Monsenhor Ronaldo Menezes – Vice-Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação

 O motivo imediato destes artigos sobre a Mãe de Jesus foi o Círio de Nazaré, que vivemos no mês de outubro. Ainda que tenha incorporado no decorrer do tempo elementos culturais, o Círio é uma festa eminentemente religiosa e expressão da fé católica; ou seja, é um ato de fé. O tempo do Círio, da sua preparação, as celebrações familiares, é não só de escuta, mas também, penso, de aprofundamento da fé. Por isso, propus-me a dar os fundamentos bíblicos, sem grandes rodeios, por serem apenas artigos voltados para leitura rápida e informativa, da devoção que nós temos pela Mãe do Senhor. 

Como informações gerais, fiz uma breve incursão por alguns textos dos Santos Evangelhos onde a Mãe de Jesus aparece de modo mais evidente. Depois dos Evangelhos, nos quais a imagem da Virgem Maria aparece sobriamente, em apenas outros dois textos dos escritos do Novo Testamento – e aqui deixo o famoso e importante capítulo 12 do Apocalipse de São João para outro momento – faz-se uma referência clara da presença da Mãe de Jesus, nos Atos dos Apóstolos, e uma menção na Carta de São Paulo aos Gálatas. Vamos aos dois textos. 

No livro dos Atos dos Apóstolos, logo no início, São Lucas narra a ascensão de Jesus e, como que em prep.

aração à efusão do Espírito Santo prometida por Jesus, apresenta a relação nominal dos Apóstolos: “Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, o Zelota; e Judas, filho de Tiago”. É sobre estes Doze que o Senhor Jesus edifica a sua Igreja, o novo Israel (Leia Mt 16,18; 18,18; 19,28; Lc22,30.32; Jo 20,22; Ef 2,20). Jesus é a origem da Igreja Católica. Em seguida, diz São Lucas: “Todos estes, unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus”. São Lucas cita, nominalmente, a Mãe de Jesus, Maria, e a apresenta, distintamente, dos demais presentes ao solene momento de inauguração da Igreja. Mais ainda. Maria, como a Mãe do Senhor, preside o nascimento da Igreja, o seu início histórico, da mesma maneira que concebeu o Verbo Divino, quando o Anjo Gabriel a visitou e lhe comunicou a encarnação do Filho de Deus. Assim, Maria, a Mãe de Cristo, o Filho de Deus, é também a Mãe da Igreja de Cristo; o mesmo Espírito que a fecundou, descendo sobre ela e cobrindo-a com sua sombra, agora desce sobre os Apóstolos, os Doze escolhidos por Jesus; Maria, a Mãe de Jesus, aparece como presidindo o pequeno grupo, e recebe com eles o Espírito Santo, que faz nascer a Igreja de Cristo. Estes dados da fé bíblica, os católicos precisam saber, meditar sobre eles e torná-los alimento para a vida de fé. 

O outro texto é extraído da Carta de São Paulo aos Gálatas, onde o Apóstolo diz o seguinte, referindo-se aos últimos tempos: “Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4-5). Não há, como você está vendo, a identificação nominal de Maria, mas é evidente que o Apóstolo diz algo importante: graças a essa “Mulher”, ainda que ele não lhe cite o nome, o Filho de Deus se fez homem e veio habitar entre nós para nos trazer a salvação e tornar-nos filhos de Deus por adoção. Em outras palavras, Maria marcou o fim dos tempos; com o seu “sim” a Deus, fez “parar” a longa espera pelo Messias e de Jesus nosso irmão, pois ele participa da nossa mesma natureza humana. 

Sobre o texto de São Paulo, alguns irão dizer que ele é eminentemente cristológico, e estão certíssimos, querendo retirar todo acento mariológico. Porém, podemos afirmar, com total segurança bíblica, sem nenhuma invencionice, que o texto afirma, categoricamente, a encarnação do Filho de Deus, isto é, que o Filho eterno de Deus nasceu em nossa carne mortal, e ao mesmo tempo, a grandeza da Mãe de Jesus, a eleita do Senhor, que trouxe ao mundo o seu Filho Unigênito. A Mãe de Jesus tem um nome, Maria. A Mãe de Jesus, portanto, lendo atentamente o texto de São Paulo, está situada no mesmo espaço temporal da “plenitude do tempo”. Para nós, católicos, não nos é difícil reconhecer este aspecto da maternidade de Maria, que ela é mãe do Filho eterno de Deus e de reconhecer que por esse motivo ela está também vinculada à missão do seu filho. 

Assim, não é indevido o culto, não são impróprias as devoções, não é exagerado o amor que temos pela Mãe de Jesus. Ou seja, o que damos à Mãe do Salvador não tira dele, de Jesus Cristo, a centralidade dele como único mediador.

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