Conversa com meu povo: Natal dos pobres!

Foto: Divulgação
 
José e Maria não encontraram lugar para se hospedarem em Belém, e se arranjaram num estábulo. Uma manjedoura onde se colocava alimento para animais foi o primeiro berço do Menino Jesus. A tradição até enfeitou a cena, colocando vaca e burro para aquecerem o recém-nascido, e não faltaram certamente palhas e capim. Se os pastores guardavam seus rebanhos de noite, e aqui podemos pensar em carneiros e ovelhas, também não nos é difícil imaginar o galo, cujo canto marca as vigílias da noite. Eles receberam de Anjos o anúncio da grande alegria, o nascimento do Salvador prometido. E desde aquela noite, Anjos, homens, mulheres e crianças continuam cantando “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens por ele amados”. Quando chegaram ao local, os pastores viram a cena de maior delicadeza que pode existir na humanidade, uma criança ao colo da mãe, o pai que cercava tudo de carinho e atenção. O primeiro presépio é de verdade! Nasceu Jesus, as profecias se cumpriram! Tudo perfeito, com a perfeição da simplicidade, porque Deus é simples!
 
O ambiente em que a Sagrada Família se ajeitou tinha apenas e tão somente o essencial, pois eles eram pobres, vindos de uma viagem cansativa, conduzidos por promessas vindas de Deus, mas apenas levados pela experiência da fé! Deus quis que seu Filho nascesse entre os pobres e os simples. Quando proclamou as bem-aventuranças e todo o Sermão da Montanha, pronunciou suas palavras indo contra a correnteza da mentalidade dominante. Mais tarde, o próprio Jesus afirmou não ter uma pedra para reclinar a cabeça. E pobres se achegaram a ele tantas vezes, e o pão se multiplicou, a Providência se fez presente. Ele chorou, encontrou-se com pecadores, publicanos e doentes de todo tipo. Não se afastou da miséria humana, mas foi-lhe ao encontro para lenir todas as chagas. Propôs a todos os que quisessem ser seus discípulos tomar a Cruz e ir atrás dele. Quando morreu, benfeitores lhe deram perfumes e uma sepultura, num jardim que fez relembrar aquele da criação do mundo e também o das oliveiras. O resultado foi a Ressurreição ao terceiro dia, e o mundo se fez novo!
Para entrar no presépio, depois seguir a Jesus, acolher sua palavra, é necessário ser pobres! Ninguém poderá fazê-lo se não se despojar! Isso quer dizer que os que possuem pouco ou muito não podem ir atrás de Jesus? Todos nós somos chamados ao despojamento e à liberdade diante dos bens. Podemos ser pobres e até miseráveis, podemos paradoxalmente até ser ricos assentados à beira da calçada e pedindo esmolas e brigando, ou ricos pobres que deixam que Deus venha redimir suas posses que descobriram a estrada da partilha e da comunhão fraterna. Depende de nós!
 
Entre nós, aqui na Arquidiocese de Belém, temos uma iniciativa chamada “Belém, Casa do Pão”, com a qual se experimenta a partilha dos bens, alimentos, roupas, brinquedos e daí por diante. Trata-se de uma verdadeira escola de comunhão e relacionamento, coordenada pela Cáritas Arquidiocesana, ajudando as Paróquias a distribuírem o que lhes chega como oferta e contribuindo para maior equidade na partilha. E esta é uma escola de pobreza, a pobreza evangélica que é vocação de todos. Aliás, cada cristão ou cristã deverá necessariamente encontrar o seu modo de abrir o coração e os bolsos ou a bolsa. O “Natal dos pobres” é de todos e para todos. E não é somente a doação de coisas materiais. Pobre é também aquele que sai de sua casa para visitar as pessoas que se sentem solitárias ou são efetivamente solitárias. Um tempo de Natal pode ser oportunidade para ir à casa dos outros, esvaziar-se do comodismo, telefonar, mandar uma mensagem às pessoas, libertar-se do egoísmo.
 
Uma das formas para exercitar a pobreza é a superação da auto suficiência, o convencimento de que alguém já tem tudo ou já sabe tudo. Abrir-se para receber ajuda dos outros, saber ir ao encontro de quem pode contribuir com sua vida, seja com conselhos, escuta, companhia, visitas.
 
Ainda é Natal dos pobres quando reconhecemos ser frágeis e pecadores, carentes de perdão e amor da parte de Deus. Há poucos dias, a Palavra proposta como caminho de conversão na Fazenda da Esperança, a partir da narrativa do nascimento de João Batista, dizia assim: “O que viráa ser este menino? (Lc 1,57-66) – O nome, para os judeus, tem muita importância. João significa “graça de Deus”, ou “favor de Deus” ou misericórdia de Deus”. A figura de João convida-nos também à conversão, a voltarmo-nos para o Senhor que vem para nos salvar e a deixarmo-nos salvar por ele. A voz de João, neste Advento, nos convida a ser vigilantes, a não viver adormecidos, paralisados, mas com os olhos fixos no futuro de Deus, e prontos para escutar e viver a Palavra de Deus. E a conclusão era assim: Preparar-nos para encontrar Jesus numa boa confissão. Reconhecer-se frágil e pecador é a maior experiência da pobreza, necessária para entrar no presépio e também seguir Jesus de verdade.Este menino somos nós, e é hora de reconhecer-nos pecadores.
 
Desejo voltar de novo a atenção para o presépio. As palhas da manjedoura me impressionaram neste Natal! Palhas, capim, alimento de animais, tudo me fala de cuidado, atenção e carinho. O atual Natal chega com um apelo à maior delicadeza com as pessoas, muitas vezes tratadas a ferro e fogo, julgadas, imediatamente acusadas, num mundo em que as pessoas parecem possuir apenas direitos, sem os deveres correspondentes. Superar preconceitos, esvaziar-se de palavras duras, ouvir mais, tudo isso é Natal dos Pobres. 
 
Assim, poderemos cantar com a Igreja: “Cristãos, vinde todos com alegres cantos, ó vinde, ó vinde até Belém. Vede nascido vosso Rei eterno. Ó vinde adoremos, ó vinde adoremos, ó vinde adoremos o Salvador! Humildes pastores deixam seu rebanho, e alegres acorrem ao Rei do Céu. Nós, igualmente, cheios de alegria, ó vinde adoremos… O Deus invisível, de eternal grandeza, sob véus de humildade podemos ver. Deus pequenino, Deus envolto em faixas… Nasceu em pobreza, repousando em palhas, o nosso afeto lhe vamos dar. Tanto amou-nos, quem não há de amá-lo?…”
 

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