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Durante os cinquenta dias do Tempo Pascal, a Igreja nos oferece os “Atos” dos Apóstolos, que bem poderíamos chamar, com linguagem de nosso tempo, “Aventuras” vividas como consequência da Ressurreição de Cristo e o derramamento do dom do Espírito Santo, no Pentecostes. Tais aventuras comportam alegrias e dores, esperanças e angústias, zelo missionário e a certeza do cumprimento da promessa ouvida do Senhor: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 18-20). “Então, os discípulos foram anunciar a Boa Nova por toda parte” (Mc 16, 20). | ||
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E logo se formaram as muitas Comunidades Cristãs, hoje presentes em todos os quadrantes da Terra, chamadas a experimentar a presença do Senhor, alimentar-se de sua Palavra, da Eucaristia e dos outros Sacramentos, vivendo na caridade e testemunhando os feitos do Senhor. Viver em Comunidade é uma característica dos cristãos, que sabem do seu chamado. Um dos escritores dos primeiros séculos da Igreja, Tertuliano, testemunha que os primeiros cristãos levavam essas palavras de Jesus tão a sério que os pagãos exclamavam, admirados: “Vede como eles se amam!” (Apologético, 39)
E o Concílio Vaticano II assevera com propriedade: “Aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que o conhecesse na verdade e o servisse santamente… A Nova Aliança instituiu-a Cristo, o Novo Testamento no seu sangue (Cf. 1 Cor 11,25), chamando o seu povo de entre os judeus e os gentios, para formar um todo, não segundo a carne, mas no Espírito e tornar-se o Povo de Deus. Com efeito, os que creem em Cristo, regenerados não pela força de germe corruptível, mas incorruptível, por meio da Palavra de Deus vivo (Cf. 1 Pd 1,23), não pela virtude da carne, mas pela água e pelo Espírito Santo (Cf. Jo 3,5-6), são finalmente constituídos em raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo conquistado, que outrora não era povo (1 Pd 2, 9-10), mas agora é povo de Deus” (Lumen Gentium 9).
Com a vinda do Espírito Santo sobre a Virgem Maria e os Apóstolos, desencadeou-se a formação de Comunidades vivas. Basta lembrar que o Apóstolo São Paulo, constituindo-as, procurou alimentá-las com o testemunho e com a doutrina, através das cartas justamente intituladas às Comunidades sediadas nas cidades por ele visitadas. E os Atos dos Apóstolos nos revelam como estas Comunidades se tornaram evangelizadoras. Os Atos dos Apóstolos trazem alguns “sumários” que contribuem para compor um magnífico mosaico, referencial para as Comunidades de nossos dias (Cf. At 2,42-47; At 4,32-37; At 5, 12-16), pondo em relevo as características com as quais manifestavam a novidade do que era chamado de “Caminho” (Cf. At 9,2; At 19,9; At 22,4).
A Igreja nos propõe um resumo da vida dos primeiros cristãos (At 2,42-47), que se manifestavam fiéis ao ensinamento dos Apóstolos, à Oração, à Comunhão dos Bens e à Fração do Pão, que pode ser entendido como a primeira forma de Evangelização, tanto que muitas pessoas se agregavam aos discípulos, tocadas pelo testemunho dado.
O Ensinamento dos Apóstolos se refere à Palavra de Deus proclamada, ouvida, testemunhada e pregada com força. Para as Comunidades Cristãs de nosso tempo, vem à tona o apelo à volta constante às fontes da fé. Podemos pensar na grande riqueza dos ensinamentos oferecidos com objetividade e profundidade pelo Papa Francisco, com as inúmeras lições oferecidas ao mundo, com concisão e coragem, deixando estupefatos homens e mulheres de toda parte e inclusive de convicções diversas. Trata-se de oferecer o Evangelho a todos!
Perseverar na oração! Os Atos dos Apóstolos constatam que “perseverantes e bem unidos, frequentavam diariamente o templo… Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo” (At 2,46-47). Ainda Papa Francisco! Ao se apresentar ao mundo, logo após sua eleição, inclina-se diante da multidão presente na Praça de São Pedro e pede a oração do povo, o que faz repetidamente ao final de todas as suas falas. Nós acreditamos na força da Oração, e ela pode transformar o mundo e as pessoas, pois só Deus Onipotente pode interferir nos acontecimentos sem violar a liberdade com a qual criou todos os seres humanos. Uma Comunidade unida em oração atrai poderosamente, seja pelos frutos da própria oração, seja pelo exemplo oferecido.
Um dos sinais preciosos da presença dos cristãos no mundo é a partilha dos bens. “Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um” (At 2,44-45). A fé em Jesus Cristo leva a sentir os outros como irmãos, o que se realiza até hoje nas múltiplas expressões da caridade vivida na Igreja, nas incontáveis e criativas ações sociais nascidas da prática do Evangelho.
E tudo na Igreja, desde seus albores, converge para a “Fração do Pão”, o primeiro nome da Celebração Eucarística. Nas viagens de São Paulo, ele se encontra com a Comunidade no dia do Senhor: “No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para a fração do pão” (At 20,7). E é do próprio Apóstolo a descrição mais antiga da instituição da Eucaristia: “De fato, eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: Na noite em que ia ser entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo entregue por vós. Fazei isto em memória de mim’. Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em minha memória’” (1 Cor 11, 23-26).
O desafio está em nossas mãos: viver de tal modo a Palavra de Deus, a Oração, a Partilha dos Bens e a Eucaristia em nossas Comunidades de fé que as pessoas se sintam atraídas e positivamente provocadas a aderir ao Senhor Jesus Cristo.
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Conversa com meu povo: Comunidades vivas
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