Deus nos criou para sermos felizes e santos. Ninguém foi feito para a mediocridade, mas para a perfeição. Num tempo em que as pessoas se acostumam com a maldade, o egoísmo e o pecado, até fazerem propaganda às excentricidades aberrantes que povoam inclusive os meios de comunicação, torna-se importante olhar ao nosso redor para identificar outras formas de vida, pontuadas pelo testemunho de fidelidade a Deus e à Igreja. São pessoas que disseram seu sim a Deus e são coerentes, tantas delas vindas de experiências bonitas deconversão (Cf. Mt 21,28-32), depois de terem percorrido inclusive a estrada do pecado. Acolhendo Jesus Cristo como Senhor, proclamam seu nome (Cf. Fl 2,1-11), para terem seus mesmos sentimentos, fazem a sua vontade e são pessoas felizes, transparentes, alegres.
E a história da Igreja está repleta de exemplos admiráveis de santidade! Estamos para celebrar, no dia 1º de outubro, Santa Teresinha, uma jovem de vinte e quatro anos, Carmelita, Doutora da Igreja, proclamada por São João Paulo II, pela profundidade de sua vida e doutrina! Aos quinze anos, mediante permissão especial do Papa Leão XIII, entrou para o Carmelo, onde percorreu a estrada da santidade e deixou o legado do caminho da infância espiritual, aliado a uma paixão missionária, vivida na oração intensa, dentro do próprio Carmelo.
Fazer bem, com simplicidade, as pequenas coisas! Passou por provações muito duras na convivência em sua Comunidade, assim como em sua saúde, com a tuberculose que a levou à morte, aos vinte e quatro anos. Descobriu que sua vocação na Igreja, atraída que fora pelos grandes santos da Igreja, seria “apenas” o amor! Quando está para morrer, no dia 30 de setembro de 1897, proclama com liberdade: “Eu não morro, entro na vida”. Suas últimas palavras foram “Meu Deus, eu te amo”. Sua festa é celebrada no mundo inteiro e continua a realizar seu compromisso – derramar sobre o mundo uma chuva de rosas – que são as graças que chegam pela sua oração, junto de Deus. Santa Teresinha é Padroeira das Missões, ao lado de São Francisco Xavier.
E aqui, em nosso país, uma vitrine se abre, apresentando homens e mulheres muito simples, do nordeste brasileiro! No próximo dia 15 de outubro, em Roma, o Papa Francisco canonizará os Protomártires do Brasil – Mártires de Cunhaú e Uruaçu. Padres André de Soveral e Ambrósio Francisco Ferro, o camponês Mateus Moreira, que teve o coração arrancado, mais vinte e sete companheiros leigos, vítimas de massacres ocorridos em julho e outubro de 1645 nos municípios de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, brutalmente assassinados por ódio à Igreja Católica.
O primeiro massacre aconteceu na Capela de Nossa Senhora das Candeias, no Engenho de Cunhaú, em Canguaretama. O segundo em Uruaçu, comunidade do município de São Gonçalo do Amarante. Tudo começou quando os holandeses tomaram a iniciativa de invadir o nordeste brasileiro para cobrar as dívidas dos portugueses que construíram engenhos com dinheiro emprestado pela Holanda. O massacre de Cunhaú, ocorrido no primeiro engenho construído em território potiguar, é considerado um dos mais trágicos da história do Brasil. Em 1645, o Estado do Rio Grande do Norte era dominado pelos holandeses. Jacob Rabbi, alemão a serviço do governo holandês, chegou ao engenho no dia 15 de julho daquele ano. No dia seguinte, como de costume, os fiéis se reuniram para celebrar a eucaristia e foram à missa na Igreja de Nossa Senhora das Candeias. O pároco, padre André de Soveral, começa a cerimônia. Depois do momento da elevação do Corpo e Sangue de Cristo, as portas da capela foram fechadas, dando-se início à violência ordenada por Jacob. O massacre de Uruaçu aconteceu no dia 3 de outubro de 1645, três meses depois do ocorrido em Cunhaú, também a mando de Jacob Rabbi. Neste segundo massacre as tropas usaram mais crueldade. Depois da elevação, fecharam as portas da igreja e os fiéis foram mortos ferozmente. As vítimas tiveram as línguas arrancadas para que não fossem proferidas orações católicas. Além disso, tiveram braços e pernas decepados. Crianças foram partidas ao meio e degoladas. O celebrante da missa, o padre Ambrósio Francisco Ferro, foi muito torturado. O camponês Mateus Moreira teve o coração arrancado. E, ainda vivo, exclamou: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
A Arquidiocese de Natal, através do Padre Matias Soares, ofereceu alguns elementos importantes para atualizar a mensagem do martírio para o nosso tempo. Mártir quer dizer testemunha, alguém que viveu a radicalidade da fé. Professaram a fé num único Salvador. Foram também profetas corajosos, fazendo da fé a sua vida. Por amor à verdade, deram sua vida e mostraram a novidade de um mundo feito de pessoas coerentes com suas convicções. Por causa do amor a Jesus Cristo, o testemunho do martírio faz ver que algo novo pode reluzir na história pessoal, na sociedade e na criação. Ainda mais: na proclamação de Mateus Moreira, “louvado seja o Santíssimo Sacramento”, e pelo fato de terem sido atingidos durante a Santa Missa, diante de seus algozes, os sacerdotes e demais fiéis, tanto em Cunhaú, como em Uruaçu, continuaram firmes na sua convicção da fé na Eucaristia, Mistério da nossa fé. Sua canonização trará para a Igreja no Brasil um renovado impulso na direção da fidelidade e radicalidade na vivência da fé.
Santos brasileiros, da nossa raça e de nosso povo, gente que viveu com simplicidade o seu batismo, apenas amando a Deus e ao próximo. Um apelo a uma mudança significativa nos rumos de nossa existência. Para isso, é importante aceitar o convite à santidade e à perfeição! “Significa exprimir a convicção de que, se o Batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial. Perguntar a um catecúmeno: ‘Queres receber o Batismo?’ significa ao mesmo tempo pedir-lhe: ‘Queres fazer-te santo?’ Significa colocar na sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: ‘Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste’” (Mt 5,48) (São João Paulo II – Novo Millenio ineunte, 31).
|