Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo Auxiliar de Belém
Caríssimos leitores, eis que chegamos ao último domingo do calendário litúrgico, com a Solenidade de Cristo, Rei do Universo. Fizemos uma bonita jornada ao longo deste ano, regada de muitos sinais de esperança.
A Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, marca o encerramento do Ano Litúrgico na Igreja, conduzindo os fiéis a contemplarem o sentido último da história: tudo caminha para Cristo, princípio e fim. A liturgia apresenta um rei que contraria todas as expectativas humanas: crucificado, coroado de espinhos, zombado pelos soldados e autoridades. Ainda assim, é exatamente ali, no alto da cruz, que Ele reina – não com imposição, mas com amor, até as últimas consequências.
O Evangelho de Lucas (23,35-43) nos introduz diretamente na cena do Calvário. Jesus é desafiado a provar seu poder: “Salva-te a ti mesmo, se és o Rei dos judeus!”. Mas Ele não responde com milagres nem com força. Sua realeza é revelada em silêncio, compaixão e entrega. O gesto mais comovente é seu diálogo com o chamado “bom ladrão” que, ao reconhecer a inocência de Jesus, suplica: “Lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. Ao que Jesus responde: “Hoje estarás comigo no paraíso”.
Essa cena encerra o mistério do reinado de Cristo: Ele é Rei porque salva, acolhe, perdoa e oferece esperança mesmo nos últimos instantes da vida humana. Seu Reino não é deste mundo, mas já está presente onde há fé, arrependimento, misericórdia e amor.
Na Primeira Leitura (2Sm 5,1-3), somos remetidos ao momento em que Davi é ungido rei de Israel. Ele, escolhido entre os pastores, torna-se figura do Cristo Pastor-Rei, que governa com proximidade e ternura. Na Segunda Leitura (Cl 1,12-20), o hino cristológico nos apresenta o Cristo cósmico: “Imagem do Deus invisível”, “primogênito de toda criatura”, “Aquele que é antes de todas as coisas e tudo Nele subsiste”. Ele é o centro da criação e da redenção, o Rei universal cuja soberania é exercida no amor que reconcilia todas as coisas.
Neste contexto litúrgico, a ligação com o Jubileu da Esperança, proclamado pelo Papa Francisco para o ano de 2025, ganha especial profundidade. O lema “Peregrinos de Esperança” aponta para uma Igreja que caminha na história com os olhos voltados para Cristo, Rei e Senhor, mesmo em meio às incertezas, dores e turbulências do nosso tempo.
Vivemos num mundo marcado por guerras, desigualdades, crises sociais, ambientais e espirituais. Diante disso, o Jubileu da Esperança quer reacender nos corações a certeza de que a última palavra pertence a Deus, e que nenhum sofrimento é maior do que o amor de Cristo. A solenidade de Cristo Rei reafirma isso com força: o Crucificado é o mesmo que reina, e seu trono é a cruz – sinal de entrega e vitória.
O Jubileu nos convida a viver não apenas como espectadores do Reino, mas como colaboradores ativos, chamados a construir aqui e agora os sinais visíveis desse Reino. Como? Praticando as obras de misericórdia, lutando pela justiça, promovendo o perdão, sendo sementes de esperança nos ambientes em que vivemos.
Ser “peregrino de esperança” é ter a coragem do bom ladrão: reconhecer a própria fragilidade e, ainda assim, confiar na misericórdia do Rei crucificado. É olhar para Cristo e dizer com humildade: “Lembra-te de mim”. E é ouvir, pela fé, a promessa que sustenta nossa vida: “Hoje estarás comigo no paraíso”.
A celebração de Cristo Rei e o Jubileu são um chamado à renovação da fé, à conversão e ao testemunho cristão. Não celebramos um rei distante, mas um Deus presente, que caminha conosco, que entra em nossa história ferida para curá-la. Seu reinado é eterno, mas se manifesta no hoje da nossa existência –nos pequenos gestos, no compromisso com os irmãos.
Ao encerrar o Ano Litúrgico com essa solenidade, a Igreja nos envia ao novo tempo: o Advento, com os olhos fixos Naquele que é a fonte da esperança. Celebrar Cristo Rei é proclamar que não estamos à deriva, mas somos conduzidos por Aquele que é sempre fiel.
Que a certeza do reinado de Cristo reacenda em nós a chama da esperança. E que o Jubileu nos encontre preparados, vigilantes e confiantes, proclamando com a vida: “Cristo reina, vive e caminha conosco!”.




