O Espírito Santo conduz a Igreja

Por Dom Alberto Taveira Corrêa

Vivemos o Tempo Pascal na expectativa orante do dom do Espírito Santo, Dom inefável do Cristo Ressuscitado. Em Belém, compartilhamos a profissão de fé diante da partida do memorável Papa Francisco, a eleição de Leão XIV e a chegada do novo Arcebispo Coadjutor, Dom Júlio Endi Akamine. Ao mesmo tempo, tudo foi ponderado com as lutas e as dores, que fazem parte de nosso cotidiano. Tudo isso, na certeza de que o Espírito Santo conduz misteriosamente a Igreja, por caminhos insondáveis.

No dia vinte e seis de maio, coube-me dar graças ao Senhor que me conduziu até aqui, completando setenta e cinco anos, ao contemplar, no Jubileu de Esperança, o passado, o presente e o futuro. No dia trinta de maio, fiz minha ação de graças pelos setenta e cinco anos de Batismo. Não me é possível descrever as alegrias e as esperanças, as dores e os sofrimentos experimentados nestes setenta e cinco anos de idade, quase cinquenta e dois de ordenação sacerdotal e perto dos trinta e quatro anos de episcopado. No dia da Imaculada Conceição de dois mil e nove, fui comunicado da nomeação para Arcebispo de Santa Maria de Belém do Grão Pará, onde tomei posse no dia vinte e cinco de março de dois mil e dez, sabendo de minha indignidade e ao mesmo tempo da grandeza da graça, que tem me acompanhado. E aqui me encontro, louvando a Deus pela sua obra, com quinze anos de Arcebispo de Belém. Sou mais um espectador do que um realizador de atividades. Deus faz e nós acompanhamos, malgrado nossos limites e fraquezas. A todas os irmãos e irmãs que me acompanharam e acompanham, chegue o agradecimento sincero pela vida e pelas delicadezas com que me cumprimentam e rezam por mim. Deus lhes pague, e vamos caminhar sempre juntos! Só posso dizer que sou realmente feliz, e ainda me considero novo, mesmo com os achaques da idade, pois retomei a oração tantas vezes repetida no início das missas, quando criança e nos primeiros anos de Seminário: “Irei ao altar de Deus, ao Deus que alegra a minha juventude, e te darei graças, Deus, meu Deus” (cf. Sl 42, 4).

No glorioso dia trinta e um de maio do presente ano, Santa Maria de Belém nos acolheu na Catedral Metropolitana de Belém, para a apresentação do novo Arcebispo Coadjutor, que a Providência de Deus, através da benevolência do Papa Francisco e do Papa Leão XIV concedeu à Arquidiocese.Aquilo que o Espírito Santo inspirou naquela manhã, desejo aqui transcrever, para plantar na memória agradecida de nossa Igreja e testemunhar o que Deus faz entre nós!

“Olhemos para frente e para o alto, dos limites geográficos e humanos de nossa Igreja, todos nós, os Bispos, os Presbíteros, nossas Paróquias e Áreas Missionárias, Diáconos, Religiosos e Religiosas, Membros de Novas Comunidades, Seminaristas, as Pastorais, os Movimentos e Serviços, Obras Sociais, Faculdade, Escolas, todos unidos como um só corpo, certos da presença de Jesus em nosso meio, pois reunidos em seu nome. No alto, pontifica a Cruz gloriosa do Senhor, iluminada com os raios da Ressurreição. Na Solenidade da Ascensão, este bonito jogo de palavras, sentimentos e profissão de fé nos foi apresentado. Olhamos para o alto, proclamando nossa fé naquele que é, que era e que vem, Nosso Senhor Jesus Cristo. Olhamos para frente, descortinando os horizontes da missão evangelizadora da Igreja de Belém, enriquecida espiritual e pastoralmente com o Arcebispo que chega. Olhamos agora para o alto, saindo de Nazaré para as montanhas existentes nas cercanias de Jerusalém, onde viviam Zacarias e Isabel.

