Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo Auxiliar de Belém
Caros leitores, neste domingo convido vocês a refletirem sobre a importância de fazer tudo sob a perspectiva do Amor de Deus. E para me acompanhar nesta conversa, conto com a contribuição de Sylvia Calandrini, licenciada em Letras e professora do Instituto Vicentino Catarina Labouré.
O Evangelho deste domingo (Lc 20,27-38) apresenta o diálogo de Jesus com os saduceus, grupo religioso que negava a ressurreição. Movidos pela lógica humana, eles tentam prender Jesus num raciocínio sem saída, perguntando de quem seria esposa, na vida futura, uma mulher que tivera sete maridos. A pergunta não é sincera: é armadilha. Jesus, porém, não entra no jogo da disputa; eleva a conversa e revela o rosto do Deus dos vivos: “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para Ele”.
O Mestre não responde para vencer, mas para curar a cegueira da incredulidade. Faz o bem àqueles corações endurecidos, mostrando que a vida eterna é comunhão com Deus, e que quem vive no amor já começa, aqui, a experimentar a ressurreição. Jesus, portanto, ensina não só com palavras, mas com o modo de agir. É nesse espírito que somos chamados a “fazer bem todas as coisas”.
Fazer bem não é apenas cumprir tarefas corretamente; é realizar cada gesto como expressão de amor. Santa Teresa d’Ávila, mestra de vida interior, compreendeu isso, profundamente. Conta-se que, certa vez, uma irmã do convento a viu ocupada na cozinha, lavando panelas, e lhe perguntou como uma santa podia dedicar tempo a tarefas tão simples. Teresa respondeu, sorrindo: “Entre as panelas também anda o Senhor”.
Esse episódio resume uma espiritualidade encarnada: Deus habita o comum, e cada ação, por menor que pareça, pode tornar-se lugar de encontro com Ele. É possível “fazer bem” ao varrer um chão, acolher o erro de um filho, preparar uma aula, visitar um doente, servir um prato a alguém necessitado, ouvir um amigo com paciência. O que dá sentido não é o tamanho do gesto, mas o amor com que ele é realizado.
Vivemos, porém, tempos em que o imediatismo e a busca de visibilidade, muitas vezes, nos fazem esquecer o valor do trabalho silencioso. A sociedade tende a admirar o que brilha, não o que permanece. Mas o cristão é chamado à constância: fazer o bem sem esperar aplausos, com a serenidade de quem sabe que Deus vê o que se faz em segredo (cf. Mt 6,4).
A Doutrina Social da Igreja nos recorda que o trabalho humano é participação na obra criadora de Deus. Quando o cristão se dedica com competência e retidão, contribui para a transformação do mundo segundo o Evangelho. O Papa Francisco lembra que “a espiritualidade cristã propõe um crescimento com sobriedade e uma capacidade de gozar o pouco” (LS 222). Fazer bem todas as coisas é também um ato de justiça: respeitar o tempo, o ambiente, o outro e o próprio dom recebido.
Há uma dimensão moral e social nesse “fazer bem”. Quem se esforça por agir com honestidade e amor torna-se fermento de paz e esperança em meio às tensões do mundo. O bem feito contagia; uma atitude justa inspira outras. O testemunho silencioso de uma vida coerente convence mais que qualquer discurso.
Fazer bem todas as coisas é caminho de santidade acessível a todos. É permitir que a graça penetre o cotidiano e o transforme em oferta. É viver com inteireza o que o próprio Cristo viveu: “Tudo o que Ele fez, fez bem” (Mc 7,37). O Evangelho de Marcos usa essa frase após a cura de um surdo-mudo – e é como se resumisse o modo de ser de Jesus, que não buscava prestígio, mas restaurava a vida.
Assim, fazer bem todas as coisas é a arte de quem já aprendeu a viver para Deus. É reconhecer que Ele não é Deus dos mortos, mas dos vivos – e que viver Nele é deixar o bem florescer em tudo o que tocamos. Mesmo nas tarefas simples, a vida se torna oração, e o mundo, espaço de comunhão com o Senhor da vida.
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