não engana) n. 25, encontramos: “No caminho rumo ao Jubileu, voltemos à Sagrada Escritura e sintamos, dirigidas a nós, estas palavras: ‘Nós que procuramos refúgio n’Ele, encontramos grande estímulo agarrando-nos à esperança proposta. Nessa esperança, temos como que uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior do véu, onde Jesus entrou como nosso precursor’ (Hb 6, 18-20). É um forte convite a nunca perder a esperança que nos foi dada, a mantê-la firme, encontrando refúgio em Deus. A imagem da âncora é sugestiva para compreender a estabilidade e a segurança que possuímos no meio das águas agitadas da vida, se nos confiarmos ao Senhor Jesus. As tempestades nunca poderão prevalecer, porque estamos ancorados na esperança da graça, capaz de nos fazer viver em Cristo, superando o pecado, o medo e a morte”.
Então, se “temos essa esperança como âncora da alma, firme e segura…”, podemos dizer que estamos ancorados na esperança, a qual é, verdadeiramente, um ponto de apoio seguro em meio às tempestades da vida. Assim como uma âncora impede um navio de ser levado pelas ondas, a esperança, nossa âncora, nos mantém firmes, estabilizados, seguros, confiantes.
Talvez, uma das palavras mais ouvidas ultimamente, seja “esperança”. E, de tão repetida, pode ser considerada muito comum, corriqueira, sem o devido efeito que lhe cabe. O tema “Ancorados da esperança”, nos convida a refletir sobre o papel central da esperança na vida cristã. No coração desse tema está Jesus Cristo, Aquele que personifica e sustenta nossa esperança.
A esperança é muito mais do que um simples desejo por algo melhor; é uma virtude teologal que nos conecta a Deus e nos sustenta diante das dificuldades. Em sua dimensão cristã, a esperança não é passiva, mas ativa. Ela se fundamenta na fé e se traduz em confiança no amor de Deus e em sua promessa de redenção.
Nesse sentido, é necessário que a esperança se transforme em ação. Por isso, existe o verbo esperançar, o qual significa almejar, sonhar, buscar, agir, ir atrás, construir, não desistir, levar adiante. É o contrário de esperar, passivamente. A esperança significa a crença de que algo desejado irá acontecer; é também sinônimo de confiança. Geralmente, associamos a esperança aos momentos ruins, às dificuldades, aos desafios, mas podemos ser esperançosos todos os dias e em relação a tudo!
Quando cultivamos a esperança, nos fortalecemos para encarar os desafios do dia a dia. Ela pode ser descrita como o sentimento de quem acredita na realização dos seus desejos ou de quem espera que as coisas melhorem. Assim, é essencial para guiar os nossos passos em direção ao futuro, mesmo em meio às adversidades.
Ao nos encontramos em uma situação que parece não ter saída, a tendência é ficarmos desesperançosos. Muitas situações podem destruir a esperança de se ter uma vida alegre e cheia de realizações. E aí aparece o pessimismo que também tem a capacidade de acabar com a esperança, dado que a pessoa pessimista tende a ver somente o lado ruim das situações e das pessoas.
A frase transcrita a seguir pode nos ajudar nessa reflexão: “O pessimista reclama do vento, o otimista espera que ele mude, o realista ajusta as velas”. Essa frase nos mostra o segredo para a superação das dificuldades: o pessimista se prende ao problema, o otimista se prende à esperança, e o realista, ao ajustar as velas, mostra AÇÃO.
A esperança é importante, mas não aquela esperança de “esperar de braços cruzados”. Esta pode ser frustrante! Por isso falamos de ESPERANÇA ATIVA, ou “esperançar”; isso aprendemos com Paulo Freire. Em seu livro, Pedagogia do Oprimido, ele diz: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo… Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo. Não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã”.
A esperança ativa não ignora a realidade, mas age para transformá-la, pode ser um motor para a mudança. “Ajustar as velas” não significa se render ao vento, mas dominar sua força, transformando desafios em impulsos para avançar. São Paulo, em sua carta aos Romanos, ensina que “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).
Por fim, essa esperança nos desafia a olhar para o futuro com coragem, mas também a viver o presente com responsabilidade. Somos chamados a ser testemunhas da esperança, afinal, estamos ancorados na Esperança. Em um mundo marcado por conflitos, desigualdades e crises, a esperança cristã é um ato de resistência à desesperança. É um compromisso com a vida e com a redenção. Estar ancorados na esperança, que é Cristo, significa confiar que, com Ele estamos seguros.