“Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorar o Senhor” (Mt 2,2). Sábios de terras distantes viram a luz que brotava de seu interior, simbolizada pelo firmamento estudado, no qual identificaram uma estrela de curso diferente. Pode ser até que a luz vinda do Céu não signifique uma movimentação de corpos celestes, mas as inspirações suscitadas por Deus através de seus anjos, com as quais a humanidade busca a Deus e busca a verdade, sejam quais forem as latitudes nas quais as pessoas habitam! O fato é que homens vindos de terras distantes nos abrem os olhos para a luz que nasce do alto e ilumina a todos.
Ao começar um novo ano, acolhamos a proposta de transformá-lo num caminho pautado por indicações oferecidas pela Providência, de forma a nortear nossas escolhas cotidianas. Quando rezamos os mistérios gloriosos do Rosário, muitas pessoas acrescentam, ao enunciar o terceiro deles, a vinda do Espírito Santo, um propósito de ouvir sempre “aquela voz”, referindo-se à ação do mesmo Espírito, que atua em nossa consciência. A luz que vinha de dentro dos homens chegados do oriente a Belém, pede a todos nós o esforço para não abafar a voz da consciência! “A pessoa humana participa da luz e da força do Espírito divino. Pela razão, é capaz de compreender a ordem das coisas estabelecida pelo Criador. Pela vontade, é capaz de se orientar a si própria para o bem verdadeiro. E encontra a perfeição na busca e no amor da verdade e do bem. Em virtude da sua alma e das forças espirituais da inteligência e da vontade, o homem é dotado de liberdade, sinal privilegiado da imagem divina. Mediante a sua razão, o homem conhece a voz de Deus que o impele a fazer o bem e a evitar o mal. Todos devem seguir esta lei, que ressoa na consciência e se cumpre no amor de Deus e do próximo. O exercício da vida moral atesta a dignidade da pessoa” (Catecismo da Igreja Católica, 1704-1706). Um tempo de maior abertura à voz do Espírito pode ser programa para os próximos meses!
Tendo os olhos abertos para o interior, estes se abrem para a natureza, com seus ritmos e suas leis, uma lição permanente para a vida. Cuidar da casa comum tem sido apelo constante da Igreja, especialmente através do Papa Francisco, mas corresponde também à consciência ecológica crescente em nossos tempos. Basta observar quantos fenômenos da natureza, chamados desastres por alguns, são resultados da agressão feita a ela pelos seres humanos. A casa é de todos e Deus a criou vendo que tudo era muito bom, como consta do poema da criação (Gn 1,12). Este apelo pode suscitar um tempo de atenção carinhosa, que nos faça cuidar das plantas e dos animais, ou provoque nova sensibilidade, começando do lixo a ser destinado adequadamente, até chegar à harmonia de nossas casas e cidades.
O olhar para a natureza não é suficiente. Cabe-nos, com a inteligência com que Deus nos brindou, interpretar os acontecimentos segundo os valores de nossa consciência humana e à luz da fé. Os problemas sociais que nos cercam, como a violência e a pobreza, os desajustes e desigualdades sociais, tudo exige responsabilidade. Fazer a nossa parte, tomar iniciativas de bem comum, capacidade organizativa. Vale perguntar o que pode ser feito para manifestar o amor ao próximo, ou aderir a iniciativas positivas que o Espírito Santo suscita. Entre nós, na Arquidiocese de Belém, estamos para implantar cinquenta “oratórios”, segundo a proposta de São João Bosco, para que nossas Paróquias ofereçam alternativas de prevenção para crianças, adolescentes e jovens. Deus suscite adultos e jovens que se tornem monitores, a fim de que seja esta uma de nossas respostas aos grandes desafios sociais. E muito mais pode ser feito, pois o Espírito sopra onde quer!
A luz da fé há de suscitar, no ano que começa, o discernimento num campo tão desafiador quanto importante, que é a política. Sabemos o quanto de decepção está dentro dos fiéis e de tantas pessoas de nosso tempo. Conhecemos os limites dos partidos e grupos políticos. Entretanto, de nosso discernimento e lucidez, como povo brasileiro, dependerá o futuro de tantas pessoas. Sejam superados a ingenuidade diante de propostas falaciosas e irrealizáveis, assim como um espírito de revolta e de destruição. Será muito importante a maturidade diante do processo político em curso, no qual faltam candidatos e propostas confiáveis, num clima de descrédito dos que galgaram cargos públicos, numa crise sem precedentes dos vários poderes da nação.
Enfim, há um espaço a ser buscado durante este ano, e é a Comunidade que se reúne para celebrar a Eucaristia dominical. Queiramos acolher o convite a fazer dela o centro e um verdadeiro periscópio, capaz de abrir os horizontes de nossa visão das pessoas e do mundo! Na escuta da Palavra e no Altar da Eucaristia, encontremos as luzes para o caminho!
Homens e mulheres, jovens e adultos, crianças e adolescentes, ouçamos a voz do profeta, para caminhar seguros no ano novo: “De pé! Deixa-te iluminar! Chegou a tua luz! A glória do Senhor te ilumina. Sim, a escuridão cobre a terra, as trevas cobrem os povos, mas sobre ti brilha o Senhor, sobre ti aparece sua glória. As nações caminharão à tua luz, os reis, ao brilho do teu esplendor. Lança um olhar em volta e observa: todos estes foram reunidos para virem a ti, teus filhos vêm de longe, tuas filhas carregadas ao colo. Então verás, e teu rosto se iluminará, teu coração vai palpitar e arfar, pois estarão trazendo a ti os tesouros de além-mar, aí chegarão as riquezas das nações. Multidão de camelos te invade, dromedários de Madiã e de Efá, de Sabá trazem ouro e incenso, anunciando os louvores do Senhor” (Is 60,1-6). Na luz de Deus veremos a luz! (Cf. Sl 35,9)
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Conversa com meu povo: Olhos abertos
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