Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo Auxiliar de Belém
Caros leitores, iniciamos esta semana com uma liturgia dominical bastante comprometedora, pois somos chamados a nos perguntar: E quem é o meu próximo? O que preciso fazer por ele e com ele? O Evangelho deve nos mover a sair de nós mesmos e ir ao encontro do irmão com um sentimento de compaixão e serviço generoso. Para esta reflexão, contarei com a colaboração de Irmã Maria Rejiane da Mata Dias, Filha da Caridade de São Vicente de Paulo.
A Palavra de Deus, especialmente o Novo Testamento, traz consigo uma riqueza de reflexões, motivações, mudanças interiores e atitudes de vida que brotam de uma profunda abertura de coração. É um tesouro antigo e sempre novo. Tudo isso falamos para entrarmos numa pergunta feita por Jesus após contar a parábola do Bom Samaritano a um mestre da lei: “E Jesus perguntou: ‘Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?’ Ele respondeu: ‘Aquele que usou de misericórdia para com ele’. Então Jesus lhe disse: ‘Vai e faze a mesma coisa’(Lc 10, 36-37).
Retomemos aqui a pergunta do início desta conversa: E quem é o meu próximo? Jesus respondeu a ela com a parábola e, logo em seguida, devolve uma pergunta mais bem elaborada ao mestre da lei, e este último, reconhecendo a beleza da misericórdia, fala que ser próximo do irmão é, justamente, agir com misericórdia para com ele. Daí nasce o envio de Jesus tanto para o mestre da lei como para nós hoje: “Vai e faze a mesma coisa”!
Sem dúvida, caríssimos leitores, o amor a Deus é fundamental para nossa caminhada de fé, entretanto o amor ao próximo, conforme as batidas do coração de Jesus, deve ser nossa atitude diária. A exemplo do samaritano, descrito no Evangelho, precisamos avançar para não somente ver as situações, mas também que a compaixão pela dor do outro nos impulsione a oferecer as mãos para o cuidado, os ouvidos para a escuta, e os pés para se colocar na postura de sair de si para servir a quem precisar.
Falando sobre a expressão: “Ver e sentir compaixão”, o saudoso Papa Francisco inspirou sua reflexão a partir dessas duas palavras presentes na Parábola do Bom Samaritano, narrada no Evangelho de Lucas (Lc10,25-37).
O “discípulo do Caminho” vê que seu modo de pensar e agir muda gradativamente, tornando-se cada vez mais conforme ao do Mestre. Caminhando nas pegadas de Cristo torna-se um viajante e aprende – como o samaritano – a ver e a sentir compaixão. Mas antes de tudo, ele vê. Ele abre os olhos para a realidade, não se fecha, egoisticamente, no círculo de seus próprios pensamentos. Em vez disso, o sacerdote e o levita veem a vítima, mas é como se não o vissem, seguem adiante.
Mas o seguir Jesus, além de ver, também ensina a ter compaixão. O Evangelho nos educa a ver: orienta cada um de nós a compreender, corretamente, a realidade, superando preconceitos e dogmatismos dia após dia. E depois ensina-nos a seguir Jesus, porque seguir Jesus ensina-nos a ter compaixão: estar atentos aos outros, especialmente, aos que sofrem, aos que mais precisam. E intervir como o samaritano, não seguir em frente, mas parar(Ângelus, 10 julho 2022).
Nesse sentido, podemos citara Cáritas, que bem manifesta o ser Igreja samaritana, pois, com seus inúmeros projetos desenvolvidos, tem a missão “testemunhar e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, defendendo e promovendo toda forma de vida e participando da construção solidária da sociedade do Bem Viver, sinal do Reino de Deus, junto com as pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social”.
Desde a sua fundação, ela tem a prática de ouvir, respeitosamente, o sofrimento dos empobrecidos e dos que estão em situação de vulnerabilidade e favorecer ferramentas para transformar suas vidas.
Em Belém, há inúmeros núcleos Cáritas, com pessoas de boa vontade atuando com alegria e esmero, mas ainda precisamos avançar para a expansão de novos núcleos, com mais operários dedicados a esta obra de cuidado com a vida. Que tal fazer parte desta missão bonita?
A Virgem Mãe da Misericórdia, modelo de amor-serviço, nos alcance junto a seu Filho Jesus a graça de nos inspirarmos em boas iniciativas em favor do próximo, que são agradáveis aos olhos de Deus. E que nunca nos cansemos de fazer o bem.