Conversa com meu povo: A missão do Cristão

 
Há uma convicção que acompanha a Igreja quanto à sua missão evangelizadora, a certeza do plano de Deus expresso na Escritura: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda bênção espiritual nos céus, em Cristo. Nele, Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e imaculados diante dele, no amor. Conforme o desígnio benevolente de sua vontade, ele nos predestinou à adoção como filhos, por obra de Jesus Cristo, para o louvor de sua graça gloriosa, com que nos agraciou no seu bem-amado” (Ef 1,3-6). São Paulo manifesta assim a alegria da descoberta do chamado universal à salvação, ao qual se sentiu chamado a servir: “A mim, o menor de todos os santos, foi dada esta graça: anunciar aos pagãos a riqueza insondável de Cristo e mostrar claramente a todos como se realiza o seu plano escondido, desde toda a eternidade em Deus, que tudo criou” (Ef 3,8). Da parte de Deus, todos são chamados a serem filhos amados, sem exclusão de quem quer que seja. O outro lado é a resposta humana, dependente do mistério de nossa liberdade.
 
Trazendo no coração esta certeza, desdobra-se diante de nossos olhos a imensidão de um mundo a ser evangelizado. A Boa Nova de Jesus se destina a todos os homens e mulheres de todos os tempos e de todos os recantos. Não é possível à Igreja resignar-se diante dos desafios, indiferença ou perseguição. Desde os primórdios ela enfrenta obstáculos de toda ordem para alcançar as mais distantes regiões do mundo e os ambientes mais provocadores com o amor de Cristo a ser experimentado e anunciado.
 
Começando pelos primeiros que foram chamados por Jesus (Cf. Mc 6,7-13), as sucessivas gerações de cristãos receberam a responsabilidade de transmitir a alegre notícia, olhando ao redor para alcançar o maior número possível de pessoas, olhando para frente, a fim de descortinar novos horizontes missionários, olhando para trás, para recuperar os que eventualmente tenham ficado caídos pelo caminho. A responsabilidade cabe a todos, cada qual na vocação e no estado de vida que lhe é próprio. Ninguém pode ficar de fora, como espectador passivo! A todos chegue o convite: caminhar com os outros e não isoladamente, despojamento que busca o essencial e renuncia àquilo que é supérfluo, sair de si para ir à casa e aos ambientes dos outros, ser portadores da vitória sobre o mal e o demônio, levar no coração e nas palavras a bênção e a bondade que nascem do coração de Deus.
 
Entretanto, sabemos que a missão não se realiza como fruto de um voluntarismo que pode chegar às raias de individualismo, num convencimento das próprias capacidades. Esta só acontece de verdade quando se abre à graça, capaz de transformar em missionários ardorosos pessoas antes marcadas pelo medo e a timidez. Podemos encontrar no ritual do Batismo, justamente após o banho com o lavacro batismal, na unção com o óleo do Crisma, a fórmula usada pela Igreja nos indica o caminho da graça: “Queridas crianças, pelo Batismo, Deus Pai as libertou do pecado e vocês renasceram pela água e pelo Espírito Santo. Agora vocês fazem parte do povo de Deus. Que o Espírito Santo as consagre com este óleo santo, para que participem da missão do Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei, e sigam os passos de Jesus, permanecendo no seu povo até a vida eterna”.
 
Na graça do Batismo, recebemos a missão sacerdotal, sacerdócio comum dos fiéis, que pode ser entendido pelas palavras do Apóstolo: “Eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito” (Rm 12,1-2). O mundo pode se santificar porque nós existimos, e somos portadores da graça, para que tudo seja abençoado, onde quer que chegue uma pessoa batizada.
 
Na graça do Batismo, recebemos a missão profética, na capacidade para oferecer a Deus nossa mente e nossa boca, interpretando os acontecimentos e a vida à luz de Deus, superando as muitas visões tendenciosas e parciais a respeito da vida. Chamados a uma vocação profética, onde quer que estejamos e qualquer que seja nossa origem e profissão (Cf. Am 7, 12-15), cabe-nos comprometer-nos com a verdade, testemunhá-la e anunciá-la. 
 
Na graça do Batismo, participamos da Missão de Cristo Rei-Pastor. Tornamo-nos mutuamente responsáveis pela salvação do próximo. No amor de caridade, somos chamados a pastorear com Cristo a humanidade, no serviço, na acolhida, na presença junto a todos, especialmente os mais pobres, os sofredores, os pecadores e aqueles que se encontram afastados e rejeitados.
 
Quando considerarmos nossa sociedade, nosso trabalho e nosso lar como lugares de missão, então Deus terá um lugar, onde quer que estejamos, e nós seremos suas testemunhas corajosas. Não se defende a fé conservando-a para uso próprio, vivendo-a sozinhos, apenas na intimidade, mas oferecendo-a aos outros e compartilhando-a com quem vive ao nosso lado.  O Evangelho (Mc 6,7-13) indica que o discípulo de Jesus é chamado para mostrar ao mundo sua fé e a alegría que ela gera nas pessoas e na sociedade. Podemos tomar posse de novo da graça da missão, já recebida no Batismo.
 
 
 
 
 

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