Ser peregrinos de esperança no mundo atual

Por Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo Auxiliar de Belém

 

 Caros leitores, nesta semana propomos uma leitura voltada para a virtude da esperança. Neste ano Jubilar da Encarnação, com o lema “peregrinos de esperança”, queremos mergulhar na certeza bíblica de que “a esperança não decepciona” (Rm 5,5).

Olhando para o nosso mundo, cheio de tantos ruídos e acelerações, com poucos tempos dedicados para a escuta atenta, para a oração pessoal e para a contemplação das pequenas coisas do dia a dia, sabemos o quanto isso vai distanciando-nos de relações saudáveis e necessárias entre as criaturas e seu Criador, e entre as criaturas entre si.

Olhemos para nossa vida. Será que diante das provações da vida, logo entramos num estado de desespero ou desânimo, deixando de lado a firme convicção de que a esperança em Deus não decepciona?

Não deixemo-nos envolver por um estado de pessimismo ou de lamentações frequentes, mas permitamos que brilhe em nós a paz e a alegria de Cristo Ressuscitado. Ele quer que sejamos testemunhas de seu amor, através de singelos gestos de delicadeza, proximidade, cuidado e atenção aos irmãos e irmãs, sendo portadores de esperança onde estivermos.

A Bula do Jubileu Ordináriodo ano 2025, nos confirma (18): “A esperança forma, juntamente com a fé e a caridade, o tríptico das ‘virtudes teologais’, que exprimem a essência da vida cristã. No dinamismo indivisível das três, a esperança é a virtude que imprime, por assim dizer, a orientação, indicando a direção e a finalidade da existência crente. Por isso, o apóstolo Paulo convida-nos a ser ‘alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração’ (Rm 12, 12). Assim deve ser; precisamos transbordar de esperança (Rm 15, 13) para testemunhar de modo credível e atraente a fé e o amor que trazemos no coração; para que a fé seja jubilosa, a caridade entusiasta, para que cada um seja capaz de oferecer ao menos um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito, sabendo que, no Espírito de Jesus, isso pode tornar-se uma semente fecunda de esperança para quem o recebe. Mas qual é o fundamento da nossa esperança? Para o compreender, é bom deter-nos nas razões da nossa esperança (1 Pd 3, 15).

De fato, nossa esperança deve fundamentar-se em voltar nossos corações para o Pai, com pensamentos, palavras e atitudes de mansidão e na busca de ser obedientes aos planos divinos para nós, dando graças ao Senhor em todas as circunstâncias da vida.

Estamos nas proximidades da Solenidade de Pentecostes e ela é antecedida pela Ascenção do Senhor, cuja festa celebramos. Nesse sentido, cabe muito bem a relação desta Solenidade da Ascenção com a virtude da esperança, pois Cristo Jesus não voltou para junto de Deus Pai nos deixando órfãos de sua presença entre nós, mas nos deixou a força da Eucaristia, e enviou o Espírito Santo, que anima e dá vigor à missão da Igreja, como testemunha da ressurreição do Senhor.

A liturgia da Solenidade da Ascenção nos recorda o que nos afirma São Paulo na carta aos Efésios (Ef 1, 17-18):“O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça, verdadeiramente, conhecer. Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá”.

Caros leitores, que nossos corações se abram ao espírito de sabedoria, e que esta luz bendita faça incendiar em nós uma viva esperança, conforme nos anima a Bula do Jubileu (20): “Jesus morto e ressuscitado é o coração da nossa fé. A esperança cristã consiste, precisamente, nisto: face à morte onde tudo parece acabar, através de Cristo e da sua graça que nos foi comunicada no Batismo, recebe-se a certeza de que ‘a vida não acaba, apenas se transforma’, para sempre. Com efeito, sepultados, juntamente, com Cristo no Batismo, recebemos n’Ele, ressuscitado, o dom duma vida nova, que derruba o muro da morte, fazendo dela uma passagem para a eternidade.

Concluo com um bonito trecho da oração de Padre André Vena: “Senhor Jesus, Vós que ao subir ao Céu, nos vestistes com o dom do Espírito Santo, fazei de nós vossas testemunhas na vida de cada dia, para que possamos transmitir sempre a alegria da vossa Misericórdia”. Amém.

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