Caminha conosco a Virgem Maria, Maria de Nazaré, Nossa Senhora da Graça, Santa Maria de Belém, Nossa Senhora da Visitação, Maria, Arca da Aliança. A Carta dos Hebreus (cf. Hb 9,4) relata que a Arca da Aliança “toda recoberta de ouro, continha o maná, o bastão de Aarão que tinha florescido, e as tábuas da aliança”. Na Ladainha de Nossa Senhora, nós a invocamos com este título de Arca da Aliança! A ela nossa saudação! Salve Maria de Nazaré, que trouxeste em teu ventre aquele que é o Pastor de Israel, Nosso Senhor Jesus Cristo, levando alegria inusitada à criança que crescia no ventre de Isabel. Ave, mais uma vez, Maria da Graça, cheia de Graça, a toda revestida da Palavra de Deus, e teu filho amado é o Verbo de Deus feito Carne. Nós te saudamos, Maria, Santa Maria de Belém, e Belém é Casa do Pão, Mulher Eucarística, tu que praticaste tua fé eucarística ainda antes de ser instituída a Eucaristia, quando oferecesteteu ventre virginal para a encarnação do Verbo de Deus. Na anunciação, concebeste o Filho divino também na realidade física do corpo e do sangue, em certa medida antecipando o que se realiza sacramentalmente em cada pessoa de fé quando recebe, no sinal do pão e do vinho, o corpo e o sangue do Senhor (cf. Ecclesia de Eucaristia 55). Como crianças pedimos para caminhar de mãos dadas contigo, para entendermos na fé o que acontece hoje em nossa Igreja!

A Igreja se realiza onde existe a Eucaristia válida, um legítimo sucessor dos Apóstolos e a comunhão com a Sé de Pedro. Nesta Catedral, como já entendiam cristãos dos primeiros séculos a respeito das Igrejas Particulares, estão selados os documentos de legitimidade da Igreja de Belém nos corpos dos Bispos e Arcebispos aqui plantados, enquanto esperamos a vinda do Senhor. Esta Igreja de Belém quer receber a chegada de Dom Júlio, nomeado pelo sucessor de Pedro, exultando de alegria, para proclamar, com Isabel, que o novo Arcebispo Coadjutor é feliz e bem-aventurado por acreditar e trazer misticamente as missões confiadas à Igreja.

Olhemos para frente! Nós o acolhemos, Dom Júlio, na dimensão profética daquele que traz a Palavra de Deus. Com toda certeza aqui estarão os membros do Povo de Deus, sedentos da força do Evangelho que brotará de seu coração e sua boca. Nós queremos recebê-lo como o sacerdote que preside a Eucaristia e os outros Sacramentos, certos de que nossa santificação passa pelo seu ministério e pela sua oração. Nós o reconhecemos como pastor, para conduzir-nos nos caminhos da formação de Comunidades cristãs vivas e para o serviço da caridade, especialmente no serviço aos mais pobres. Com sua pessoa e seu ministério, desejamos cantar o Magnificat, certos da ação de Deus, que conduz a história.

Dom Paulo Andreolli e eu tivemos a alegria de receber o novo Arcebispo Coadjutor, que trabalhará conosco em comunhão, até que chegue, no tempo de Deus, o acolhimento do Santo Padre o Papa Leão XIV ao meu pedido de renúncia, já encaminhado, segundo as normas da Igreja. Minha missão, dali para frente, será colaborar na oração e em tudo o que me for possível, num profundo espírito de respeito e comunhão, com aquele que me sucederá nesta Sede. Aqui cheguei há quinze anos para dar minha vida, e contando com a aquiescência de Dom Júlio, manifestada com muito carinho, aqui permanecerei enquanto o Senhor me conceder forças e vida.

Queremos viver com intensidade a Festa da Visitação. Seja toda ela nosso Magnificat, sabedores de que os dons de Deus têm sido maiores do que nós tenhamos pensado ou desejado, rezando uns pelos outros, por nossa contínua conversão e fidelidade, certos da ação do Espírito Santo, em cuja novena nos encontramos, construindo nossa Igreja, que quer ter portas abertas e contribuir para que nossas cidades se encham da alegria que vem de Deus!” (cf. Mensagem de ação de graças no aniversário e Homilia do dia trinta e um de maio de 2025)

Dado no Ano Jubilar de dois mil e vinte e cinco, na Arquidiocese de Belém, criada no dia quatro de março de mil, setecentos e dezenove, elevada a Arquidiocese e Sede Metropolitana no dia primeiro de maio de mil, novecentos e seis. Dom Alberto Taveira Corrêa, por graça de Deus e da Sé Apostólica, vigésimo terceiro Bispo e décimo Arcebispo Metropolitano.

Foto: Sandro Barbosa

Compartilhe essa Notícia

Leia também