Esperamos o Senhor que vem – A esperança da vida eterna e da ressurreição

Foto: Luiz Estumano
Foto: Luiz Estumano

Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo Auxiliar de Belém

 Caríssimos leitores, estamos juntos mais uma vez, bem no início deste mês de novembro, tempo em que o nosso olhar se volta, de modo especial, para a memória e para a esperança. Ao caminharmos pelas ruas das cidades, percebemos os cemitérios floridos, as famílias em oração, as velas acesas diante dos túmulos. Tudo isso fala de amor, de lembrança e também de fé. Por trás da saudade e das lágrimas, há uma certeza que sustenta o coração cristão: a vida não termina com a morte, mas se transforma.

O Dia de Finados, celebrado pela Igreja no dia 2 de novembro, é um convite à esperança. Não é uma celebração de tristeza, mas de confiança no Deus da vida. As leituras bíblicas desse dia nos ajudam a compreender o mistério da morte à luz da fé.

A Primeira Leitura do Livro de Jó (19,1.23-27a) traz uma das mais belas declarações de esperança de toda a Bíblia. Jó, homem justo, marcado pelo sofrimento, exclama: “Eu sei que o meu Redentor está vivo e que, por fim, se levantará sobre o pó. E depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne verei a Deus”. Mesmo em meio à dor e à perda, Jó confia que o amor de Deus é mais forte do que a morte. Ele acredita que um dia verá o seu Redentor face a face. Essa é também a fé da Igreja: a vida humana não termina no túmulo, mas alcança a plenitude em Deus.

O Salmo 23(24) ecoa essa confiança: “É assim a geração dos que procuram o Senhor”. A terra e tudo o que nela existe pertence ao Senhor. Isso significa que também nós pertencemos a Ele – e ninguém está perdido nas suas mãos. O salmo nos convida a viver com o coração puro e as mãos limpas, para podermos entrar “no monte santo do Senhor”, isto é, na comunhão eterna com Ele.

Na Segunda Leitura, São Paulo, escrevendo aos Coríntios (1Cor 15,20-28), proclama a boa notícia: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram”. Ele é o primeiro a atravessar o portal da morte e abrir para nós o caminho da vida eterna. Para o apóstolo, assim como em Adão todos morrem, em Cristo todos reviverão. Essa é a certeza que sustenta a esperança cristã: a morte foi vencida pelo amor. No final de tudo, “Deus será tudo em todos”.

O Evangelho de Lucas (12,35-40) nos convida à vigilância: “Estejam com os rins cingidos e as lâmpadas acesas”. Jesus compara o cristão a um servo que espera o seu senhor voltar das bodas. Quando o senhor chega e encontra o servo vigilante, ele mesmo o faz sentar à mesa e o serve. Que imagem maravilhosa: o próprio Deus nos acolherá e nos servirá no banquete da eternidade! A morte, então, não é uma surpresa para quem vive preparado, mas um encontro esperado com o Senhor que vem.

Queridos leitores, ao visitarmos os cemitérios, ao acendermos uma vela, ao colocarmos flores nos túmulos, não fazemos apenas gestos de saudade, mas sinais de fé. As flores falam da vida que renasce; a luz das velas anuncia Cristo, que é a “luz que nunca se apaga”. Cada oração pelos falecidos é um ato de amor e de confiança – um modo de dizer: “Eles vivem em Deus, e um dia estaremos juntos novamente”.

Neste novembro, o convite da Palavra é claro: viver com esperança e vigilância, conscientes de que o Senhor pode vir a qualquer hora – não para tirar, mas para nos introduzir na plenitude da vida. A fé não apaga a saudade, mas a transforma. Quem crê na ressurreição aprende a olhar para o cemitério não como o fim, mas como porta de passagem para a eternidade.

Cabe aqui lembrar uma reflexão do Papa Francisco (2024): “São Francisco de Assis, após ter-se reconciliado com Deus, consigo mesmo e com a criação, no final da sua vida conseguiu reconciliar-se até com a morte, tanto que passou a chamá-la ‘irmã’, sinal que, também para ele, se tratava de um mistério a ser compreendido e aceito. Ao contrário da sociedade de hoje, que tenta, com todos os meios, ocultar a realidade da morte, iludindo-se ser eterna, São Francisco nos ensina a encará-la, compreendê-la, a considerá-la uma ‘irmã’, uma parte de nós”.

Que esta celebração dos Fiéis Defuntos renove em cada um de nós a certeza proclamada por Jó: “Eu sei que o meu Redentor está vivo!” E que, vivendo com as “lâmpadas acesas”, possamos esperar com alegria o Senhor que vem – Aquele que venceu a morte e nos prepara um lugar na casa do Pai.

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