Por Dom JulioEndiAkamine, SAC – Arcebispo Metropolitano de Belém

 Encontrei na internet uma postagem que me chamou a atenção:

evite as pessoas problemáticas, pessimistas e resmungonas; fuja das pessoas que consomem suas energias, minam as suas relações e só trazem a você problemas. Em vez dessas pessoas negativas, procure conviver com pessoas que agregam valor à sua vida”.

Esse conselho pode até parecer bom, mas, na verdade, traz no seu bojo uma triste falta de caridade e misericórdia. É verdade, que não é fácil conviver com uma pessoa inoportuna, chata e pessimista. A presença e o comportamento dela exigem de nós muita paciência e tolerância. Mas é, exatamente, isso que pode nos ajudar a crescer e fazer crescer o outro.

A convivência com pessoas chatas, primeiramente, nos obriga a superar nossa tendência de nos concentrar somente em nós mesmos. É nossa preocupação egocêntrica que, muitas vezes, está na raiz de nossa irritação, quando a presença de alguém nos causa sofrimento. Suportar pessoas chataspode ser uma ação que brota do amor pelos outros. Só amamos os outros,verdadeiramente, quando o foco de nossa atenção se desloca de nós para o outro, mesmo que esse outro seja uma pessoa difícil.

Conviver com pessoas molestas é um teste de autenticidade do amor. O amor visa sempre o bem do outro acima e antes do próprio bem. Quando convivemos com pessoas simpáticas, o amor é espontâneo, mas pode também não ser amor verdadeiro: amo tal pessoa pelo bem que ela me faz ou porque desejo realmente o seu bem?

Jesus nos acautela: “Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os publicanos não fazem a mesma coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa?” (Mt 5,46-47).

A paciência em suportar o outro indica a perseverança na caridade. Suporto porque amo, porque quero perseverar no amor e porque, amando, espero o melhor do outro, mesmo que esse outro me seja desagradável.

A paciência hoje é uma virtude que está em falta. Os tempos em que vivemos são acelerados, e a vida empurra para a impaciência. Queremos tudo para ontem. Tudo tem que ter resultado imediato.Deve ser sem enrolação. A nossa pressa egocêntrica nos leva a ver o outro que não corresponde imediatamente às nossas expectativas e aos nossos desejos como um lerdo e um peso morto que deve ser largado para trás.

Corremos o risco de perder a capacidade de esperar e de sofrer os tempos e os ritmos naturais da lenta maturação das pessoas. Por isso a paciência é uma reação saudável ao mundo moderno que impõe que as ações e as pessoas têm que ser sempre rápidas e eficazes.

Suportar as pessoas chataspode ser uma exercitação e uma escola para praticar a paciência como um modo novo e sapiente de viver neste mundo tão centrado em si mesmo. Ser paciente com os outros não é perda de tempo nem de energia.

A paciência não significa resignação nem rendição; ao contrário, segue o caminho do amor que luta e se esforça pela conversão e pela mudança. A paciência é a virtude dos fortes porque são eles que sabem que o bem, mesmo que demore, sempre vence. Exige um trabalho sobre nós mesmos, o caráter e o próprio modo de reagir e de ver os outros.

É bom não esquecer, por fim, de que Deus nos suporta com maravilhosa paciência. Se Deus não tivesse paciência conosco, já nos teria largado para trás, teria-nos abandonado em nosso pecado, teria desistido de nós e nos entregue ao domínio de Satanás.

Deus suporta com ilimitada paciência a nossa preguiça, o nosso relaxo, as nossas obstinações, os nossos erros, a nossa lerdeza pecaminosa. Ele nos suporta com infinita paciência e misericórdia, esperando que nosso coração, um dia, finalmente, se abra ao seu amor de Pai e nos convertamos a Ele. Por isso, “sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).

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