Foi afetividade educada o que permitiu Jesus exprimir toda a sua cólera, de maneira justa, expulsando vendilhões do templo

Por Dom Julio Endi Akamine, SAC – Arcebispo Metropolitano de Belém

Para educar a afetividade é necessário, primeiramente, conhecer as emoções e os sentimentos.

Isso não é óbvio? Sim, mas, infelizmente, as coisas mais básicas parecem ser as que menos damos atenção. A todo momento somos movidos pelos nossos sentimentos, mas não temos consciência disso: somos dominados por emoções que nos fazem agir impulsivamente e de maneira contraditória, ferindo pessoas e a nós mesmos; não sabemos reconhecer os sentimentos alheios, nem acolher as emoções das pessoas com quem nos relacionamos.

Se não queremos continuar vivendo como “analfabetos emocionais”, é preciso aprender a dar nome às emoções para ter consciência delas. Conhecer os sentimentos e emoções, saber os seus nomes é um pressuposto necessário para conhecer a si mesmo e aos outros.

Em si mesmos, os sentimentos não são nem bons nem maus; eles são amorais. Por exemplo, a alegria, enquanto sentimento, não é boa nem má. A tristeza não é, em si mesma, boa ou má. É o que fazemos com tais sentimentos que determina se as nossas ações são boas ou más. Se eu me alegro com o sofrimento do outro, cultivo em mim uma alegria perversa. Se eu fico triste e com raiva, quando vejo uma injustiça cometida contra uma pessoa vulnerável, demonstro uma sadia reação emocional que está fundada em uma boa formação moral.

Para educar a afetividade é preciso integrar os sentimentos e as emoções na prática do bem. Nesse sentido o Catecismo da Igreja Católica afirma de maneira acertada e clara: “As emoções e os sentimentos podem ser assumidos em virtudes ou pervertidos em vícios” (1768).

A educação da afetividade é o que me permite conhecer e aceitar que eu tenha sentimentos de raiva, ódio, cólera, tristeza. A afetividade educada conduz tais emoções para o andar de cima: a vida do espírito, a consciência moral, a razão e a vontade. É nesse andar que se dá o discernimento das motivações dos sentimentos e no qual eles podem ser integrados na prática do bem.

Além disso, para educar a afetividade é necessário exprimir de maneira consciente e construtiva os sentimentos e as emoções. É a afetividade educada que conduz o que foi elaborado e integrado no andar de cima para o de baixo. Posso exprimir sentimentos de raiva ou de alegria, agora, sim, de maneira moral, se estes foram integrados na virtude.

Foi uma afetividade educada o que permitiu que Jesus exprimisse toda a sua cólera de maneira justa, quando expulsou os vendilhões do templo, e sua indignação, quando enfrentou a hipocrisia dos doutores da lei. Foi também a afetividade educada de Jesus que fez com que a sua misericórdia se exprimisse em gestos afetivos de compaixão, de tristeza e de alegria. De fato, “em Cristo, os sentimentos humanos podem receber sua perfeição na caridade e na bem-aventurança divina” (Catecismo da Igreja Católica, 1769).

A plena realização da pessoa humana não consiste somente em que ela seja movida ao Reino de Deus unicamente por sua vontade, mas também por seus sentimentos e emoções. Educar a afetividade consiste em alcançar de maneira prática o ideal que é expresso no salmo 84,3: “Meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo”.

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