Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo auxiliar de Belém
Caros leitores, estamos no último domingo do mês de junho deste ano jubilar, vivenciando as alegrias da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo: dois grandes missionários que marcaram a história da Igreja.
À luz do Concílio Vaticano II, sabemos muito bem como “a Igreja é missionária por natureza” (AG 2). De fato, se a Igreja não for missionária, não é a Igreja de Jesus Cristo. E São Pedro e Paulo nos reforçam esta verdade, pois eles foram grandes missionários, seja entre os judeus ou entre os gentios.
O documento Redemptorismissio nos lembra que passaram dois mil anos do início da Igreja, mas a missão está somente começando. Nós, como Igreja, temos que nos perguntar se estamos dando a devida força à missão em todos seus âmbitos, ou se estamos nos concentrando demais com os que já receberam o anúncio de Cristo. Por exemplo, pensando no mundo como uma família de dez pessoas, podemos dizer que somente três conhecem Jesus, os demais sete não participam da alegria da comunhão familiar. Precisamos sair ao encontro dos sete irmãos que não conhecem Cristo e convidar a todos para o banquete da comunhão.
Como ponto de partida temos o próprio Cristo, que nos enviou como missionários “até os confins do mundo”, portanto ad gentes. Somos homens do primeiro anúncio, a missão ad gentes é a prova visível de uma convicção profunda de que Jesus é a salvação de todos os homens e Ele tem a capacidade de transformar cada homem e cada cultura.
Com a palavra primeiro anúncio não entendemos somente um fato cronológico, mas também um fato qualitativo, trata-se do anúncio central do Evangelho: o “querigma”, que é o Amor de Deus para conosco revelado em Jesus. Esta é uma mensagem sempre nova que transforma a todos que acolhem com alegria a Boa Notícia.
A nossa convicção é de que o primeiro anúncio deve ser feito em todos os lugares, porque muitos ainda não amam Jesus. Deve ser feito, constantemente, também aos fiéis que participam da Igreja, isto é, como um anúncio permanente. Sempre devemos partir do primeiro anúncio.
Tudo isso nos leva a dizer que nós, se quisermos dar fruto nas nossas Igrejas, deveremos ser, de fato, peritos no primeiro anúncio. Trata-se de mostrarmos que o núcleo do Evangelho prende, entusiasma, apresenta ao mundo uma maneira de viver pautada no cuidado com vida, e vida em plenitude para todos, contrária à cultura de indiferença e de morte.
Interessante seria retomar o que as primeiras comunidades faziam. Podemos nos reunir, semanalmente, em pequenos grupos para ler, estudar, rezar com a Palavra de Deus e partilhar as nossas experiências em relação ao primeiro anúncio, destacando, assim, os frutos de uma prática missionária do Evangelho.
Caríssimos leitores, falei muito sobre missão ad gentes porque ela é a que mais aparece da missão de Jesus e dos Apóstolos. No Evangelho de hoje, meditamos sobre a profissão de Pedro que, em nome dos demais Apóstolos, proclama Jesus como o “Messias, Filho de Deus”. E é na base desta fé que a missão da Igreja chega até os confins da terra de ontem, de hoje e de amanhã. Esta profissão de fé tem que ser ouvida e acolhida por todas as nações como fonte de salvação e de vida para todos.
Mesmo depois de mais de dois mil anos, tem muita gente que aguarda um anúncio extraordinário para alegrar suas vidas e assim deixar florescer do coração o verdadeiro sentido de sua existência: sentir-se amado pelo Criador, amá-Lo e revelar este amor ao próximo. E isso não é uma tarefa fácil para os anunciadores da Boa Nova de Jesus.
Nesse sentido, São Paulo nos encoraja a não desistir diante das dificuldades. Ele mesmo, que “sacrificou” a vida inteira para o anúncio do Evangelho nos diz, parafraseando a segunda leitura: não tenha medo, o Senhor estará também ao seu lado e lhe dará a força necessária, o libertará de todo o mal, e o salvará para o Seu Reino celeste.
Concluímos com a oração da coleta desta Solenidade, para que nos inspire a rezar sempre mais por nossa Igreja e nos doarmos, inteiramente, nos caminhos da missão: “Ó Deus, que hoje concedeis a santa alegria de festejar os Apóstolos São Pedro e São Paulo, dai à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos destes apóstolos que nos deram os fundamentos da fé. Amém”.
