Conversa com meu povo: “Eu também não te condeno!”

Foto: Divulgação.
 
“Ainda que em nenhuma época estejam ausentes a bondade e a misericórdia de Deus, no tempo quaresmal a remissão dos pecados é colocada mais à disposição de todos, e é mais abundante o número daqueles que buscam renascer na graça batismal e se reforça com o retorno dos convertidos. Lavam as águas batismais, mas lavam também as lágrimas! Daí nasce a alegria pela readmissão dos eleitos e pela absolvição dada àqueles que se arrependem. Eis porque os servos e servas, que caíram em diversas formas de pecado, dizem, com as palavras dos profetas: ‘Pecamos e praticamos injustiças, cometemos iniquidades! Senhor, tende piedade de nós!’ Com alegria, acolheram a palavra do Evangelho: ‘Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados’. Como está escrito, ‘eles comeram o pão da dor, e banharam de lágrimas o seu leito’ (Cf. Sl 6,7; Sl 41,4), afligiram seu coração com o pranto e seu corpo com o jejum, para readquirir a salvação perdida de suas almas. Único, portanto, é o remédio da penitência e ele é útil a cada um e vem ajudar a todos”. São palavras constantes do antigo Rito da Reconciliação dos Penitentes, usado durante muito tempo na Igreja na manhã da Quinta-feira Santa. É este o estado de espírito adequado para os dias que correm, em preparação para a Páscoa.
 
A Quaresma é para nós o tempo favorável para a Reconciliação, fruto da volta para Deus, por ele mesmo suscitada em nossos corações. E a beleza da vida da Igreja nos oferece o Sacramento da Penitência, um dos canais da graça que realizam o que significam através de gestos externos. Em sua celebração podemos aprender os caminhos de aproximação com a graça libertadora do perdão!
 
No Evangelho (Jo 8,1-11), encontramos algumas etapas do perdão oferecido por Jesus. O Senhor acolheu certa vez uma mulher apanhada em flagrante adultério, pecado público que a lei antiga punia com a morte. O rito do encontro de Jesus com essa mulher ilumina nossa prática penitencial! A mulher vem do meio da multidão e é acusada de grave delito! Confissão deve ser feita pela pessoa que se reconhece pecadora! Aqui, ela é acusada, e a confissão sincera só virá no olhar, sem o peso dos gritos dos circunstantes! A norma da lei é apresentada, enquanto no Sacramento deve ser proclamada a Palavra que ilumina nossos passos! Jesus não foge da lei, mas quer estabelecer seu cumprimento a partir da verdade. Como sabemos, a Miséria e a Misericórdia ficaram sozinhas. Confissão, conselho, absolvição, tudo junto, na festa do perdão: “Ele levantou-se e disse: ‘Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?’ Ela respondeu: ‘Ninguém, Senhor!’ Jesus, então, lhe disse: ‘Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais’” (Jo 8,10-11). 
 
O Catecismo da Igreja Católica (Cf. números 1446 a 1460), fonte da reflexão que agora apresentamos, traz preciosos ensinamentos sobre este Sacramento, oportunos para a sua vivência neste tempo favorável. Cristo instituiu o sacramento da Penitência para todos os membros pecadores da sua Igreja. O sacramento da Penitência oferece uma nova possibilidade de se converterem e de reencontrarem a graça da justificação. Como aproximar-nos do Sacramento do Perdão?
 
Por um lado, estão os atos da pessoa que se converte sob a ação do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão sincera e a satisfação; por outro, a ação de Deus pela intervenção da Igreja. A Igreja que, por meio do bispo e seus presbíteros, concede, em nome de Jesus Cristo, o perdão dos pecados e estabelece o que se chama ‘satisfação’, pois quem se confessa deve fazer mais alguma coisa para reparar os seus pecados: «satisfazer» de modo apropriado ou «expiar» os seus pecados. A esta satisfação também se chama «penitência». A Igreja também reza pelo pecador e faz penitência com ele. Assim, o pecador é curado e restabelecido na comunhão eclesial. A penitência leva o pecador a tudo suportar de bom grado: no coração, a contrição; na boca, a confissão dos pecados; nas obras, toda a humildade e frutuosa satisfação.
 
Quem busca o Sacramento da Penitência precisa ter no coração o reconhecimento de sua situação de pecador. Ninguém procure o confessor para contar os pecados e falhas dos outros, mas para dizer, a seu modo: “Foi contra vós, só contra vós que eu pequei” (Sl 50,6). A contrição ocupa o primeiro lugar para alguém se confessar. Ela é uma dor da alma e a rejeição do pecado cometido, com o propósito de não mais pecar no futuro. É conveniente que a recepção deste sacramento seja preparada pelo exame de consciência, feito à luz da Palavra de Deus. Os textos mais adaptados para este exame devem procurar-se no Decálogo e na catequese moral dos evangelhos e das cartas dos Apóstolos: sermão da montanha e ensinamentos apostólicos.
 
A confissão dos pecados, mesmo de um ponto de vista simplesmente humano, liberta-nos e facilita a nossa reconciliação com os outros. Pela confissão, encaramos de frente os pecados de que nos tornamos culpados, assumindo nossa responsabilidade e abrindo-nos de novo a Deus e à comunhão da Igreja. 
 
Sendo um tribunal, o da misericórdia, a confissão sincera sempre se conclui com o perdão. Eis o que diz o confessor a quem se confessa: “Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.
É o modo de a Igreja dizer: “Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais”.

 

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