Monsenhor Ronaldo Menezes – Vice-Presidente da Fundação Nazaré de Comunicação
A Mãe de Jesus tem sido objeto de veneração desde o início da Igreja; nos Evangelhos, há ecos dessa veneração que os primeiros cristãos tinham e nutriam pela Virgem Maria; o Magnificat é, seguramente, um sinal eloquente dessa sadia veneração e amor à Mãe do Salvador. Desde então, cânticos, hinos, orações, pinturas têm tido amplo alcance na vida da Igreja, até os dias de hoje. A oração mais antiga à Nossa Senhora, do início do século III, “Sub tuumpraesidium” – Sob a vossa proteção, ainda rezamos com devoção e, assim, nos unimos aos cristãos dos inícios da Igreja. A pintura mais antiga que se conhece da Virgem Maria é a que se encontra na catacumba de Santa Priscila, em Roma, datada do ano 150, aproximadamente, que apresenta a Virgem com o Menino Jesus ao colo. Esta é mais uma prova da devoção constante que nós, cristãos, temos por Nossa Senhora, a Mãe do Senhor.
O título que dei acima é porque acredito que é da casa de Isabel, no famoso encontro das duas mães e dos dois filhos, Isabel e João, Maria e Jesus, que brota uma das fontes límpidas da devoção à Mãe de Jesus. Além disso, é um lugar que conheço um pouco, que visitei algumas vezes e do qual tenho belas lembranças. A região é de fato montanhosa, isto é, é a montanha de Judá, distante de Nazaré, aproximadamente, 140 km e a uns 6 km a oeste de Jerusalém. Chama-se hoje AinKarim, e está incrustada numa área linda e verde. Do pátio do santuário, tem-se uma impressionante visão, que enche os olhos de tanta beleza.
Quando se entra no santuário, parece que ainda escutamos a exclamação de Isabel em resposta à saudação de Maria, chamando-a de “Bendita entre as mulheres” e ao Filho que traz no ventre de “Bendito o fruto do teu ventre”. Não há dúvida de que a cena é messiânica, mas Maria é a Mãe do Messias, então diz respeito a ela também. A alegria que enche a casa de Isabel e Zacarias é a alegria trazida pelo Messias que Maria traz no ventre. Dentro do templo em AinKarim, brilha a figura de Isabel “repleta do Espírito Santo”, falando como uma profetisa, clamando com voz forte, olhando para Maria, extasiada, proclamando: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto de teu ventre”. Nas palavras de Isabel, ecoam as bênçãos prometidas por Deus no livro do Deuteronômio (28,4), que agora se cumprem, definitivamente; ecoa o cântico de Débora louvando Jael, após a vitória em uma memorável batalha, no qual esta juíza diz: “Bendita entre as mulheres Jael seja” (Jz 5,24). Um medalhão na Basílica de Nazaré homenageia Jael, entre outras mulheres ilustres. Nestas palavras de Isabel, há um superlativo que não se pode relevar: De todas as mulheres, das mais louváveis e importantes, ilustres e nobres de todos os tempos e eras, Maria é a mais importante porque foi a ela que o Senhor Deus Criador de todas as coisas se dirigiu e lhe mudou o nome, chamando-a de “Cheia de graça”, por este fato inusitado e único: Maria foi escolhida para ser a Mãe do Filho de Deus.
Em seguida a esta solene proclamação, Isabel continua a falar e proclama três coisas muito importantes: primeiro, reconhece que a criança que Maria traz no ventre é o “seu Senhor”, isto é, não é uma criança qualquer, mas o “meu Senhor”, o Messias prometido nas Escrituras Sagradas, a esperança de todos os povos. Em segundo lugar é o que desta afirmação resulta: Maria é “a mãe do meu Senhor”, dignidade única, que será a principal glória de Maria, que ninguém pode tirar nem negar. A exclamação de Isabel e o saltitar da criança no seu ventre, João, são a saudação da mãe e do filho ao Senhor que nos veio visitar, ou nas palavras de Zacarias no seu cântico: “Graças ao misericordioso coração do nosso Deus, pelo qual nos visita o Astro das alturas, para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, para guiar nossos passos no caminho da paz”. Em outras palavras, o “Astro das alturas” é o Senhor, que nesse momento está no ventre de Maria, e nascerá em Belém, para cumprir a profecia de Miquéias.
A última aclamação de Isabel em sua saudação à Virgem Mãe do Senhor que a visita é a proclamação de que Maria é Bem-aventurada; aliás, é a primeira vez que esta qualidade dos que acolhem Jesus aparece nos Evangelhos. Maria é, de fato, bem-aventurada, feliz, porque tem o favor divino. Algo mais, porém, é dito de Maria por Isabel: ela é bem-aventurada, feliz, porque acreditou no que lhe foi dito da parte do Senhor, não desacreditou, nem desconfiou das palavras do Anjo, como fizera antes dela Zacarias, ao qual faltou fé no que escutou do mensageiro celeste. Maria acreditou!
Dois ensinamentos podemos tirar desta cena na casa de Isabel: a fé que Maria teve no anúncio da concepção virginal e, como disse no início deste artigo, a veneração de toda a comunidade de fé, a Igreja Primitiva, à pessoa da Mãe do Senhor, ou se você preferir, nas palavras de Isabel: na “Mãe do meu Senhor”! Para nós, a Virgem Maria será sempre a “Mãe do nosso Senhor”! No Círio, proclamamos esta verdade de modo bastante eloquente, uma memória do que terá acontecido no concílio de Éfeso, quando a Virgem Maria foi proclamada Mãe de Deus, numa bela procissão noturna, como as que realizamos na trasladação, sábado, e no domingo pela manhã.






