Foto: Luiz Estumano. |
A Igreja conhece, em sua história, pessoas que enfrentaram desafios imensos. Há inclusive santos, como São Sebastião, invocados para situações muito difíceis, como a peste, a fome e a guerra. E Deus tem concedido à sua Igreja a lucidez para se pronunciar e agir, dando a resposta que lhe é possível e suscitando o engajamento dos fiéis nas lutas pela dignidade da vida humana e sua sustentação. Recentemente, a ONU fez um apelo ao qual o Papa Francisco aderiu imediatamente, convidando todos os cristãos a se unirem a ele. Foram estas as palavras do Papa: “As Nações Unidas pediram um cessar-fogo global e imediato para enfrentar a Covid-19 e fornecer assistência humanitária. Faço votos de que esta Resolução seja aplicada o quanto antes pelo bem de quem sofre e se torne um primeiro passo para um futuro de paz”.
Duas das terríveis pragas que assolam a humanidade assim se apresentam: a peste e a guerra! E a fome está também bem perto de nós. Basta ver a multiplicação de campanhas de cestas básicas promovidas não só pela Igreja, como também por tantas instituições que se despertaram para a solidariedade nos tempos difíceis que vivemos! Nós mesmos fomos alcançados diretamente pela caridade do Papa, que nos enviou importância significativa, destinada à aquisição de cestas básicas e kits de higiene. E nestes dias chegaram três respiradores doados pelo Papa, um para a Diocese de Marabá, outro para o Barco Hospital Papa Francisco, na Diocese de Óbidos, e o terceiro para a Arquidiocese de Belém, doado ao Hospital da Divina Providência, em Marituba. E a Cáritas Arquidiocesana continua suas campanhas!
No último dia 14 de julho, celebramos São Camilo de Lellis. A seu tempo um herói da caridade. Ao final da vida, realizava-se um desejo que o conduziu, ter um coração grande como o mundo. Passou São Camilo por várias etapas em seu caminho. Paixão pela caserna, sofrimento na família, tornando-se órfão muito novo e ainda uma vida desenfreada, gastando a herança recebida. Certa feita, o encontro com o amor de Deus, acompanhado de uma ferida na perna que o incomodou vida afora e o levou a sucessivas internações. Veio o desejo de se consagrar a Deus como Capuchinho, intento que viu frustrado posteriormente. Dedicou-se depois a cuidar dos doentes, entendendo um dia, ao lavar os pés de um enfermo, que ele era Jesus, sentindo, então, a alegria de poder cuidar do seu Senhor. Viu gravar-se em seu coração a palavra do Evangelho: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,40). E veio a vocação, e uma nova Congregação religiosa, os “Ministros dos Enfermos”, os Camilianos. Ordenado depois sacerdote, viu crescer sua família espiritual.
De São Camilo recolhemos lições oportunas para reconhecer o valor de tantas pessoas que estão se prodigalizando no cuidado dos doentes, animadas de verdadeira paixão pela vida humana (Cf. “Il santo del giorno”, Città Nuova Editrice, Roma, 2009, volume 2, páginas 329-334). E estamos todos aprendendo que é necessário, ao falar do amor de Deus ao próximo, socorrer quem sofre. São Camilo aprendeu e ensinou a cuidar do corpo e da alma das pessoas, a cuidar do corpo para chegar ao cuidado da alma, e cuidar do corpo e da alma por causa de Deus, sabendo que tudo é feito a Jesus. Repetia sempre que se deve cuidar dos doentes com um amor dedicado, o mesmo amor de uma mãe pode ter por um filho único, como o amor de Maria aos pés do Filho Crucificado. Ele fez a experiência pessoal da condição de pecador e também de doente incurável, aprendendo assim a se aproximar dos doentes, sabendo que estes, com muita frequência, além das feridas físicas trazem escondidas chagas muito mais profundas que só o amor verdadeiro pode curar. Junto com São João de Deus, é padroeiro dos hospitais e considerado um precursor do que hoje é a Cruz Vermelha no mundo.
Esta é a ocasião propícia para manifestar o reconhecimento a todos os profissionais da saúde, homens e mulheres, que têm oferecido o melhor de si mesmos para cuidar dos doentes em tempo de pandemia. Quantos deles se descobriram maiores do que sua capacidade profissional, encontrando a reserva de amor sobrenatural plantada em seus corações! Aprenderam, com sua prática e dedicação, a imolar-se verdadeiramente, colocando em risco a própria vida. E, se muitos desses heróis sucumbiram, temos a certeza de que foram feitos sementes de vida para a humanidade. Neles se realiza palavra do Evangelho: “Em verdade, em verdade, vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só. Mas, se morre, produz muito fruto. Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem não faz conta de sua vida neste mundo, há de guardá-la para a vida eterna” (Jo 12,24-25).
O cuidado com a saúde significa a valorização da vida. Tanto no corpo, como nos afetos e na vida espiritual, um passo importante é a prevenção. Já ouvimos tantas vezes que é melhor prevenir do que remediar, e aqui vem uma lista de atitudes, passando pela alimentação balanceada, os exercícios físicos, a superação dos vícios, o sono, além do cuidado com o ambiente. Desejo ir ao encontro da sabedoria de velhos e menos velhos, capazes de multiplicar e transmitir valores milenares e adequados para uma vida saudável.
Na presente etapa da vida do planeta, vale repetir as recomendações especiais e adequadas, quais sejam o uso de máscaras, o distanciamento social, o álcool em gel, a busca de assistência médica.
Tudo muito bonito e importante, mas o cuidado da vida – “é tempo de cuidar”, repete uma campanha da CNBB –, vai de encontro às graves necessidades decorrentes da situação social, da pobreza endêmica, do desemprego e da falta de trabalho. Um dos princípios da Doutrina Social da Igreja, a Solidariedade, seja acolhido na busca de maior equidade nas relações sociais e superação dos imensos desníveis existentes, para que todos tenham vida (Cf. Jo 10,10)! “As novas relações de interdependência entre homens e povos, que são de fato formas de solidariedade, devem transformar-se em relações em vista de uma verdadeira e própria solidariedade ético-social, que é a exigência moral inerente a todas as relações humanas. A solidariedade, portanto, se apresenta como princípio social e virtude moral. A solidariedade deve ser tomada no seu valor de princípio ordenador das instituições, para a superação das estruturas de pecado, que dominam os relações entre as pessoas e os povos, e que devem ser superadas e transformadas em estruturas de solidariedade, mediante a criação ou a oportuna modificação de leis, regras do mercado, ordenamentos. Ela é também uma virtude moral, não um sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas próximas ou distantes. Pelo contrário, é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos. A solidariedade é uma virtude social fundamental, pois se coloca na dimensão da justiça, virtude orientada por excelência para o bem comum, e na aplicação em prol do bem do próximo, com a disponibilidade, em sentido evangélico, para “perder-se” em benefício do próximo em vez de explorá-lo, e para “servi-lo” em vez de o oprimir para proveito próprio (Cf. Mt 10, 40-42; 20, 25; Mc 10, 42-45; Lc 22, 25-27 – Cf. Catecismo da Doutrina Social da Igreja, 193).
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Conversa com meu povo: A luta pela vida, para um tempo de paz
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