Conversa com meu povo: Três olhares

Foto: Luiz Estumano.
 
No dia quatro de março de mil setecentos e dezenove, o Papa Clemente XI, pela Bula “Copiosus in Misericordia”, criou a Diocese de Belém do Grão-Pará, desmembrada da então Diocese do Maranhão, a pedido de Dom João V de Portugal. No dia primeiro de maio de mil novecentos e seis, foi elevada a Arquidiocese e Sede Metropolitana, pela Bula “Sempiternum humani generis”, do Papa São Pio X, passando a denominar-se Arquidiocese de Belém do Pará. Da data de sua criação até hoje, teve treze Bispos e dez Arcebispos. A Arquidiocese já teve sete Bispos Auxiliares. Até a presente data, são noventa as Paróquias em nossa Igreja Particular. São três as áreas missionárias em implantação e ainda três Reitorias com atividades pastorais diversificadas. Podemos afirmar com segurança que até aqui o Senhor nos ajudou (Cf. 1 Sm 7,12), dando-nos mais do que ousamos pedir (Cf. Oração do dia do XXVIII Domingo do Tempo Comum). Ao celebrar a abertura de nosso jubileu de trezentos anos, três olhares iluminam nossa vida de Igreja.
 
Olhar para o nosso passado glorioso e marcado também pelo sofrimento, aprendendo as lições da história. A Diocese de Belém, hoje Arquidiocese, foi responsável pelo anúncio do Evangelho a toda a Amazônia, esta imensa e desafiadora riqueza de expressões culturais e religiosas, com as raças que vieram a compor a magnífica miscigenação que hoje se faz presente na Amazônia. Somos chamados a agradecer, reconhecendo os méritos das gerações que nos precederam, começando pelos missionários da primeira hora, para chegar à profusão de participantes na responsabilidade evangelizadora hoje existente, especialmente com a consciência crescente da presença laical nas atividades pastorais da Igreja. Agradecemos pelas gerações de sacerdotes dedicados, cujo trabalho, em condições tantas vezes limitadas, entregaram seu tempo e sua vida à Igreja e ao Evangelho de Cristo. Junto deles, um florescente corpo diaconal, com homens chamados especialmente ao serviço da caridade. E ainda tantos religiosos e religiosas e outras pessoas consagradas e dedicadas à Igreja.
 
Olhando para o passado, cabe-nos também reconhecer nossas falhas, já que os defeitos dos outros são também assumidos por nós. Deveríamos ampliar nossa presença de Igreja nos diversos ambientes, com atenção redobrada às raízes de nossos povos. Com toda certeza, muitas tradições e práticas ancestrais poderiam ter sido reconhecidas com mais decisão e tocadas com a força do Evangelho, que não diminui nem atrapalha qualquer cultura, antes eleva todas elas à sua máxima perfeição. Reconhecemos com humildade que a prática do serviço e da caridade, ainda que com tantos exemplos, obras e dedicação cujo testemunho foi dado, ficou aquém do que poderíamos ter feito! Pedimos perdão ao Senhor pela violência, a infidelidade, a conivência com as forças da opressão e da corrupção, que podem ter marcado a prática de vida dos cristãos. Sabemos ainda que muito sangue correu em nossa história. Pedimos perdão e ao mesmo tempo fazemos o gesto de oferta, sabendo que o verdadeiro martírio de tantos irmãos e irmãs se tornou semente de vida cristã em nossa Igreja. Enfim, o zelo missionário, ainda que reconhecidamente presente, não chegou à plena generosidade e dedicação que a causa do Evangelho pedia.
 
Olhar para o presente, enxergando o bem que é feito. A Igreja de Belém se constitui como um imenso caleidoscópio de cores e vivacidade, nas Pastorais existentes, Obras Sociais, Congregações Religiosas, Movimentos Eclesiais, Escolas Católicas, Comunidades de Vida e Aliança, Organizações diversificadas de atividades apostólicas. Um dos sinais significativos da atualidade da Arquidiocese é a Pastoral Vocacional e nossos Seminários. Temos o Seminário Maior São Pio X, o Seminário Maior Monsenhor Edmundo Igreja, o Seminário Maior Missionário Redemptoris Mater, o Seminário Propedêutico Dom Tadeu Prost e o Centro Vocacional São João Maria Vianney, além de um grande trabalho com o “Serviço de Animação Vocacional”. Estão ligadas à Arquidiocese, com seus respectivos Centros de formação e Formadores, as Comunidades “Obra de Maria”, “Sementes do Verbo”, “Doce Mãe de Deus” e “Mensageiros da Boa Nova”, para formar sacerdotes missionários. Nossa Faculdade Católica de Belém, atualmente com os cursos de Filosofia e Teologia, prepara-se para ampliar seus horizontes e hoje já conta com cerca de trezentos alunos.
 
O terceiro olhar é para o futuro. O ano jubilar que abrimos nestes dias terá como eixo a Missão. Sete Visitas Pastorais Missionárias, realizadas de março a agosto, envolverão os Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Vida Religiosa, Comunidades de Vida e Aliança e, mais ainda, os leigos e leigas de nossas Paróquias. Neste tempo, nosso horizonte deve se ampliar. A pergunta a ser feita é a respeito das áreas não atingidas pela nossa ação pastoral. Cada Paróquia deverá tornar-se mais apostólica, missionária e evangelizadora, após as Visitas Pastorais Missionárias!
 
A esta altura, queremos enxergar o futuro com a proposta de São Paulo VI, na Evangelii Nuntiandi (Cf. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, 21-22): A Boa Nova há de ser proclamada pelo testemunho. Suponhamos um cristão ou punhado de cristãos que, no seio da comunidade humana em que vivem, manifestam a sua capacidade de compreensão e de acolhimento, a sua comunhão de vida e de destino com os demais, a sua solidariedade nos esforços de todos para tudo aquilo que é nobre e bom. Assim, eles irradiam, de um modo absolutamente simples e espontâneo, a sua fé em valores que estão para além dos valores correntes, e a sua esperança em qualquer coisa que se não vê e que não se seria capaz sequer de imaginar. Eles fazem aflorar no coração daqueles que os veem viver perguntas indeclináveis: Por que é que eles são assim? Por que é que eles vivem daquela maneira? O que é, ou quem é, que os inspira? Por que é que eles estão conosco? Semelhante testemunho constitui já proclamação silenciosa, mas muito valiosa e eficaz da Boa Nova. Nisso há já um gesto inicial de evangelização. Todos os cristãos são chamados a dar este testemunho e podem ser, sob este aspecto, verdadeiros evangelizadores. Entretanto, isto permanecerá sempre insuficiente, pois ainda o mais belo testemunho virá a demonstrar-se impotente com o andar do tempo, se ele não vier a ser esclarecido, justificado, aquilo que São Pedro chamava dar “a razão da própria esperança”, explicitado por um anúncio claro e inelutável do Senhor Jesus. Por conseguinte, a Boa Nova proclamada pelo testemunho da vida deverá, mais tarde ou mais cedo, ser proclamada pela palavra da vida. Não haverá nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados”. Este é o nosso compromisso! Seja este o nosso presente e nosso futuro.

 

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