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Darão bons frutos os políticos que priorizarem o bem comum e a vida plena, desde a concepção até a morte
Às vésperas das eleições municipais, torna-se importante a palavra da Igreja sobre este evento, abrindo nosso horizonte para a participação na vida social durante o ano todo, a fim de que os cristãos sejam sal, luz e fermento em todas as situações e ambientes. Referimo-nos de forma especial à mensagem emanada do Conselho Permanente da CNBB, com orientações preciosas a serem aqui apresentadas no correr de nossa reflexão.
Sal, luz, fermento! Vivemos num mundo pluralista e diversificado. Convivemos com opções políticas, sociais e religiosas diferentes, algumas vezes até conflitantes, e temos uma missão. Sonhamos com novos Céus e uma nova Terra, cuja realização está em Deus e depende de Deus. Nossa missão na história, ainda que pareça desproporcional aos desafios existentes, é transformar a realidade a partir de dentro, para que o Reino de Deus, anunciado e tornado realidade em Jesus Cristo se espalhe e mostre toda a sua força, ele que supera todos os eventuais desafios existentes.
Como realizar esta nossa missão? Os cristãos, vivendo no meio do mundo, podem e devem exercitar a cidadania. O cidadão ou cidadã vive na cidade, ou mais ainda, na sociedade, goza de seus direitos e deveres e pode e deve exercer tal missão. Olhar ao redor, interessar-se pela própria rua ou bairro, perceber as necessidades das pessoas, este é um passo fundamental. Não somos chamados a viver fechados em nossa casa ou interesses apenas individuais, mas convidados a uma sensibilidade apurada pelas necessidades de todos. Isso nos conduz a um dos princípios da Doutrina Social da Igreja, o bem comum. Desenvolver em nós o olhar para o bem de todos e dar a nossa contribuição.
Algumas pessoas se sentirão chamadas a participar dos Movimentos Sociais ou de partidos políticos, outras o farão através de atividades ou campanhas destinadas a responder aos desafios e às urgências existentes. Muitas pessoas terão, e isso é bem característico do cristão, a disposição para o exercício da caridade, o serviço dos pobres, o cuidado dos doentes e o engajamento em obras de assistência e promoção. Desejável é a superação do julgamento, quando alguém pensa que seu modo de agir é a única resposta, sem perceber a beleza e os frutos daquilo que o outro faz. O importante é que ninguém se exclua ou se sinta excluído da tarefa do bem comum e do espírito de serviço. Partilha e comunhão de bens são valores que podem iluminar a prática de vida dos mais pobres até os mais abastados da sociedade! E é bom tomar consciência de que o desejo de destruição dos outros, por motivos de classe ou ideologia não produz frutos verdadeiros de vida e transformação.
O exercício profissional, de acordo com as capacidades e condições de cada pessoa, pode ser um modo para contribuir no esforço de transformação do mundo. Vale observar que neste período de pandemia, vieram à tona os profissionais de saúde, homens e mulheres que foram reconhecidos como consciência, presença e ação em benefício dos outros. Mas tal sensibilidade social alcança e valoriza tantos outros profissionais. Em nossa Arquidiocese de Belém, temos assistido um edificante espetáculo de voluntariado em benefício das áreas missionárias em processo de implantação. São profissionais que dedicam tempo e capacidade para ajudar na edificação da Igreja.
E apresentamos a palavra da CNBB sobre as eleições, na qual foi enviada uma mensagem de esperança, coragem e chamamento à participação responsável no processo eleitoral, nesse tempo de profunda crise social, econômica, política e ética que atravessa o Brasil Dela trazemos orientações para as eleições, que serão realizadas em meio a uma grave crise sanitária, com números estarrecedores de mortes e adoecimentos. É tempo de erguer aos céus o nosso olhar esperançoso(Cf. Is 1,11-18).
A política, do ponto de vista ético, é o conjunto de ações pelas quais se busca uma forma de convivência entre indivíduos, grupos e nações que ofereçam condições para a realização do bem comum. Ela é o exercício do poder e o esforço por conquistá-lo, a fim de que seja exercido na perspectiva do serviço. (Cf. CNBB, Doc. 40, 184). Por isso, os cristãos, leigos e leigas, não podem “abdicar da participação na política” (Christifideles Laici, 42). Esse protagonismo é próprio do laicato. Cabe a elea exigência do Evangelho de construir no mundo o bem comum na perspectiva do Reino de Deus.
Para os católicos que disputam as eleições, é importante recordar que os prefeitos e vereadores que serão eleitos têm o dever de contribuir com ações eficazes, nos campos da saúde, educação, segurança, transporte, assistência social, moradia, direito à alimentação e proteção da família, entre outros. Darão bons frutos os políticos que priorizarem o bem comum e a vida plena, desde a concepção até a morte natural, de todos dos cidadãos, sem quaisquer discriminações, nunca buscando seus próprios interesses pessoais e corporativos.Não pode produzir bons resultados o político que atenta contra a vida, trabalhando por políticas públicas que favoreçam o aborto, fazendo campanha eleitoral com discursos de ódio, defendendo o uso da violência, o recurso às armas e se atrelando ao tráfico de drogas e às milícias. Quem não se compromete com os excluídos e se mostra indiferente diante da morte de pessoas e das graves feridas do meio ambiente não merece o voto de quem deseja uma sociedade justa e democrática.Em tempos de crescente desvalorização da política, o povo brasileiro precisa fazer das eleições uma verdadeira festa da democracia, de forma que se concretize “a política melhor, a política colocada ao serviço do verdadeiro bem comum” (Fratelli Tutti, 154). E estes são critérios orientadores do voto de todos nós, cristãos católicos!
Confiamos à Virgem de Nazaré a participação cristã nas eleições, desejosos de que nosso voto, por mais simples que pareça, seja sal, luz e fermento de uma sociedade renovada!
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