
Por Monsenhor Ronaldo Menezes – Vice-Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação
A devoção a Nossa Senhora das Dores é uma das mais populares. Na Igreja de São Joãozinho, na Cidade Velha, uma belíssima imagem parece dominar todo o interior do antigo templo. Todos temos pela Mãe das Dores um carinho muito especial; aprendemos, desde criança, a amar a Mulher da Cruz. Pessoalmente, cultivo o hábito, adquirido no tempo do seminário, de ouvir, regularmente, o Stabat Mater, de Giovanni Battista Pergolesi, composto em 1736. Na quaresma, na via-sacra, cantamos uma versão popular muito bonita, que muitos fiéis sabem e cantam de dor; a letra começa assim: “Estava a Mãe dolorosa, junto à cruz lacrimosa, enquanto o Filho pendia”; é um lindo poema à Mãe do Salvador e às suas dores. Os doze movimentos da obra de Pergolesi, contudo, são de uma beleza ímpar e ocupam um lugar especial no rol das obras sacras. Qual o fundamento bíblico dessa devoção tão cara aos fiéis?
O fundamento bíblico da devoção à Virgem das Dores é a cena do Calvário descrita por São João. O evangelista menciona algumas santas mulheres presentes no Gólgota: Maria Madalena; Maria, mãe de Tiago (o menor) e de Josef; Salomé; há uma discussão sobre duas mulheres denominadas de “a irmã de sua mãe” (Maria) e “Maria de Clopas”, certamente, duas pessoas diferentes, que São João põe na cena da crucifixão de Jesus. Mas me detenho apenas no texto enfático do evangelista, que “perto da cruz” estava de pé sua mãe, Maria. Depois, sem dizer quando, Maria irá permanecer com João, o discípulo amado.
A vida terrena do Filho de Deus começa com Maria, que acolhe o Verbo da vida no seu ventre. A vida terrena do Filho de Deus termina com Maria presente. Esta presença não é sem importância. Maria, com efeito, foi a primeira discípula do seu filho, a mais fiel, a mais dedicada, a mais resoluta. Agora, ao final, o seu filho único, vendo que sua mãe ficará só e não querendo isso, confia-a ao seu discípulo querido, aos cuidados de João. Se Maria tivesse tido outro filho, Jesus não a teria confiado a um discípulo.
Na Cruz, Jesus vê Maria, a Mãe, e o discípulo que permaneceu com ele. Olha para a mãe e a chama de “Mulher”, como em Caná da Galileia. Chama-a de “mulher” porque tem naquele momento intenção especial no que diz respeito a ela. Jesus indica à sua mãe o seu novo filho; depois indica ao filho a sua mãe. Parece que Maria é encomendada aos cuidados de João, mas é bem ao contrário: João, e nele cada um de nós, é posto aos cuidados maternais da mãe de Jesus. Se João acolhe Maria e a leva para casa como um bem precioso, Maria acolhe João como seu filho. Algo mais, porém, está sendo dito nessa hora: Maria se torna, por vontade expressa de Jesus, mãe de todos os discípulos – mãe da nova humanidade que está gerando, porque Maria é Mãe do Corpo total de Cristo, Cabeça da Igreja, como dirá o Apóstolo Paulo.
Assim, as nossas expressões de fé são sempre para manifestar nossa fé em Jesus Cristo, o novo Adão. Mas Jesus constituiu sua Mãe, Maria, Mãe da nova humanidade, a nova Eva, que desatou, no dizer dos Padres, o nó que Eva havia atado com sua desobediência. Agora, dos lábios do próprio Jesus, Maria recebe sua nova missão: de ser Mãe de todos os seus discípulos, que a devem honrar como ele o fez. Por isso, nossas expressões de amor à Virgem – as procissões, ladainhas, novenas, cânticos, orações, fazem parte deste amor por Jesus; ou seja, quem diz amar a Jesus não pode não amar a Mãe de Jesus e dizê-lo publicamente.
Fotos: Luiz Estumano – Rede Nazaré de Comunicação/Voz de Nazaré Online








