Conversa com meu povo: A força do testemunho de vida

Foto: Divulgação.
 
“Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá mais para nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada, e coloca debaixo de uma vasilha, mas sim, num candeeiro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,13-16). 
 
A Igreja de Belém vive o seu primeiro Sínodo Arquidiocesano. Nos meses de janeiro e fevereiro, todas as Paróquias organizam suas Assembleias Sinodais, nas quais se procede a uma avaliação da atuação pastoral, em busca de novos caminhos para que sejamos cada vez mais uma “Igreja de portas abertas”, acolhendo a todos e indo ao encontro dos mais distantes, aqueles que estão nas periferias geográficas, ambientais ou de fé. Ninguém pode ficar excluído do alcance do amor de Cristo, e sabemos que o Senhor nos deu o mandato missionário, do qual não nos é permitido fugir e nem cair no pecado de omissão. 
 
Para que aconteça o processo de evangelização e cheguemos aos confins da terra, ainda que muitas vezes estejam bem próximos de nós, é necessário que os cristãos católicos se disponham a ser sal, luz e fermento na sociedade. De fato, o mundo em que vivemos, malgrado todos os recursos tecnológicos e as possibilidades de participação dos cidadãos na organização da sociedade civil, carece de rumo e sentido, conduzindo-nos a assistir a cenas de desesperança e até mesmo de desespero quanto ao mais importante, que é valer a pena viver nesta terra. Sem os cristãos, a sociedade ficará sem “sabor”, “sem sal”. Nossa responsabilidade é imensa!
 
Como dar testemunho de Jesus Cristo e dos valores do Evangelho? Nosso ponto de partida não são os grandes gestos, a coragem dos pregadores ou de tantos heróis da História da Igreja, sem dúvida importantes, mas o silêncio daquela pessoa que apenas sabe rezar e praticar a Palavra de Deus. Daí podermos entrar em algumas casas, ricas ou pobres, por simples que sejam, e ali encontrar acolhida, calor humano, palavras de sabedoria, olhos brilhantes que transparecem a luz de Deus. Parece que da porta da sala é possível ver a casa inteira, mas se trata mais de coração do que cômodos de uma residência! Conheço pessoas de poucas letras e muita sabedoria, pois sabem ser coerentes com a fé recebida no Batismo. Sua vida cotidiana torna-se exemplar, como aquelas boa companhias que os pais recomendavam em nossa infância. Dá vontade de estar perto de tais pessoas. Viver a Palavra de Deus, testemunhar o Evangelho e seus valores!
 
Quem se abre para descobrir a própria vocação, seu lugar na Igreja e o modo com o qual pode dar a vida pelos outros, vencendo o comodismo e lançando-se à missão, entendida como vocação própria do cristão, torna-se testemunho corajoso no meio da sociedade, e ajuda o mundo a ser melhor. Vocação descoberta e seguida é testemunho!
 
Mais ainda! A Igreja tem apresentado diante de nossos olhos a medida alta da vida cristã, a santidade! Há muita gente santa, não só quem foi reconhecido em grau heróico pela Igreja, mas aquelas pessoas que almejam a santidade, na perfeição da caridade! Dentro de algumas semanas será aberta no Brasil a Campanha da Fraternidade de dois mil e vinte. O cartaz que se espalha por todo o nosso país traz em seu centro Santa Dulce dos Pobres, santa da caridade, gente nossa, cercada de figuras representativas de nossas cidades. Nela se encontra o testemunho incansável da caridade, busca concreta da santidade. Testemunho vivo é almejar a santidade e sair da mediocridade! Santidade é testemunho!
 
Nestes dias recordamos outra forma de testemunho, aliás, a origem da própria palavra testemunho. Trata-se do martírio, quando pessoas como a Irmã Dorothy Stang, morta em Anapu – PA, em doze de fevereiro de dois mil e cinco, na luta por uma reforma agrária justa, pela proteção das florestas e uso sustentável dos recursos, cuja simplicidade, aliada à coragem indomável e a defesa dos mais pobres e fracos, ainda é sinal de santidade, outra forma de dar testemunho, para ser sal da terra, luz e fermento! Ao seu lado, uma fila imensa de mártires, testemunhas que selaram com o derramanento do sangue a fé em Cristo. E se agregam a tais mártires os sacrifícios e sofrimentos oferecidos, na união com o próprio Cristo, em tantos irmãos e irmãs. Martírio, testemunho com a vida doada!
 
Muitos homens e mulheres acolheram o chamado de Cristo a serem pregadores da Boa Nova. E não só quem tem, por ministério próprio, tal tarefa. Multiplica-se na Igreja a presença de pessoas capazes de aliar o conhecimento da Palavra de Deus rezada e vivida ao anúncio corajoso. É positivamente forçoso afirmar o quanto tem sido fecundo o serviço que prestam, inclusive porque pregam sempre com a coragem de apresentar também o testemunho de vida. Não têm receio de contar histórias de conversão, verdadeiros milagres operados pela ação do Espírito Santo em suas vida! Pregação e testemunho!
 
Volto-me agora com alegria para o testemunho dado pelos nossos sacerdotes. Homens totalmente doados ao Evangelho e à Igreja. Pregam a cada dia a Palavra de Deus, espalham as sementes do perdão com o Sacramento da Reconciliação, presidem a Celebração Eucarística e outros Sacramentos. Exercem o ministério da escuta e do aconselhamento, oferecem a Direção Espiritual! O mundo precisa e clama pelos padres e por seu ministério. São testemunhas vivas da presença do Senhor!
 
Vede como eles se amam, já se disse a repeito da vida da Comunidade cristã. Um povo reunido para a Missa e outras orações, uma comunidade unida e solidária com os pobres, a organização das pastorais, os movimentos de Igreja. Povo unido, testemunho vivo de Jesus Cristo. Assim se realiza a Palavra do Evangelho: “Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Cf. Mt 5,14-16). Uma Igreja de portas abertas traz alegria a todos, pelo testemunho vivo nela encontrado. É o caminho que desejamos percorrer.

 

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