Conversa com meu povo: Fundados na rocha

 
Durante o mês de agosto, dedicado às vocações, voltamos o olhar para pessoas que nos são oferecidas como pontos de referência, quais sejam os pais de família, os padres, religiosos e religiosas, catequistas, lideranças de Igreja. Deus tem oferecido, através da história da Igreja, exemplos magníficos, cuja segurança aponta justamente para Ele, escolhendo-os para ajudar na caminhada do povo de Deus. Nós os chamamos de santos e de santas, mas hoje, ao nosso redor, existem muitos homens e mulheres capazes de arrastar multidões, mesmo em seu silêncio, através do testemunho dos valores do Evangelho.
 
 

   
 
 

Também a vida da sociedade depende muito das pessoas que se sobressaem diante do conjunto, podendo conduzir ao sucesso ou ao fracasso. E aqui se encontra uma das crises de nossa época, quando desmoronam verdadeiras colunas, e basta pensar no quadro político em que nos encontramos. Faltam valores consistentes, perdem-se as lideranças, as escolhas se tornam erráticas, abrem-se perspectivas negativas para os passos a serem dados em eleições, o futuro se torna opaco. 
 
Entretanto, o quadro pode trazer consigo novos desafios e novas respostas, justamente a partir de nossa experiência cristã, fazendo crescer nossa responsabilidade, pois somos, mais por graça de Deus do que por merecimento, detentores das reservas de esperança, aliás, a única! De fato, Jesus Cristo é a única esperança.
Em época de grande crise política e religiosa, o livro do Profeta Isaías (Cf. Is 22,19-23) oferece uma promessa de uma nova liderança: “Chamarei o meu servo Eliacim, para vesti-lo com tua túnica, prender-lhe a cintura com teu cinturão, colocando-lhe nas mãos a tua autoridade. Ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá. Colocarei em seus ombros as chaves do palácio de Davi, quando ele abrir, ninguém poderá fechar, quando fechar, ninguém poderá abrir. Hei de fixá-lo como estaca firme no lugar e o seu desempenho será prestígio para a casa do seu pai”. Como acontece com os textos proféticos do Antigo Testamento, estes se dirigem a seu tempo e ampliam o horizonte para aquele os realiza plenamente, o Messias prometido.
 
É necessário encontrar alguém com a firmeza de uma estaca, cujas palavras e ações não mudem com o vento e indique rumos para o povo! Mais forte ainda do que uma estaca é uma pedra! O salmista cantou que “a pedra que os pedreiros rejeitaram ficou sendo a pedra principal” (Sl 117, 22). E aquele que é esta pedra assim se expressou: “Nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram, esta é que se tornou a pedra angular. Isto foi feito pelo Senhor, e é admirável aos nossos olhos’?” (Mt 21,42). Jesus Cristo é a pedra angular, sem a qual todo o edifício desmorona!
 
Ao chamar seus discípulos, Jesus os acolheu com a história que traziam. Um deles, Simão, Jesus chamou de Pedro. Logo ele! O Simão da insegurança, ao caminhar sobre o mar, o mesmo do ardor cheio de promessas, o que sabe e reconhece ser pecador, até pedindo que Jesus se afastasse dele, o Simão da negação na hora mais decisiva, ou aquele que vem a ser repreendido por Paulo por suas dissimulações. E foi chamado Pedro, de pedra, rocha firme! Jesus o escolheu por amor e lhe deu as condições necessárias para “confirmar os irmãos” (Cf. Lc 22,32). A ele, como também a outras pessoas na história da Igreja, coube a missão de ser esta referência segura. E não lhe foi feita uma promessa pequena! “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18).
Como fazer para uma pessoa frágil e limitada assumir uma missão na Igreja? Como superar os eventuais limites de temperamento, ou os grandes defeitos, muitas vezes insistentes em sua história pessoal? E é possível encontrar pessoas confiáveis, para atribuir-lhes responsabilidades? E as fraquezas podem nossas, o que leva a perguntar sobre as condições que temos para eventuais responsabilidades ou funções de liderança!
 
Vale para Simão Pedro e para nós! Uma boa dose de realismo, raiz na terra, no chão que pisamos, reconhecendo qualidades e limites, sem querer dar passos maiores do que nossas pernas! Olhar para frente e para o alto, com a mente voltada para o Céu, alimentar os grandes ideais, valorizar o estímulo que vem dos exemplos positivos das outras pessoas, superar o pessimismo! No entanto, o coração precisa estar repleto de um grande amor de paixão pela humanidade! Aquele em quem acreditamos, Nosso Senhor Jesus Cristo, derramou seu sangue e entregou sua vida pelo perdão dos pecados. Nenhuma situação humana fica alheia ao seu amor. E ele é o único ideal que a humanidade espera, tantas vezes sem saber, a única força capaz de reunir os esforços de todos, o único que valoriza a busca incessante existente em cada pessoa humana.
 
Consideradas as devidas proporções, cada fiel pode ser ponto de partida para plantar a vida de Igreja e também para construir um mundo melhor, mais justo e fraterno. Ninguém diminua suas possibilidades de ser para alguém estaca firma, rocha segura, exemplo consistente, estímulo à caminhada. Basta olhar ao redor e identificar as sementes do bem, sejam as que foram plantadas por outras pessoas, como também aquelas que cada um de nós foi capaz de espalhar. E vale ainda olhar para alguém que, aos oitenta anos, feito sucessor do pescador da Galileia, chamado Simão Pedro, conduz a barca da Igreja, como rocha firme, nos mares bravios de nosso tempo, ainda que tantas vezes se diga pecador e necessitado de nossas orações. Seu nome é Papa Francisco.

 
 

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