Uma cultura vocacional

A Igreja vive no meio do mundo, pronta a se enfileirar com todas as pessoas que buscam o bem comum, enfrentando as dificuldades existentes, por maiores que sejam. Entretanto, ensina o Documento de Aparecida, “o que nos define não são as circunstâncias dramáticas da vida, nem os desafios da sociedade ou as tarefas que devemos empreender, mas todo o amor recebido do Pai, graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo. Esta prioridade fundamental é a que tem presidido os trabalhos que oferecemos a Deus, à nossa Igreja, ao nosso povo, enquanto elevamos ao Espírito Santo nossa súplica para que redescubramos a beleza e a alegria de ser cristãos. Aqui está o desafio fundamental que contrapomos: mostrar a capacidade da Igreja de promover e formar discípulos que respondam à vocação recebida e comuniquem em todas as partes, transbordando de gratidão e alegria, o dom do encontro com Jesus Cristo. Não temos outro tesouro a não ser este. Não temos outra felicidade nem outra prioridade que não seja sermos instrumentos do Espírito de Deus na Igreja, para que Jesus Cristo seja encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado a todos, não obstante todas as dificuldades e resistências. Este é o melhor serviço – seu serviço! – que a Igreja tem que oferecer às pessoas e nações”. (cf. Documento de Aparecida, 14)

         Com esta consciência, desejamos iniciar este novo mês dedicado às vocações, para oferecer o testemunho de Jesus Cristo, envolvendo todas as gerações de cristãos, e responder às necessidades da Evangelização. E partimos da certeza dada pela realidade de nosso Batismo. Nós recebemos de graça a filiação com a qual nos acolheu o Pai das Misericórdias, a vida nova que nos faz participantes da Morte e Ressurreição de seu Filho Jesus Cristo e a certeza de que o Espírito Santo habita em nós. Veio do alto o chamado fundamental à vida cristã, semente e garantia do amor de Deus e da igualdade fundamental de filhos e filhas de Deus que nos foi presenteada, a se desdobrar na bela diversidade existente na Igreja, em múltiplas formas, na estrada da santidade.

         Instrumentos de nosso crescimento na vocação cristã têm sido nossas famílias, com suas qualidades e também suas limitações. Elas nos provocam as contínuas decisões de amar-nos reciprocamente e descobrirmos o caminho para superar as dificuldades. A família seja um espaço para que cada pessoa descubra e realize sua missão na Igreja e descubra o horizonte da esperança, que dá sentido à existência. Uma proposta desafiadora, séria e ao mesmo tempo alegre e feliz é que em cada casa os filhos respirem um ambiente sadio, de valorização da Palavra de Deus e da Vida da Igreja, orações em comum, participação na vida comunitária e paroquial, experiências de partilha e de comunhão com o próximo, sensibilidade em relação aos mais pobres. Assim, poderão encontrar condições para escolhas decisivas na vida. Aceitemos a ideia de propor em todas as famílias, começando com as crianças, a pergunta sobre o que Deus quer de cada um, ao invés de só questionar o que a criança, o adolescente ou o jovem querem fazer na vida!

         Desejamos ainda que todas as possibilidades de serviço na Igreja sejam consideradas como vocações. É vocação o matrimônio, e sem o chamado de Deus perde o viço qualquer vida de casal! É possível e desejável o chamado à vida sacerdotal em nossas famílias, sem dar desculpas de limitações, histórias difíceis ou pobreza. Basta ver o quanto o chamado e a resposta de jovens à vida sacerdotal ressoe mais no meio dos pobres! Vocação à vida religiosa consagrada e missionária é caminho a ser descoberto em nossas casas, mas os pais e mães precisam acolher como dom uma eventual vocação em sua família. E hoje, com novas formas de Dedicação a Deus, descubramos como as Comunidades Novas de vida e Aliança abrem o leque para a resposta a Deus! Em nossa Igreja de Belém, como são edificantes as vocações de casais totalmente entregues à evangelização nestas novas formas de chamado da parte do Senhor. Mais ainda, que sentido profundo tem a Vocação da Ordem das Virgens, instituída em nossa Igreja, valorizando uma das primeiras formas de entrega a Deus nascidas na história da Igreja!

         Se queremos mais, aceitemos a provocação positiva que todos, em Comunidades e Paróquias, descubram seu lugar. Alguém assume o Ministério da Palavra, outro da Comunhão Eucarística. As pastorais abrem espaço para a grande diversidade de carismas e dons existentes nas Paróquias, a serviço das crianças, dos jovens, dos enfermos, dos idosos. Outros fazem o serviço da acolhida e da visitação. E não fique de fora o fundamental Ministério de Catequistas, inclusive instituído atualmente de forma oficial na Igreja Católica!

         Para chegar a esta diversidade de serviços, dons, carismas e ministérios, há algumas condições. Começa com o ambiente e o acolhimento no templo e na vida paroquial. Uma pessoa que se sente bem vinda acabará por colocar-se à disposição dos outros, trazendo todos os seus dons e oferecendo-se para maior envolvimento. Depois, nossa Liturgia, especialmente nas Missas Dominicais, há de ser bem viva e preparada, realizada com serenidade, privilegiando o anúncio do Evangelho, não fazendo das homilias e comentários um noticiário dos problemas da semana, cujo conteúdo já bombardeia os fiéis, com os meios de comunicação e as redes sociais. E nossas celebrações terminem sempre com “gosto de quero mais”!

         Deus já me concedeu a alegria de convidar diretamente jovens e adolescentes para o serviço da Igreja e especialmente à vocação sacerdotal. E foi São João Paulo II que despertou em padres e bispos esta responsabilidade, dizendo que a nós caberia chamar com clareza. E posso assegurar que este é um caminho privilegiado. As vocações existem, para o sacerdócio, o matrimônio, a vida religiosa e missionária, para os ministérios e a consagração em novas comunidades. O que falta, não me cansarei de repetir, é trato e carinho!

         Enfim, o mais importante! O Dono da Messe quis entregar-nos a participação orante no chamado, e isso vale! “Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos: ‘A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie trabalhadores para sua colheita!’” (Mt 9,36-38) Uma cultura vocacional será fruto de nossa oração, nossa resposta e nosso testemunho!

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