Conversa com meu povo: Corpo entregue, Sangue derramado, Sacramento de Amor

Foto: Luiz Estumano.
 

"Quando chegou a hora, Jesus pôs-se à mesa com os apóstolos e disse: “Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer. Pois eu vos digo que não mais a comerei, até que ela se realize no Reino de Deus” (Lc 22,14-16). Celebramos com grande alegria a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, que costumamos chamar “Festa de Corpus Christi”. Passado o Tempo Pascal, quando a Eucaristia foi celebrada com tanta dignidade em todas as partes, do nascer ao pôr-do-sol, mesmo com as atuais e provocadoras circunstâncias de saúde pública em que nos encontramos, a sabedoria da Igreja nos faz contemplar e viver este Mistério que a acompanha, cume e fonte de toda a atividade apostólica.

Para as finalidades da Eucaristia – tornar-nos um só corpo e um só coração com Cristo – tudo converge, anúncio da Palavra, Catequese, organização da Igreja, e tudo nasce, como a vida na caridade, o anúncio do Reino de Deus e seus valores, o relacionamento com as pessoas e a sociedade, e também a profecia. Além disso, cada pessoa que comunga torna-se portador de Cristo, procissão viva, para que todos os que consomem seu tempo e sua capacidade de amar recebam misteriosamente o Senhor que nos sustenta a todos.

“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne, entregue pela vida do mundo” (Jo 6,51). Ao final de sua pregação sobre o Pão da Vida, Jesus faz uma revelação, certamente surpreendente, para a multidão e também para seus discípulos. O alimento que ele oferece é a sua carne e o seu sangue para a vida do mundo. Anunciava a sua presença permanente, que os outros três evangelistas descrevem na narrativa da última Ceia, assim como São Paulo, no magnífico texto da Primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 11,23-26): “Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: na noite em que ia ser entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo entregue por vós. Fazei isto em memória de mim’. Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazeio em minha memória’. De fato, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha”. Vale trazê-lo da memória, “na ponta da língua”, de “cor”, no coração, para ter presentes as palavras que são a referência para aquilo que a Igreja repete na Consagração, em cada Missa!

“A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém, em síntese, o próprio núcleo do mistério da Igreja. É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a realização incessante desta promessa: ‘Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo’ (Mt 28, 20); mas, na sagrada Eucaristia, pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue do Senhor, goza desta presença com uma intensidade sem par. Desde o Pentecostes, quando a Igreja, povo da nova aliança, iniciou a sua peregrinação para a pátria celeste, este sacramento divino foi ritmando os seus dias, enchendo-os de consoladora esperança. O Concílio Vaticano II justamente afirmou que o sacrifício eucarístico é ‘fonte e centro de toda a vida cristã’. Com efeito, ‘na santíssima Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o Pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo’. Por isso, o olhar da Igreja volta-se continuamente para o seu Senhor, presente no sacramento do Altar, onde descobre a plena manifestação do seu imenso amor” (São João Paulo II, Ecclesia de Eucaristia, 1).

Não estamos diante apenas de uma lembrança, mas de uma presença viva e real, capaz de sustentar toda a nossa vida. Para nos aproximarmos da Eucaristia, Mistério da Fé, é necessário justamente esta atitude de fé, na certeza de que o Senhor mesmo nos garantiu sua presença neste Sacramento. Ainda se pede de cada pessoa que comunga a disposição do coração para estar em plena sintonia com o Senhor, a sua Palavra e a sua Igreja. Cada um reveja com sinceridade sua própria vida, antes de participar da Eucaristia. Não que já sejamos perfeitos, até porque não merecemos, mas precisamos do Senhor e de sua presença salvadora, Pão vivo descido do Céu, Pão para a caminhada nesta terra.

Uma das condições para comungar, e comungar bem, é viver na caridade com os irmãos e irmãs, prontos inclusive a nos reconciliar com as pessoas, restaurando a caridade com o próximo. E não se trata apenas de fazer as pazes com as outras pessoas, mas fazer as pazes com o sentido de caridade e fraternidade que deve caracterizar a vida cristã. Olhar ao nosso redor, com a sensibilidade apurada de quem não deixa qualquer pessoa passar em vão ao nosso redor, é uma boa estrada para preparar-nos bem à comunhão. Recordemo-nos que a Eucaristia é Sacramento do amor de Cristo por nós. Seu único Sacrifício se encontra ali presente, como fonte inesgotável de vida, para que todos tenhamos vida e para a vida do mundo.

A Eucaristia que nos sustenta é presença real do Senhor. Na Solenidade de Corpus Christi e em todas as nossas Paróquias, voltamo-nos para o Senhor, presente no Tabernáculo ou exposto diante dos fiéis, para adorá-lo. Edifica muito a todos nós a quantidade de pessoas, homens e mulheres, jovens, adultos, crianças, tanta gente que entra em nossas igrejas, buscando ansiosa a luz que indica o local do Sacrário, para visitar Jesus Sacramentado. Ele está ali, e quantas são as histórias alegres ou tristes, lamentações e desabafos, agradecimento e súplica, prolongados silêncios, olhares e recolhimento! Tudo diante dele, que está ali, porque antes ou depois entenderemos que nele está o Paraíso. Está ali, sempre a esperar-nos, para fazer-nos compreender, no silêncio, quando nos parece não podermos fazer mais nada, diante das dificuldades. Realizando por amor a sua vontade, momento por momento, com Jesus, chegamos a toda a humanidade. Ele está ali para fazer-nos compreender que nunca estamos sós, que nossa casa é o Céu que quando vem a nós no Sacramento, ele entra em nós e, mais ainda, nós entramos nele. (Cf. Canção do Conjunto Gen Verde).

Todas as dimensões da Eucaristia, Sacrifício, Comunhão e Presença estão presentes na sede e fome de Deus que estamos assistindo em nossas Paróquias! Desejo da Comunhão, Horas de adoração, acompanhamento das celebrações possíveis através dos meios de comunicação e, agora, como fruto de um esforço de nossos padres e de tantas pessoas, o retorno progressivo às celebrações presenciais. Viva Cristo! 

 


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