Conversa com meu povo: Bem-aventuranças, boas notícias

 
O Evangelho é a Boa Nova que Jesus veio ao mundo anunciar. A Boa Notícia chega aos corações, produzindo efeitos de conversão e de vida plena para todos. Durante o Ano Jubilar da Misericórdia, nós repetimos inúmeras vezes “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”, expressão que foi cantada em todos os recantos da Terra, iluminando de forma especial os olhares dos jovens, reunidos com o Papa na Polônia para abraçarem novos critérios de felicidade e realização humana e cristã. Entretanto, é muito pouco falar de felicidade. O cristão projeta mais alto a sua existência, desejando que seja uma boa, mais ainda, excelente “aventura”. Uma bem-aventurança que conduz à plenitude para a qual todos os seres humanos foram criados. Se o Sermão da Montanha é chamado de “Carta do Reino”, a constituição de uma nova realidade, inaugurada por Jesus e em Jesus, as Bem-aventuranças (Cf. Mt 5, 1-12) são o ponto de partida para um projeto pessoal de vida, a ser assumido por todas as pessoas que professam a fé cristã e oferecido como proposta para toda a humanidade, indo em missão até os confins da terra.
 
 
Quando o Evangelista São Mateus descreve Jesus no alto de uma montanha, de onde se vislumbra o Lago de Genesaré, ou Mar da Galileia, tinha certamente nos olhos do coração a memória, tão viva para os seus leitores, da lei oferecida ao povo na Aliança do Sinai. Jesus é o novo Moisés, portador da nova Lei inscrita nos corações e não em tábuas de pedra (Cf. 2Cor 3, 3). Aproximemo-nos como discípulos (Cf. Mt 5, 1-2), assentados em torno do Mestre para ouvi-lo! Esta é uma oportunidade privilegiada para acolher a Boa Notícia, deixá-la guardada no coração e assumi-la como missão.
 
“Bem-aventurados os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. A liberdade diante das coisas é o ponto de partida para a experiência do encontro com Jesus. Várias vezes os Evangelhos nos mostram pessoas que deixaram tudo, redes, banca de impostos, projetos pessoais, vida pecaminosa, casa, pai, mãe, irmãos, terras, tudo o que possuíam, apenas para seguir a Jesus, apoiados apenas na Providência, com a certeza de virem a possuir bens mais consistentes. Jesus corta na raiz o apego às coisas, desmorona o ídolo da posse e da ganância. É notícia inusitada em todos os tempos, pois provoca uma revolução no interior dos corações, nos bolsos e nas relações sociais. “Na verdade, a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem entregues a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos” (1 Tm 6, 10; Cf. Tg 5, 1-11). Imenso é o desafio de usar os bens sem deixar-se usar por eles. É caminho de bem-aventurança!
 
“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”. Deixar-se enganar pela ilusão do bem estar, da falta de esforços e inclusive de lágrimas, prometer que não haverá sofrimentos na vida, ou não abrir os olhos das novas gerações para os esforços a serem assumidos é ludibriar as pessoas e conduzi-las a sofrimentos maiores ainda. Boa aventura é assumir a luta diária, inclusive com sangue, suor e lágrimas! É verdade a ser anunciada com calma, mas assumida com realismo. Pode parecer incrível, mas os que choram são bem-aventurados! É proposta de vida realizada!
 
“Bem-aventurados os mansos, porque receberão a terra em herança”. Basta olhar ao nosso redor para ver os frutos da força e da violência que se espalham por todo canto. Tantas armas, tanta raiva, ódio do diferente, competição e destruição continuam a mostrar seus frutos. Estamos ainda à espera dos corajosos, prontos a assumirem a proposta da não-violência ativa, a bem-aventurança da mansidão. Até lá, o Reino de Deus sofre, também ele, a violência originada de nosso egoísmo! É hora de acordar!
 
“Bem-aventurados os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados”. No mesmo Sermão da Montanha, o Senhor provocou seus ouvintes e todos nós: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6, 33). Buscamos as pessoas insatisfeitas, desejosas de novos valores, gente inquieta que quer a plenitude que só pode vir de Deus, cuja realização só acontecerá quando forem saciadas, bem-aventuradas! 
 
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Esta bem-aventurança, proclamada em prosa e verso desde a chegada do Papa Francisco, é a força capaz de inverter a força de todos os justiceiros de todos os naipes e cores existentes no mundo. É a força da fraqueza, é bem-aventurança!
 
“Bem-aventurados os puros no coração, porque verão a Deus”. Ao ídolo do prazer, Jesus contrapõe a pureza de coração. Já o salmista cantava: “Senhor, quem entrará no Santuário prá te louvar? Quem tem as mãos limpas e o coração puro, quem não é vaidoso e sabe amar” (Cf. Sl 14). Mãos limpas e coração puro, lutar contra a correnteza no mundo que idolatra o prazer! Se os frutos do prazer desenfreado já se fazer ver, quem quer a bem aventurança comece a ser diferente!
 
“Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”. “A paz que é tão sonhada, cantada em canções tão lindas, só chegará até nós quando ouvirmos a voz do Senhor” (Mensagem Brasil). Bem-aventurança é construir a paz e não esperá-la passivamente. Ela é promovida quando se começa a amar, a sair de si mesmo, a oferecê-la como dom aos outros. Assim, a pessoa e o mundo serão bem-aventurados, porque edificaram a paz. 
 
“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”. “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Pois foi deste modo que perseguiram os profetas que vieram antes de vós”. As duas últimas bem-aventuranças, que se completam, são provocantes, pois dizem que podemos ser bem-aventurados já, mesmo antes da solução de todos os problemas e da vitória sobre todos os males. É que com o sofrimento ou no meio da consolação, sempre é possível amar e ser bem-aventurados, se olharmos para todos os que enfrentaram provações e provocações e, mais ainda, se voltarmos os olhos da fé para “o bem-aventurado”, aquele que passou pela tortura, crucifixão e morte para chegar à Ressurreição. O Bem-aventurado tem um nome: Jesus Cristo!

 
 

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