Vigiar com esperança, servir com amor: um chamado do Evangelho no Dia Mundial dos Pobres

Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo Auxiliar de Belém

Caríssimos leitores, estamos no penúltimo domingo do ano litúrgico, isto é, no 33º Domingo do Tempo Comum e, em 2025, este dia é marcado pela 9ª edição do Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco em 2017. Isso se torna para nós um apelo providencial: a Palavra de Deus nos convida a vigiar com esperança e, ao mesmo tempo, olhar ao nosso redor com sensibilidade concreta diante da pobreza. Para esta ocasião, conto com a colaboração de Ir. Maria Rejiane da Mata Dias, Filha da Caridade.

Neste ano, o Papa Leão XIV propôs como tema para o Dia Mundial dos Pobres a frase do Salmo 71: “Tu és a minha esperança”. Uma escolha que une o clamor dos pobres com a certeza de que, mesmo em meio às dores, Deus permanece fiel. A esperança, neste contexto, não é um consolo ilusório, mas a força que sustenta a luta por justiça, dignidade e inclusão.

Em sua mensagem, o Papa convoca a comunidade cristã a reconhecer os pobres não apenas como destinatários da caridade, mas como agentes de esperança. Ele lembra que a pobreza – em suas múltiplas formas – exige uma atenção estrutural: educação, saúde, moradia, trabalho devem ser pilares de uma sociedade justa.

Celebrar o Dia Mundial dos Pobres vai muito além da organização de eventos pontuais ou da distribuição de bens materiais. Trata-se de um convite à conversão do coração e à adoção de um estilo de vida evangélico, no qual a solidariedade, a escuta e o compromisso com os mais vulneráveis sejam atitudes permanentes, e não apenas gestos ocasionais. Viver bem essa data significa integrar à própria vida atitudes que refletem a centralidade do amor ao próximo, especialmente ao pobre, no seguimento de Jesus Cristo.

O primeiro passo para essa vivência autêntica é a escuta e a convivência. É fundamental criar oportunidades para ouvir os pobres, conhecer suas histórias, suas lutas e esperanças. Escutar, de forma sincera e atenta, é o início de todo caminho de amor. Essa convivência humaniza a relação e impede que o outro seja reduzido a um número ou a uma estatística.

A partilha concreta também é expressão essencial de um cristianismo encarnado. Reunir a comunidade para arrecadar alimentos, roupas ou recursos financeiros é importante, mas, igualmente, necessário é partilhar tempo, atenção e presença. Os pobres não precisam apenas de coisas, mas de vínculos. O amor cristão se traduz em gestos simples, mas repletos de dignidade.

Além disso, o Dia Mundial dos Pobres deve ser um momento forte de oração e reflexão. Rezar pelos pobres é necessário, mas não basta. É preciso refletir, em família, em grupos e comunidades, sobre as causas da pobreza e sobre como a sociedade – inclusive a Igreja – pode responder de maneira mais efetiva e estruturada aos desafios atuais. A fé não pode estar desconectada da realidade social.

Nesse sentido, é essencial compreender que este dia não é um fim em si mesmo, mas um ponto de partida. A solidariedade não pode se limitar a um domingo no calendário. Deve-se cultivar um compromisso contínuo com os pobres, perguntando-se: o que posso fazer para estar mais próximo de quem sofre? Quais atitudes posso transformar em hábitos permanentes?

A vivência do Evangelho exige também uma ação profética. Não basta a caridade; é preciso promover a justiça. Denunciar as estruturas injustas que geram e perpetuam a pobreza, apoiar políticas públicas que promovam dignidade e inclusão, contribuir para uma sociedade mais justa e fraterna: tudo isso faz parte da missão do cristão comprometido com os pobres.

Neste domingo a liturgia nos coloca diante de dois desafios profundos: reconhecer a brevidade das realidades humanas e cultivar a vigilância de um coração firme em Deus.Isto é, mesmo diante das crises do mundo, perseguições e incertezas, o cristão é chamado a confiar, agir com responsabilidade e permanecer firme na fé.

Que cada leitor se deixe interpelar: será que minha fé me torna indiferente ou sensível ao sofrimento do outro? Será que minha oração me convida a gestos concretos? Que este domingo nos conceda olhos despertos para ver quem sofre, mãos dispostas a servir e um coração enraizado na esperança em Deus.

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